"Nas obras que ganhamos sempre houve propina", diz Ricardo Pessoa
Dono UTC Engenharia presta depoimento ao juiz federal Sérgio Moro
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O juiz da Lava Jat perguntou se havia dificuldades com os contratos se não houvesse pagamento de propinas. "Na verdade isso era automático, passou a ser um fato levando a outro. Não se discutia mais se tinha que pagar ou não. Discutia-se quanto ia pagar", respondeu o empreiteiro.
Ao ser questionado pelo juiz se havia se negado a pagar propina alguma vez, Pessoa disse não se lembrar de nenhum. Ele apontou, por exemplo, o contrato da Repar (Refinaria Getúlio Vargas do Paraná).
"Um caso mais claro é o da Repar. Ficamos encarregados de pagar a Diretoria de Abastecimento e a Odebrecht ficou encarregada de resolver o problema da Diretoria de Serviços. Como um depois não falava com o outro eu não tenho como afirmar se alguém pagou. Nós pagamos o que nós combinamos de pagar. Foi tratado entre a UTC e a Odebrecht e a OAS também."
Ao falar de propinas no âmbito do Consórcio TUC no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o empreiteiro foi taxativo. "É uma história um pouco mais longa, mas também houve pagamento de propina. Nesse caso ficamos encarregados de pagar a Diretoria de Serviços (comandada por Renato Duque, elo do PT na Petrobras), o sr. João Vaccari e ao (Pedro) Barusco. Fizemos esses pagamentos, consta do meu termo de colaboração. (Nesse caso) não ficamos com a Diretoria de Abastecimento, não ficou a nosso cargo, ficou a cargo do Márcio (Faria, executivo da Odebrecht) resolver o que fazer."
O juiz Sérgio Moro indagou do empreiteiro. "Essa negociação de pagamento de propinas era pactuada entre todos os participantes?" "Sim, mesmo porque o custo era do consórcio", respondeu Ricardo Pessoa.
O juiz da Lava Jato quis saber com quem da Odebrecht o empreiteiro tratou sobre propinas. "Tratou com algum executivo da Odebrecht nesse contrato (Consórcio TUC no Comperj)?" "Com Márcio Faria." "Com nenhum outro?", insistiu o juiz.
"Não." "Minhas tratativas eram com Márcio Faria", declarou o empreiteiro delator.
"Márcio Faria tinha autonomia ou se reportava a algum superior?", questionou o juiz da Lava Jato.
"Sempre teve autonomia", respondeu Ricardo Pessoa.
O juiz quis saber se alguma vez Márcio Faria mencionou necessidade de tratar da propina com algum superior. "Não", disse o empreiteiro.
O juiz perguntou se ele conhece o presidente da Odebrecht. "Conheço, estive com ele duas vezes, não tratei com ele esses assuntos, absolutamente." Desde o início das investigações, a Odebrecht tem reiterado taxativamente que não participou do esquema de propinas na Petrobras. Agora, a empreiteira tem alegado que só se manifesta nos autos do processo.