OMS busca formas de prosseguir com investigação sobre origens da Covid-19

OMS busca formas de prosseguir com investigação sobre origens da Covid-19

Determinar como o vírus, que matou mais de três milhões de pessoas, é fundamental para tentar prevenir a próxima pandemia

AFP

Agência disse que pelo menos oito países são afetados na Europa

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) busca uma maneira de continuar a investigar as origens da pandemia de Covid-19 após uma missão inicial que levantou mais perguntas do que respostas. Um difícil exercício de equilíbrio diplomático. Determinar como o vírus, que matou mais de três milhões de pessoas em todo o mundo, passou para os humanos é considerado crucial na tentativa de prevenir a próxima pandemia.

As conclusões de uma equipe de cientistas da OMS e seus colegas chineses, que conduziram a investigação na China, não forneceram uma resposta definitiva e requerem mais pesquisas. Mas se a OMS e grande parte da comunidade internacional concordam que a investigação deve continuar, um confronto é travado nos bastidores não apenas sobre o que estudar, mas também onde.

Demorou mais de um ano desde a detecção dos primeiros casos em Wuhan - uma metrópole no centro da China - em dezembro de 2019 para que investigadores internacionais pudessem viajar até a cidade. Pequim quer evitar a todo custo ser responsabilizado pela pandemia e as autoridades hoje parecem fazer de tudo para garantir que a investigação continue em outros lugares, que não a China.

Uma posição resumida no final de março por um porta-voz do ministério das Relações Exteriores chinês: "Esperamos que outros países de interesse cooperem estreitamente com os especialistas da OMS, de forma científica, aberta, transparente e responsável, como a China fez".

"Absurdo"

Um comportamento que está longe de ser universalmente compartilhado. "No mínimo, há unanimidade sobre o fato de que a segunda fase (da investigação) deve ocorrer na China", ressaltou um diplomata ocidental, que pediu anonimato, em Genebra, estimando que é o Pequim único a exigir que a investigação passe a outro lugar.

"A ideia de que o próximo passo não deve se concentrar na China é absurda", afirma Jamie Metzl, especialista americano em geopolítica. Metzl faz parte de um grupo de cientistas que denunciou em uma carta aberta uma investigação sobre as origens que consideram profundamente tendenciosas.

"O papel desproporcional que o governo chinês desempenhou neste processo é problemático", enfatizou o diplomata ocidental.

O relatório dos especialistas publicado em março, após vários adiamentos, estabeleceu uma lista de hipóteses e concluiu que a mais provável era a transmissão do novo coronavírus de um morcego para um animal intermediário - que ainda não é conhecido - antes de se adaptar aos humanos e desencadear a crise de saúde global.

Os especialistas recomendam seguir investigando essa hipótese principal, mas também vários outros cenários. Segundo eles, apenas um não merece maior atenção, a que aponta que o vírus escapou de um laboratório em Wuhan.

Essa posição causou alvoroço, principalmente nos Estados Unidos, e a OMS foi obrigada a dizer que todas as hipóteses permaneciam em cima da mesa, inclusive a do laboratório, que segundo o chefe da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, não havia sido suficientemente estudada.

"Desacreditar a China"

"Os chineses conseguiram com brilhantismo e sutileza fazer crer que essa missão de estudo consistia em buscar as origens zoonóticas" da pandemia, ou seja, a transmissão do animal para o homem, afirma Metzl. Bem, "ainda que esta seja uma hipótese muito possível, se você começa partindo da ideia de uma origem zoonótica do vírus, começa com a conclusão", acusa.

Em contrapartida, o ministério das Relações Exteriores chinês acusou Metzl e os demais signatários da carta aberta de buscar "pressionar a missão e a OMS" e alegou que foram os Estados Unidos e outros países que politizaram a missão para "desacreditar a China".

Por enquanto, as coisas parecem ter estagnado. Uma equipe da OMS está revisando as recomendações "e fará propostas para os próximos estudos a serem realizados", disse um porta-voz da organização em Genebra, sem dar um cronograma.

O assunto certamente voltará à tona na Assembleia Mundial da Saúde, órgão supremo de decisão da OMS, que acontecerá em maio.


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