Planalto pode apoiar eleição de Alckmin, afirma Marun

Planalto pode apoiar eleição de Alckmin, afirma Marun

Segundo deputado, defesa da reforma pelo governador de São Paulo permite canal de reaproximação

AE

Segundo deputado, defesa da reforma pelo governador de São Paulo permite canal de reaproximação

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Deputado de primeiro mandato, alçado ao cargo de ministro da Secretaria de Governo desde dezembro, Carlos Marun é conhecido como um dos homens da tropa de choque do presidente Michel Temer. Assim que assumiu a função, se indispôs com governadores ao vincular liberação de empréstimos aos Estados à votação da reforma da Previdência.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ministro reafirmou a prioridade do governo de aprovar a mudança no regime de aposentadorias e disse que o Planalto só vai começar discutir nomes para a eleição presidencial após a proposta passar no Congresso. Não descartou, porém, que o PMDB apoie uma eventual candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

Segundo Marun, apesar da mágoa em relação à postura do tucano durante a tramitação das duas denúncias contra Temer, a defesa que Alckmin tem feito da reforma permite a abertura de um canal de reaproximação entre o governo e o PSDB.

Temer disputará a reeleição?

Acredito que o projeto que o governo defende e já executou deve ter um candidato.

O PMDB tem outros nomes para lançar à Presidência?

Nomes nós temos e acredito que o PMDB vai colocá-los após a conclusão da reforma da Previdência. Não um nome inarredável, do tipo, "nós não vamos sair, faça chuva ou faça sol". Eu até ia instalar uma placa
aqui: "Nesta sala, a sucessão presidencial só entra depois da Previdência". Penso que a reforma será um fator determinante para as possibilidades de sucesso desse que venha a ser o candidato.

Há dificuldade de apoiar outro nome da base, como o do governador Geraldo Alckmin (PSDB)?

As dificuldades já foram maiores. A posição que o governador está tomando em relação à reforma da Previdência tem como consequência uma retomada de aproximação.

Há brecha para reaproximação?

Há, (a posição de Alckmin) deixa clara a existência desse espaço. Nunca houve um completo afastamento, mas, eu, Carlos Marun, fui um dos que se sentiram magoados com a pouca participação do governador
no processo de combate às denúncias (contra Temer).
No entanto, vejo agora essa posição firme em defesa da reforma como um fator que abre espaço para a reaproximação, e, sem dúvida, ele é uma das candidaturas que podem representar esse projeto do
governo.

O que o sr. acha da eventual candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ)?

Eu não gostaria de colocar nomes, mas há alguns que estão aí. Alckmin, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia. Eu nunca ouvi do Maia que quer ser candidato, mas existe um grupo que
defende a candidatura.

Não ficou rusga em relação a como o presidente da Câmara se posicionou nas denúncias?

Não, pelo contrário. Nós temos o reconhecimento do papel digno naqueles processos.

O governo tem votos para aprovar a reforma da Previdência?

Temos um ambiente muito mais favorável. Saindo de um restaurante, tinha uma mesa de jovens, e eles me disseram: "Ministro, vamos aprovar a reforma da Previdência". Saindo do hotel, um hóspede disse: "Ministro, vamos aprovar a reforma". Se isso está acontecendo comigo, deve estar acontecendo com os parlamentares. Isso é muito importante, por que, o que leva alguém que não é oposição, da base, a votar contra a reforma? É o medo, de que um voto favorável à reforma possa trazer impacto eleitoral negativo. É justo.

Havia desconfiança de que o governo poderia pôr um fim nas investigações da Lava Jato. A operação está chegando ao fim?

O caminho da Lava Jato é continuar, mas dentro da estrita legalidade.

O sr. acredita que o ex-presidente Lula, que será julgado na segunda instância neste mês, vai concorrer à Presidência?

O que diz a Lei da Ficha Limpa? Condenado em segunda instância é inelegível. É isso. Essa é a minha visão sobre esse processo. Agora, se o Lula deve ser condenado ou não, isso não opino.

O sr. já falou da perseguição da Lava Jato ao Temer. Não seria o mesmo caso com Lula?

Eu não falei da Lava Jato. Falei do senhor Janot (Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República). Isso eu falo e repito. A minha única contrariedade com a equipe de Curitiba é o exibicionismo de alguns procuradores. Isso é hoje um problema para a Lava Jato, o fato de que algumas pessoas se julgam superstars, não se julgam mais procuradores. Os maiores problemas para a Lava Jato hoje estão dentro da Lava Jato. O (juiz Sérgio) Moro ainda luta para manter uma linha. Facebook não é lugar para ficar dando despacho, essa é a verdade.

O sr. também foi um grande defensor do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso hoje em Curitiba.

O Eduardo Cunha eu defendi pelo processo, porque nós necessitávamos de alguém que fizesse uma defesa razoável, para que ele permanecesse como presidente (da Câmara) até o dia do impeachment (de Dilma Rousseff). Naquele momento todos concordaram. Mas eu nunca fui amigo do Cunha. Depois visitei-o, publicamente, não escondi. Ninguém precisou descobrir. Não acharam foto minha conversando com o Cunha de óculos escuros, atrás de uma pilha da caixa de cerveja (Janot se encontrou num sábado com o advogado que defende o empresário Joesley Batista em um bar em Brasília e teve uma foto divulgada).

O sr. teve que devolver a verba de gabinete, que usou para pagar a viagem até Curitiba...

Eu me apressei em devolver, deveria ter debatido se a minha visita tinha sido pública ou não. Aquela devolução não me causou muito conforto, deveria ter feito doação a alguma instituição, mas resolvi devolver. Nunca mais falei com ele nem com ninguém ligado a ele. Por que não o visitei nesse Natal? Porque sou ministro. Como aquela vez dei munição para a hipocrisia dos meus adversários, agora daria munição para a hipocrisia dos adversários do governo. Esse direito eu não tenho.

Se fosse deputado, iria de novo?

Se fosse deputado, é possível. Não sei. Se eu estivesse passando por Curitiba... Não fiz essa avaliação. Fiz a avaliação em cima das circunstâncias, agora sou ministro. Se eu for, vão criticar a mim ou ao
governo? Vão criticar o governo, então agi como ministro.

E como está a saúde do presidente?

A saúde dele é boa. Mas os procedimentos exigiriam cuidados que ele não teve. Acredito que agora se conscientizou.

Ele terá que passar por alguma nova intervenção e se afastar do governo?

Não conversamos sobre isso. Não está no horizonte nenhum afastamento mais prolongado.

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