Procuradoria diz que legalização dos jogos de azar atende "anseio de criminosos"

Procuradoria diz que legalização dos jogos de azar atende "anseio de criminosos"

Para subprocurador-geral Carlos Vilhena, projeto não cria mecanismos de controle efetivo da lavagem de dinheiro

AE

Para subprocurador-geral Carlos Vilhena, projeto não cria mecanismos de controle efetivo da lavagem de dinheiro

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O Ministério Público Federal é contra a legalização dos jogos de azar no Brasil. A manifestação foi apresentada em nota técnica da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), que reiterou sua contrariedade ao projeto de regulamentação dos jogos (PLS 186/2014), em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Segundo o estudo, a proposta 'não prevê mecanismos eficientes de fiscalização e ainda facilitaria o uso da atividade para a lavagem de dinheiro e a prática de outros crimes'.

A nota técnica é assinada pelo secretário de Relações Institucionais do MPF, subprocurador-geral da República Carlos Alberto Vilhena. Para Vilhena, o projeto de lei do senador Ciro Nogueira (PP/PI) 'não cria mecanismos de controle efetivo da lavagem de dinheiro e da sonegação fiscal'. "Ao contrário, cria novos e poderosos mecanismos para a lavagem de dinheiro", afirma o subprocurador. "Por ser umbilicalmente ligada a várias práticas ilícitas, a exploração de jogos com o aval do Poder Público vai ao encontro dos anseios dos criminosos.

Para Vilhena, os argumentos de que a regulamentação dos jogos vai possibilitar a criação de novos empregos e de receitas tributárias estimadas em R$ 15 bilhões "são absolutamente fictícios, assim como comparar o Brasil com o Chile e o Uruguai, onde os jogos são legalizados, sem considerar as diferentes realidades desses países". O Ministério Público Federal questiona também a alteração da nomenclatura jogos de azar para "jogos de fortuna" - proposta pelo relator da matéria na CCJ, senador Benedito de Lira (PP/AL). 

Segundo a nota, os próprios órgãos que ficariam incumbidos do controle dos jogos de azar "manifestaram publicamente a absoluta impossibilidade de fiscalizar essas atividades, como prevê o texto do Senado". Durante discussão sobre projeto semelhante em 2007, autoridades do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), da Receita e do Ministério da Fazenda concluíram que o Brasil "não está estruturalmente e tecnicamente preparado para reduzir os riscos da atividade, tampouco realizar o efetivo controle sobre ela", assinala a Procuradoria.

"Verifica-se que a enorme quantidade de bingos e cassinos cuja abertura é estimulada pelo PLS 186/2014 está em evidente descompasso com a realidade dos órgãos nacionais de controle, ainda que estes fossem dotados de estrutura de fiscalização de primeiro mundo", alerta a nota técnica da Secretaria de Relações Institucionais. Para o Ministério Público Federal, "mesmo sendo legalizada a atividade, o poder da corrupção e da clandestinidade não vai desaparecer".
"Ainda que contemplasse mecanismos formalmente eficazes de controle, o 'estado paralelo', que monopoliza o jogo clandestino, não se curvará aos comandos da lei", ressalta a nota.

"Nesse contexto, não importa quem será o dono formal do estabelecimento, pois, quem o comandará será o contraventor que detém o domínio territorial." "Há que se considerar ainda os prejuízos sociais e na saúde daqueles que são viciados em jogo." Segundo a nota técnica, não cabe apenas a utilização de argumentos de que traria benefícios financeiros, como aumento de arrecadação de impostos ou o fomento do turismo, "mas é necessário avaliar dados quantitativos e sociais, prejuízos econômicos e psíquicos". "Sendo assim, os valores arrecadados pelo poder público não compensariam os gastos com o tratamento de viciados patológicos e os efeitos nefastos sobre as famílias arruinadas pelas dívidas de jogo", diz.

Inversão

No entendimento do Ministério Público Federal, há inversão de prioridades na proposta. Segundo a Procuradoria, "está em andamento uma comunhão de esforços por parte dos órgãos de repressão penal para desarticular as organizações criminosas voltadas para o jogo ilegal". "Neste cenário, a legalização só atende aos interesses dos contraventores."

O Ministério Público Federal conclui que "os argumentos trazidos pelo autor do projeto e pelo autor do substitutivo não nos permitem concluir que a legalização dos jogos de azar é a melhor saída para a sociedade". Na nota técnica a Secretaria de Relações Institucionais do Ministério Público Federal reafirma "os graves riscos à sociedade e o posicionamento da instituição contrário à aprovação do projeto de lei". 

A reportagem fez contato com o gabinete do senador Ciro Nogueira, mas não obteve retorno. Também tentou contato com o celular do senador Benedito de Lira.

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