Política

Reunião e indiciamento agitam bastidores da disputa pelo governo do RS

Movimentos deixam articulações expostas e fazem com que MDB e PDT intensifiquem defesa de seus candidatos ao Piratini em 2026

Reunião e indiciamento agitam bastidores da disputa pelo governo do RS
Reunião e indiciamento agitam bastidores da disputa pelo governo do RS Foto : João Pedro Rodrigues/Secom/CP

A um ano das eleições gerais de 2026, dois fatos ocorridos nos últimos dias vão gerar desdobramentos nas próximas semanas e deixaram claro o quanto está adiantada a campanha das chapas majoritárias no RS. A agitação ocorre mesmo que, no momento, os candidatos sequer estejam oficializados, expondo a articulação de bastidores que hoje toma conta das principais siglas e do entorno de postulantes ao governo do Estado e ao Senado.

O primeiro movimento aberto partiu do governador Eduardo Leite (PSD). No dia 15, ele chamou uma reunião com lideranças da base. Nela, sob a justificativa de manutenção da unidade da atual aliança, anunciou que pode não disputar as próximas eleições, permanecendo no cargo até o fim do mandato, e declarou que o nome do candidato da coalizão governista ao Piratini deve ser discutido, e definido mais para a frente. Hoje há, entre as siglas da base, pelo menos cinco nomes que se dizem aptos para a corrida.

A iniciativa foi considerada dentro do MDB, partido do vice-governador Gabriel Souza, como um “golpe duplo”. Porque Gabriel era apontado desde 2022 como sucessor natural de Leite. Porque já foi definido como o escolhido de seu partido. Porque o MDB considera fundamental que Leite saia do cargo para que o vice, que em diferentes sondagens aparece na quarta colocação para o Piratini, se fortaleça. E porque, conforme integrantes do MDB, do PP, do PDT, do Republicanos e do PSDB, dentro do governo todos sabem que a atual coalizão já enfrenta baixas irreversíveis, que a permanência de Leite não vai mudar.

O segundo acontecimento a agitar o cenário eleitoral gaúcho se deu exatamente uma semana depois do encontro. Foi no dia 22, quando veio a público o indiciamento pela Polícia Civil da ex-deputada estadual Juliana Brizola. As investigações apuram uma suposta apropriação, por parte de Juliana, de recursos da avó, e ocorrem em um contexto de desavenças e disputas familiares.

Juliana nega qualquer irregularidade, não tem mandato e o caso não envolve recursos públicos. Mas ela é a pré-candidata do PDT, uma das siglas da base de Leite, ao governo do Estado, e oscila entre o primeiro e o segundo lugares em pesquisas. Até o indiciamento, a avaliação da direção pedetista era a de que, se Juliana se mantivesse com índices acima de 15% até março, os apoios iam chegar. Se caísse, a opção seria concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados.

Este entendimento ficou claro na reunião da base. Na contramão dos anseios emedebistas, quando o governador afirmou que poderia não concorrer, o presidente estadual do PDT, Romildo Bolzan Júnior, elogiou a posição. E emendou que o voto do PDT não vem do voto do governador, mas sim do ‘vácuo político’ que sua sucessão gera “fora dos polos”.

Bolzan nunca escondeu a análise de que Juliana enfrenta dificuldades para se consolidar. Mas, aos atuais parceiros no consórcio governista, também deixou claro o entendimento de que a construção de uma terceira via vai bem além da conjuntura do governo, projetando a atração de outros aliados.

Tanto pedetistas quanto emedebistas admitem que, ao tentarem se firmar como uma “alternativa aos polos”, Juliana e Gabriel acabam se tornando concorrentes diretos na busca pelo mesmo eleitorado de centro. A diferença, explicam, é que o vice avança pela centro-direita e a ex-deputada pela centro-esquerda.

Por isso, quando vazaram as informações sobre o indiciamento, na fase ainda sob o controle da Polícia Civil, o partido considerou componentes políticos. Internamente, pedetistas passaram a desconfiar de movimentos de partidários de Gabriel. Emedebistas ironizaram as insinuações e avaliaram que Juliana vai desidratar. A ex-deputada, por sua vez, montou uma estratégia de defesa via redes sociais, baseada em quatro pilares: o reforço de seus laços com a avó, questões de gênero, reafirmação da herança brizolista e a repetição de que a exposição tem motivações políticas.

Entre todos os atores, dentro e fora da coalizão governista, a expectativa é de que novos movimentos vão se precipitar ainda em novembro.