Três deputados querem presidir o PT gaúcho

Três deputados querem presidir o PT gaúcho

Seis candidatos devem pleitear o comando do partido no Estado, evidenciando acirramento de posições e importância que direção terá nas costuras das eleições de 2026

Flavia Bemfica
Três deputados querem presidir o PT gaúcho

Três deputados querem presidir o PT gaúcho

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Começou para valer no Estado a corrida para decidir quem estará à frente do PT durante as articulações e a campanha eleitoral de 2026. Nesta quarta-feira, com intervalo de poucas horas, registrarão suas candidaturas à presidência do diretório gaúcho da legenda os deputados estaduais Valdeci Oliveira, Sofia Cavedon e Stela Farias. Além dos três parlamentares, também pleiteiam o posto Júlio Quadros, Marcelo Carlini e Thiago Braga.

A profusão de candidatos e a importância que vem sendo atribuída à disputa dentro do partido, duas situações que lembram mais as primeiras décadas do PT do que os últimos anos, acontecem não só no RS, mas também nacionalmente e em outros estados, e têm uma explicação. O PT vai trocar em julho diretórios, executivas e presidências municipais, estaduais e nacional. E caberá aos novos comandos levar a cabo a estratégia traçada pelo partido para alcançar seus três principais objetivos em 2026: reeleger Lula presidente, conquistar o maior número possível de cadeiras no Senado e aumentar a bancada na Câmara dos Deputados. No caso das duas casas legislativas, se não forem candidatos do próprio partido, que sejam aliados fiéis, alterando a situação atual.

A meta petista é transparente: impedir o avanço da direita e garantir a Lula, em um eventual quarto mandato, um Congresso mais alinhado, na qual sejam menores as dificuldades para aprovar as pautas consideradas chave pelo governo. No RS, ficará a cargo do novo comando estadual, entre outros pontos, a articulação de uma candidatura que se mostre competitiva para o governo do Estado e, mais do que isso, a apresentação de pelo menos um nome forte para a corrida pelas duas vagas ao Senado.

O PT tem como pré-candidato ao governo do RS o atual presidente da Conab, Edegar Pretto, e ainda não desistiu de trabalhar pela possibilidade de que a ex-deputada Juliana Brizola aceite a vaga de vice. O sonho, contudo, parece cada vez mais distante. Seja devido ao fato de o PDT ter anunciado sua saída da base de Lula após a queda do ex-ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, seja porque o PDT gaúcho hoje é um partido dividido. Há os que idealizam lançar Juliana candidata ao Piratini, os que trabalham para que ela dispute uma vaga na Câmara dos Deputados e os que pretendem renovar a aliança com o atual governo, apoiando em 2026 a chapa liderada pelo MDB.

Para o Senado, o preferido do partido até janeiro era o deputado federal Paulo Pimenta. Sua saída do ministério, contudo, fez o jogo voltar à estaca zero. Pimenta receia se lançar ao Senado e ficar sem mandato. Recentemente, seu grupo ventilou a possibilidade de que pleiteie o governo. O PT se movimenta para que a ex-deputada Manuela D’Ávila concorra a uma das vagas, independente de ela, que deixou o PCdoB no ano passado, se filiar ao próprio PT ou ao PSol. O encaminhamento de uma coligação com o PSol é outra prioridade no PT gaúcho, mas lideranças do primeiro advertem que a negociação, além de não ser automática, precisa contemplar adequadamente a todos os envolvidos.

Competição acirrada

Por enquanto, na carreira para a presidência do diretório gaúcho, o deputado estadual Valdeci Oliveira foi quem ‘largou na frente’ em termos de apoios de tendências internas com maior representação no diretório atual. Além do próprio grupo, a corrente Socialismo em Construção, que hoje comanda o partido no Estado, respaldam sua candidatura as correntes Avante PT, da deputada federal Maria do Rosário, e Construindo um Novo Brasil (CNB), da deputada federal Denise Pessôa. Ele também recebeu o apoio de Edegar e de seu irmão, o deputado estadual Adão Pretto. Ambos integravam a corrente Articulação de Esquerda, mas agora se colocam como independentes. A deputada Stela Farias divulgou como apoiador o ex-governador Tarso Genro.

As eleições vão acontecer no dia 6 de julho. Todos os filiados até 28 de fevereiro deste ano poderão votar. Elegem-se presidentes aqueles que conseguirem obter, nesse dia, 50% dos votos mais um. Nos casos em que isso não ocorrer, a eleição vai para segundo turno, a ser realizado em 20 de julho. No RS, os apoiadores de Valdeci trabalham para tentar liquidar o pleito no primeiro turno. Nas trincheiras opostas, adversários mantêm tratativas para levar a disputa ao segundo turno e, assim, buscar uma virada. O fato de não acontecerem eleições internas desde 2019 também ajudou a acirrar a competição, que é marcada por muitas dúvidas a respeito de como deverão se comportar os filiados.

As correntes que dominam o partido no Estado

O PT é historicamente dividido em vários grupos ou tendências internas, que se autodenominam correntes. Elas possuem visões diferentes sobre modelos de desenvolvimento, estabelecimento de alianças e políticas sociais e econômicas mais à esquerda ou ao centro. Veja quais são as maiores atualmente em termos de representação no diretório da legenda no RS.

Socialismo em Construção (SoCo): 27%

Corrente do deputado estadual Valdeci Oliveira, de sua colega e atual presidente do diretório em Porto Alegre, Laura Sito, do prefeito de Bagé, Luiz Fernando Mainardi, e do deputado federal Paulo Pimenta.

Articulação de Esquerda: 22%

Corrente do candidato Júlio Quadros, que já presidiu o partido nos anos 90. Entre suas lideranças no Estado figura o deputado federal Dionilso Marcon.

Democracia Socialista (DS): 18%

Corrente da candidata e deputada estadual Sofia Cavedon. É majoritária na bancada estadual. A ela pertencem também o presidente da Assembleia Legislativa, Pepe Vargas, os colegas Miguel Rossetto e Jeferson Fernandes, e o deputado federal Elvino Bohn Gass.

Avante PT: 17%

Corrente da deputada federal Maria do Rosário e do estadual Leonel Radde. Fechou apoio para Valdeci Oliveira.

Construindo Um Novo Brasil (CNB): 9%

Corrente da deputada federal Denise Pessôa, tem uma fatia pequena do diretório no RS, mas é predominante no diretório nacional, onde detém mais de 50%, sendo o grupo do presidente Lula, do presidente interino do PT nacional, o senador Humberto Costa (PE), e da ex-presidente da sigla e ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.

Resistência Socialista: 7%

Corrente da candidata e deputada estadual Stela Farias. É a tendência a qual pertencem também o deputado federal Alexandre Lindenmeyer, o estadual Zé Nunes e o secretário geral do PT nacional, o ex-deputado federal Henrique Fontana. Era a corrente do deputado estadual Halley Lino, que agora está independente e se aproximou de lideranças da SoCo.

*Os candidatos Thiago Braga e Marcelo Carlini integram correntes minoritárias dentro do partido no Estado. O primeiro é da Movimento PT e o segundo é representante da O Trabalho.


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