TSE avança em projeto que prevê "desmonetizar" canais de fake news

TSE avança em projeto que prevê "desmonetizar" canais de fake news

Medida ocorre em inquérito para apurar crimes eleitorais

AE

Medidas visam combater crimes eleitorais

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O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Luis Felipe Salomão, reuniu representantes das principais empresas responsáveis por redes sociais no País para tratar da possibilidade de regular a suspensão de pagamentos feitos pelas plataformas a produtores de conteúdos falsos.

O objetivo do encontro com YouTube, Twitch.TV, Twitter, Instagram e Facebook foi aprofundar temas já discutidos em evento realizado em agosto, quando foi debatida a decisão do corregedor de suspender repasses das plataformas a canais propagadores de desinformação. A medida ocorreu no inquérito aberto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para apurar indícios de crimes eleitorais do presidente Jair Bolsonaro.

A partir dessas conversas, a Corte estuda editar um ato normativo, ou resolução, que permita regular quais perfis e canais devem receber recursos das rede. Outra opção em discussão é estimular que as plataformas criem mecanismos próprios de regulação para "secar" o faturamento de grupos que disseminam fake news nas redes. Com informações apresentados pelas plataformas, a Polícia Federal vai elaborar um relatório dos dados financeiros de perfis propagadores de notícias falsas sob a mira do TSE.

Em conversa reservada com o Estadão, um ministro do TSE afirmou que a aproximação da Corte com as redes sociais visa estudar meios de fixar novas regras sem que a proposta de regulação seja impositiva, ou "de cima para baixo". O intuito, segundo ele, é chegar a um consenso sobre formas de evitar que notícias falsas interfiram nas eleições de 2022.

A pauta da reunião de Salomão com as plataformas já é objeto de discussão entre outros ministros do TSE, que têm pensado em formas ainda mais amplas de regular a atividade das redes sociais, especialmente a questão dos pagamentos a provedores de conteúdos, também conhecidos como "monetização" dos canais e perfis.

Em entrevista à Associação Brasileira de Imprensa na quarta-feira passada, o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, disse que as plataformas devem adotar "autorregulação mínima para excluir ódio, incitação à violência e comportamentos anticientíficos".

Competência

Para a coordenadora de pesquisas sobre moderação de conteúdo online da FGV-Direito (Rio), Yasmin Cuzi, a iniciativa do TSE "é uma tentativa de dirimir potenciais ataques às eleições". "Faz sentido a Justiça Eleitoral apontar que canais devem ser desmonetizados, está dentro da competência deles, desde que esses canais já sejam alvo de investigação, seguindo todos os procedimentos judiciais."

A advogada Iara Peixoto alertou, no entanto, que a tentativa do TSE de promover bloqueios de conteúdos levanta discussões sobre liberdade de expressão. "Tendo em vista que as redes monetizam as pessoas que conseguem mais engajamento, elas acabam estimulando a monetização de conteúdos mais polêmicos. Isso cria a necessidade de regular esse comportamento, porém, isso vai esbarrar na liberdade de expressão."

"Nós não temos previsão legal ou constitucional de desmonetização de canais. O esgotamento da atividade financeira de qualquer ação coordenada de fake news é maravilhoso, o difícil é como fazer isso sem esbarrar em tantos outros problemas", observou o professor de direito eleitoral e digital do Mackenzie Diogo Rais.


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