Vereadoras do RS relatam violências sofridas na política

Vereadoras do RS relatam violências sofridas na política

Depoimentos ocorreram durante lançamento de cartilha pela Procuradoria da Mulher da Assembleia Legislativa

Correio do Povo

Evento de lançamento reuniu lideranças políticas, autoridades e ativistas dos direitos das mulheres

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Deboches, interrupções e a exclusões das decisões políticas. Essas são algumas das situações vivenciadas por mulheres na política e que foram relatadas nesta sexta-feira, durante ato promovido pela Procuradoria da Mulher da Assembleia Legislativa, no qual foi lançada a cartilha “Violência Política de Gênero: a maior vítima é a democracia”

Durante o evento de lançamento, que reuniu lideranças políticas, autoridades e ativistas dos direitos das mulheres de todo o Estado, as convidadas trouxeram relatos pessoais sobre os constrangimentos sofridos enquanto parlamentares e ressaltaram a importância das redes de apoio e luta pela inserção de mais mulheres dentro dos espaços de poder.

Quando a violência vira rotina

Segundo a vereadora Estela Balardim (PT), de Caxias do Sul, virou rotina os deboches, interrupções e a exclusões de decisões partindo de seus colegas no Legislativo. Em determinada ocasião, uma parte dos vereadores tentou aprovar a redução do percentual obrigatório de candidaturas de mulheres de 30% para 15%, com a justificativa de que as mulheres "não concorrem porque não querem".

Em outra, ela foi chamada de burra por um colega e, quando o lhe acusou de machista, ele decidiu pedir a cassação do seu mandato. "O reflexo da nossa sociedade também está nos nossos espaços institucionais", desabafou.  

O dia a dia também tem sido de enfrentamento para Caren Castêncio (PT), vereadora de  Bagé. Desde que assumiu seu mandado – e até antes, na luta por melhores condições para disputar –, desde que decidiu, como presidente da Comissão de Educação na Câmara da sua cidade, pedir vistas (adiamento da discussão) ao projeto que altera regras na implantação de escolas cívico-militares na cidade, ela "virou alvo dos colegas".

Além do relato de, por pouco, quase ter sido agredida fisicamente, Caren disse que adjetivos como "desequilibrada", "histérica" e "raivosa" integram o plantel com que é xingada nas sessões. Quando reclama, é acusada de “sempre tentar se vitimizar”.

Rita Della Justina (PT), vereadora de Sapiranga, contou que que a escalada de violência contra ela e seus familiares foi aumentando a cada eleição, atingindo seu ápice em 2018, quando cogitou deixar de concorrer. Apesar disso, em 2020, foi eleita a vereadora mais votada no município.

“Violência patrimonial, psicológica, ataque à imagem, distorções, mentiras e fake news fazem parte do arsenal contra nós, que temos sido vítimas da maldade nua e crua na política”, ressaltou. Em denúncia, Rita contou que vem tentando criar a Procuradoria da Mulher em Sapiranga desde que foi eleita, mas a proposta não é aceita. 

“Precisamos dar visibilidade à violência política de gênero, pois a democracia só existe de fato com a mulher ocupando espaços na política. O machismo, por outro lado, é super-representado na política”, afirmou a deputada e procuradora especial da Mulher na Casa, Sofia Cavedon (PT).

A deputada denunciou ainda a ausência de recursos suficientes para a luta das mulheres no orçamento estadual previsto para o próximo ano, mas reiterou: "não é por isso que nós vamos deixar de brigar".

A cartilha tem como base a lei 14.192, que estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher e torna crime esse tipo de prática e informando sobre os possíveis enquadramentos da norma. O material elenca ainda uma série de canais de onde denunciar situações sofridas.  


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