Alerta vermelho para a ferrugem asiática

Alerta vermelho para a ferrugem asiática

Clima úmido favorece o aparecimento dos esporos nas lavouras de soja e aumenta registros da doença pela Embrapa e pelo Programa Monitora Ferrugem RS, da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação

Thaise Teixeira

Esporos da ferrugem asiática se espalham com mais facilidade em anos de alta umidade

publicidade

A safra 2023/2024 não foi cultivada sob a estiagem avassaladora do La Niña, como nos dois últimos anos no Rio Grande do Sul. Mas nem por isso é menos desafiante. As lavouras, plantadas tardiamente devido à chuva em excesso na primavera de 2023, trouxeram esperança para quem viu a safra de trigo ir, literalmente, por água abaixo. Endividado e sem condições financeiras de bancar o salto no custo do seguro rural - especialmente ao cenário arriscado do RS -, o sojicultor plantou “sob conta e risco”, como definiu o primeiro vice-presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Elmar Konrad.

Enquanto vê a chuva ocorrer de maneira irregular no Estado e algumas áreas perderem produtividade, o agricultor acelera o passo para conter o avanço da principal doença da cultura: a ferrugem asiática. A proliferação do fungo Phakopsora pachyrhizi está tirando o sono de quem plantou no tarde e está com as lavouras em desenvolvimento. Segundo o monitoramento do Programa Monitora Ferrugem RS, coordenado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e pela Emater/RS-Ascar, os esporos da doença estão em maior quantidade na porção Ocidental do Estado. As zonas mais críticas estão nas regiões Central e Noroeste, seguidas pelo Sudoeste. “É um ano difícil, com bastante umidade, em virtude do regime de chuvas. Vamos ter, sim, incidência maior de ferrugem. Há muitos esporos no ambiente e o fungo se dissemina muito fácil”, confirma o diretor do Departamento de Defesa Vegetal da Seapi (DDV/Seapi), Ricardo Felicetti.

Como o sojicultor se encaminha para o período final de cultivo, Felicetti lembra sobre a importância de alternar os ingredientes ativos dos fungicidas. O objetivo é não ampliar a resistência do patógeno, mesmo com a intensificação das aplicações. “Isso não significa alternância de produtos. Há, inclusive, no mercado, muitos produtos dos mesmos fabricantes, mas com nomes diferentes e mesmo princípio ativo”, alerta. Também é preciso ler atentamente a bula do fungicida e aplicar exatamente o que dispõem as orientações quanto à dosagem. “A super ou a subdosagem, além de não conter o avanço da doença, fortalecem o agente causador”, explica.

Os fungicidas sítio-específicos utilizados no controle da ferrugem pertencem a três grupos distintos: os Inibidores de desmetilação (IDM, "triazóis"), os Inibidores da Quinona externa (IQe, "estrobilurinas") e os Inibidores da Succinato Desidrogenase (ISDH, "carboxamidas"), conforme a Embrapa Soja. No entanto, devido à alta resistência do fungo aos agroquímicos e às suas mutações genéticas, a pesquisadora da Embrapa Soja, Cláudia Godoy. indica, além da rotação dos ingredientes ativos, a adição de produtos multissítios (com atuação em vários pontos do fungo, principalmente com os IDM).

De acordo o Consórcio Antiferrugem da Embrapa Soja, o Rio Grande do Sul acumula 93 ocorrências de ferrugem asiática nesta safra. Os registros foram identificados de dezembro até o último dia 19 e a maioria deles ocorreu na fase de enchimento de grãos. Durante a safra 2022/2023, cultivada sob escassez hídrica (cenário desfavorável ao fungo), o saldo ficou em 44, número três vezes maior que o de 2021/22, quando o levantamento indicou 15 registros. No entanto, no ciclo 2020/21, os sojicultores gaúchos responderam por 138 casos da doença, segundo a Embrapa, porém contabilizados de novembro a março.

Ricardo Felicetti afirma que, devido ao grande número de ocorrências de ferrugem asiática nas lavouras de soja nesta safra, o produtor deve seguir atento à doença mesmo após a colheita. “É preciso respeitar rigorosamente o calendário de semeadura e o período de vazio sanitário”, recomenda. Além disso, será preciso atentar a grãos que podem cair dos caminhões nas estradas - e recontaminar a área - e às plantas espontâneas da oleaginosa, que podem nascer doentes após a colheita. “O produtor não pode relaxar mesmo que se confirme a previsão de La Niña, que traz um cenário menos favorável ao fungo. É preciso pensar não só na sua lavoura, mas no Rio Grande do Sul como um todo”, recomenda

Apesar de o clima estar mais seco que no início da safra e de algumas áreas, inclusive, estarem com déficit hídrico, a combinação entre umidade e calor também ampliou a população das lagartas falsa-medideira na cultura da soja. A população do inseto está tão grande que tem chamado atenção na área de abrangência da RTC/CCGL, que reúne mais de 30 cooperativas gaúchas.

Conforme o pesquisador em Entomologia da RTC/CCGL, Glauber Renato Stürm, trata-se de uma nova variedade da lagarta Chrysodeixis includens, já conhecida dos agricultores. “É uma nova espécie, denominada Rachiplusia nu, que demonstra uma resistência às toxinas BT, expressadas por algumas biotecnologias de soja, o que dificulta o controle”, diz. Elas também sobrevivem em lavouras de soja intactas IPRO e Conkesta, onde as toxinas BT não exercem controle eficaz, esclarece o pesquisador.
A identificação da nova espécie de lagarta ainda é um desafio, mas a praga é outro desafio, já que ela consome, principalmente, as folhas do terço mediano da planta. O pesquisador destaca ainda a presença frequente do gênero Spodoptera, que também causa danos à cultura de soja, consumindo não apenas folhas, mas também estruturas como flores, legumes, pecíolos e haste da planta de soja.
Para evitar danos significativos, a orientação é buscar orientação técnica, intensificar o monitoramento das lavouras e aplicar medidas de controle.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895