Corte na Selic deve reduzir custos de crédito rural

Corte na Selic deve reduzir custos de crédito rural

Medida terá efeito positivo em financiamentos com juros livres e já provoca reação no câmbio, avaliam economistas

Patrícia Feiten

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A trégua de meio ponto percentual na Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira, terá efeitos positivos para o agronegócio, avaliam economistas ligados ao setor. Para os analistas, a medida significará financiamentos mais em conta para os produtores rurais que tomam empréstimos a juros de mercado, sem subsídios do governo. Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a Selic de 13,75% para 13,25% ao ano. É o primeiro corte em três anos e também o primeiro no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Segundo o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, a decisão do Copom terá forte impacto no crédito rural, já que a maior parte das operações no Brasil é feita com recursos livres – da necessidade total de financiamento para o campo, estimada em R$ 930 bilhões, apenas R$ 150 bilhões envolvem recursos controlados. “É o crédito que o produtor toma no banco, na cooperativa, na revenda de insumo”, destaca Da Luz. O corte na Selic, explica, diminuirá a taxa dos depósitos interbancários (DI), que representa a média de juros dos empréstimos realizados entre os bancos. “E o banco repassa esse custo de captação menor para o juro (cobrado) do produtor. Os contratos que são lastreados em DI já começam a baixar imediatamente”, diz o economista. 

Da Luz observa que, enquanto o Brasil reduz o juro básico, o resto do mundo segue direção contrária. Desde a semana passada, o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos), o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra anunciaram aumentos em suas taxas. “Isso gera uma tendência de elevação na taxa de câmbio. Temos outros desdobramentos, tanto nos preços das commodities como no preço dos insumos”, afirma.

Embora a decisão do Copom já fosse esperada, o mercado apostava em um corte mais cauteloso, destaca a economista Sílvia Bampi, analista da consultoria StoneX. Outra surpresa, segundo ela, foi o fato de o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ter votado pela redução de 0,5 ponto percentual, desempatando o placar – dos nove integrantes do conselho, quatro defenderam um ajuste de 0,25 ponto percentual. “É claro que eles já comentaram, no comunicado (posterior ao anúncio), que vão seguir avaliando o cenário, a questão inflacionária e a questão econômica para dizer se vamos ter mais cortes dessa magnitude pela frente”, avalia Sílvia.

A mudança na Selic fez o dólar disparar. Na quarta-feira, a moeda norte-americana avançou 0,31%, fechando a R$ 4,8039. Nesta quinta (3), chegou a encostar nos R$ 4,90, por conta da expectativa de redução do chamado diferencial de juros entre o Brasil e outras economias. “Isso cria uma tendência de saída de capital (do Brasil). Porém, ainda não acredito que somente o movimento de juros vai pesar sobre as cotações do câmbio, porque temos um ambiente interno positivo: o mercado está animado com a reforma tributária, o governo já fala em reforma administrativa”, diz Sílvia. Para a economista, as grandes safras de soja e milho colhidas neste ano também influenciam o cenário. “Vamos ter de exportar muito dessas commodities. Isso faz com que entrem mais dólares no Brasil e ajuda a manter as cotações um pouco mais pressionadas”, explica.


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