Demanda aquecida eleva preços do ovo

Demanda aquecida eleva preços do ovo

Com oferta limitada, aumento do consumo interno e de exportações pressiona valores da proteína no atacado e no varejo

Patrícia Feiten

publicidade

Uma combinação de grande demanda e oferta apertada vem impulsionando os preços do ovo de galinha no país. O produto registra fortes altas no atacado desde fevereiro e, ao contrário do que se observa tradicionalmente após o período da quaresma, os valores continuam firmes na segunda quinzena deste mês, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

Nas cinco regiões do país monitoradas pelo centro de pesquisas, a média de preços do ovo branco em janeiro estava em R$ 143,27 para a caixa de 30 dúzias. Em fevereiro e março, os valores subiram para R$ 169,67 e R$ 181,47, respectivamente. Em abril, a média parcial até o dia 24 era de R$ 187,48. No caso do ovo vermelho, o produto iniciou o ano cotado, em média, a R$ 160,68, avançou para R$ 190,95 em fevereiro e R$ 205,39 em março, chegando a R$ 212,31 neste mês.

A disparada dos preços também é captada na ponta do consumo. Com aumento de 7,64% em março, o ovo de galinha foi destaque entre as altas do grupo alimentação e bebidas que compõe o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No período, a variação do produto superou a do indicador de inflação geral, que foi de 0,71%. No ano, o ovo acumula alta de 10,33%, e em 12 meses, de 19,98%.

Segundo a analista de mercado de ovos do Cepea, Juliana Ferraz, a forte procura fora do período de quaresma é atípica. A oferta reduzida é resultado de cortes na produção por parte dos avicultores frente à escalada dos custos da atividade, puxada por despesas com alimentação animal e embalagens. “Apesar da queda nos preços do milho e do farelo de soja, esses componentes, que são os principais insumos para a ração e respondem por mais de 70% do custo de produção de ovos, estiveram muito altos ao longo dos últimos anos”, destaca Juliana.

Para os próximos meses, a expectativa é de um recuo dos preços do ovo, avalia a analista. “Já há relatos no mercado de que o número de pintainhas vem aumentando. Ao que tudo indica, (o setor) vai aumentar a produção de ovos. Mas dificilmente veremos quedas muito bruscas no curto intervalo de tempo”, diz Juliana. O comportamento dos preços das proteínas bovina, suína e de frango também pode influenciar o quadro. “Os valores dos ovos tendem a ter um ajuste. Seja positivo, em caso de aumento dos preços dessas carnes, ou negativo, em caso de cederem um pouco”, observa Juliana.

Gripe aviária

Estremecido pela guerra entre Rússia e Ucrânia, que elevou os preços dos alimentos na Europa, e pelos surtos de influenza aviária pelo mundo, o cenário global também impacta o mercado brasileiro de ovos, segundo o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos. O dirigente lembra que, apenas nos Estados Unidos, um dos países mais afetados, a doença já dizimou mais de 50 milhões de aves. Até o momento sem casos registrados, o Brasil abastece o mercado externo com o produto e vem acelerando o ritmo de embarques.

Em março, o Brasil exportou 1.614 toneladas de ovos in natura e processados, volume 182,9% superior ao do mesmo mês de 2022. Desse total, o Rio Grande do Sul enviou para o exterior 399,6 toneladas, um crescimento de 88,7% na mesma base de comparação, de acordo com a Asgav. “Começou a faltar ovo no mundo, o Brasil está sendo chamado para atender a outros países. E o consumo (interno) aumentou, porque a população continua buscando o ovo como proteína alternativa”, afirma Santos, observando que, além de ser usado como fonte de proteína na alimentação diária, o item é matéria-prima para a indústria de massas, pães e biscoitos.

O empresário explica que muitas indústrias do setor vinham operando com prejuízo ou com margens de lucro estreitas nos últimos três anos e reduziram a produção para amenizar o impacto dos custos. Hoje em torno de R$ 70, o preço da saca de 60 quilos de milho – ingrediente usado na formulação das rações de aves – chegou a ultrapassar R$ 100 em 2021 e se manteve em torno do patamar de R$ 90 ao longo do ano passado. Santos descarta, porém, risco de falta de produto no país. “Não vamos deixar de atender ao mercado interno, até porque exportamos (apenas) 1% da nossa produção. Vai ser um período de ajustes”, explica Santos.

O trimestre

No acumulado do primeiro trimestre do ano, as exportações brasileiras ficaram 25% abaixo do total do mesmo período de 2022, com 3,7 mil toneladas enviadas, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Já os embarques feitos pelo Rio Grande do Sul somaram 880 toneladas no período, um crescimento de 86,9% frente ao volume exportado de janeiro a março do ano passado.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895