Depois de 200 dias, guerra entre Ucrânia e Rússia deve afetar renda e demanda

Depois de 200 dias, guerra entre Ucrânia e Rússia deve afetar renda e demanda

Especialistas analisam que conflito vai enfraquecer a economia mundial, provocando recuo no crescimento das exportações de todos os setores, inclusive do agro

Nereida Vergara

Preços de grãos, como a soja, devem subir com menos velocidade de agora em diante

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Nesta segunda-feira, a guerra entre Rússia e Ucrânia completa 200 dias e, segundo economistas, entra num novo estágio de impacto sobre a economia mundial e, consequentemente, o agronegócio. A disparada inicial dos preços das commodities - a soja no Brasil, que já há algum tempo oscila entre R$ 170,00 a R$ 180,00 a saca, chegou a R$ 206,00 em 10 de março deste ano, duas semanas depois do começo do conflito - foi o primeiro efeito, aponta o professor do curso de pós-graduação em Economia da Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos) Marcos Lélis. "Neste primeiro momento, esses preços subiram na onda da alta do petróleo, mas com o tempo houve uma acomodação e agora já alcançaram certa estabilidade, o que não quer dizer que os problemas não vão continuar", pontua.

Lélis analisa que, nos próximos meses ou pelo tempo que a guerra se estender, haverá recuo no crescimento da economia mundial como um todo, mas particularmente na  Europa, dependente do fornecimento de gás que vem da Rússia. "Isto certamente vai impactar em toda a cadeia produtiva e sobre a renda de uma forma global. Por isso, produtos do agro que vinham sendo exportados pelo Brasil (para Europa e também para a China, onde está sendo praticada a política de Covid zero), como grãos ou proteínas, não verão mais uma escala de preços intensa. Pode até subir, mas pouco", ressalta.

Conflito de Ucrânia e Rússia hoje começa a influenciar na renda

O professor de Economia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Nilson Costa concorda com o raciocínio de Lélis no que diz respeito à precificação trazida com o desenrolar da guerra. "Houve, de fato, uma acomodação dos preços e as variações agora vão ser determinadas pela regra da oferta e demanda, esta última intimamente ligada à renda. São variáveis tradicionais que vão se sobrepor diante do crescimento baixo da economia", comenta.

Costa salienta que a guerra a longo prazo traz consequências aos países, como endividamento, o que enfraquece a economia num momento em que se esperava fosse de grande retomada. "A pandemia, mesmo que não tenha terminado oficialmente, não é mais um impedimento para as cadeias produtivas. A guerra é", sentencia.


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