El Niño entra na conta do plantio da trigo

El Niño entra na conta do plantio da trigo

Após crescimento de 22% na safra 2022, área de trigo deve se manter em 1,5 milhão de hectares no Estado

Correio do Povo

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A prudência do produtor em um cenário climático e econômico adverso deve fazer com que a próxima safra de trigo se mantenha estável no Estado, ocupando área semelhante à plantada em 2022, de 1.528.992 hectares, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números iniciais de intenção de plantio no Rio Grande do Sul deverão ser divulgados na próxima semana pela Emater/RS-Ascar. O diretor técnico da associação, Claudinei Baldissera, acredita na manutenção de 1,5 milhão de hectares para o trigo. Ele lembra que em 2022 a área plantada cresceu 22% em relação a 2021, com boas condições econômicas e de clima. “Mas o apontamento de chuvas, especialmente à época de colheita, coloca ao agricultor a necessidade de uma análise mais prudente na questão do risco, o que influencia no tamanho da safra que teremos”, analisa.

O coordenador da Comissão do Trigo e Culturas de Inverno da Federação da Agricultura do RS (Farsul), Hamilton Jardim, indica ao menos quatro fatores que julga preponderantes para a manutenção da área plantada de trigo no Estado. O primeiro seriam os preços baixos, no mercado atual e futuro. “Este cenário agora de preços achatados remete a no mínimo 60 sacas por hectare para o produtor ficar no zero a zero”, compara.

Também as notícias de formação do fenômeno El Niño, com 56% de chances de ser considerado forte e 25% de atingir proporções gigantescas, segundo a Administração Nacional de Atmosferas e Oceanos (NOAA), colocam o setor produtivo em alerta. "O produtor está preocupado porque não vai plantar muito no cedo sob o risco de chegar muita chuva lá no período de definição de produtividade e qualidade, que é o florescimento, e pegar muita chuva”, avalia Jardim.

Os demais fatores levantados pelo representante da Farsul são financeiros. “Muitas lavouras ainda não foram financiadas, não tem dinheiro do Plano Safra ainda vigente, pois estão faltando recursos para contratação”, afirma. Sem dinheiro de agentes financeiros, o produtor teria de utilizar os próprios fundos. “Mas o recurso dele também está escasso, em virtude da seca da soja e do milho e dos baixos preços recebidos pelos produtos agora”, destaca. Por fim, Jardim cita o seguro agrícola como limitante da expansão do trigo. “O cobertor é muito curto, a produtividade garantida é muito baixa em caso de frustração”, diz. “O produtor vai ter que ir em busca de renda, porque ele está com a safra passada reduzida, com preços baixos, e não pode deixar a propriedade descoberta ou sem uma oportunidade de renda agora no inverno.”


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