Emater do Rio Grande do Sul luta para evitar execução fiscal milionária

Emater do Rio Grande do Sul luta para evitar execução fiscal milionária

Associação gaúcha que presta serviço de assistência técnica rural discute com o INSS cobrança de R$ 699,5 milhões em contribuições previdenciárias

Itamar Pelizzaro

Se passivo não for extinto, podem entrar em risco serviços prestados pela Emater/RS a mais de 200 mil famílias de agricultores

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A Associação Sulina de Crédito Rural (Ascar), mantida pela Emater/RS, deve mover esta semana uma ação judicial para tentar anular três execuções fiscais em que o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) cobra o pagamento de R$ 699,5 milhões referentes à contribuição previdenciária patronal das últimas décadas. A Ascar pretende derrubar a cobrança, que já provocou a penhora da sede, na Rua Botafogo, em Porto Alegre, mostrando que atende aos requisitos para a imunidade tributária por contar com a Certificação de Entidade Beneficente de Assistência Social (Cebas). 

“A briga é para que seja reconhecida a imunidade e que sejam extintos todos os passivos”, diz o advogado da Ascar, Rodrigo Dalcin Rodrigues, que acompanha o litígio desde 2010. Os passivos são estimados em cerca de R$ 2,5 bilhões e fazem parte de um processo longo e complexo. Se não forem extintos, poderão determinar a liquidação da Ascar e do serviço de assistência técnica e extensão rural prestado a mais de 200 mil famílias de agricultores gaúchos. “A briga começou em 17 de novembro de 1992. Naquele dia, o INSS entregou ofício à Ascar dizendo que estava revogada a imunidade (direito de não pagar a contribuição previdenciária patronal). No dia seguinte, veio o primeiro auto de lançamento e, a partir daquilo, a cada dois ou três anos, o INSS lavrava novo auto de infração, que foi gerando uma imensidão de execuções fiscais”, explica. Segundo Dalcin, a execução fiscal começa somente após o encerramento da discussão administrativa. 

Em novembro de 2011, foi ajuizada ação popular para proteger o caráter assistencial da Ascar, depois de a União retirar administrativamente o Cebas. A Ascar obteve liminar que lhe garantia o direito à imunidade tributária frente ao INSS. A liminar foi cassada em 2018, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Conforme o advogado da Ascar, como os prazos processuais estavam correndo, para evitar sua prescrição a União fez uma varredura para distribuir os de maior urgência. “Em maio deste ano, distribuíram essas três execuções cujo valor dá R$ 699 milhões”, detalha Dalcin.

Além de recorrer para anular as três execuções da prevodência, que tramitam na 19ª Vara da Justiça Federal da Capital, a associação mobiliza a bancada federal gaúcha em Brasília para restabelecer a liminar da ação popular no STJ. “Como a Ascar sempre teve o Cebas, e o STJ reconheceu que isso é uma declaração pública de que preenche os requisitos, poderá reconhecer a imunidade e extinguir os débitos”, destaca Dalcin. “Se o STJ parar e olhar a ação popular, há uma grande possibilidade de matarem todo esse passivo”, completa.

Veículos restritos aguardam avaliação

A assessoria de comunicação do Tribunal Federal da 4ª Região informou que já foi realizada penhora do imóvel sede da Emater/RS-Ascar e deferida a restrição de veículos via Renajud, o sistema on-line de restrição judicial de veículos criado pelo Conselho Nacional de Justiça. No entanto, ainda não houve penhora e avaliação dos carros restritos. 

O Certificação de Entidade Beneficente de Assistência Social (Cebas) da Ascar tem validade até dezembro de 2024. O advogado Rodrigo Dalcin Rodrigues diz que a Ascar está trabalhando para pedir a renovação do documento no primeiro semestre de 2024. 

Em junho passado, o Correio do Povo publicou réportagem sobre a notificação judicial cobrando os débitos. Na ocasião, a Emater-RS/Ascar informou que a cobrança que está sendo feita pelo INSS era em valor próximo a R$ 750 milhões e retificou o montante agora, esclarecendo que são R$ 699.553.182,62. 

 

 


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DESDE 1º DE OUTUBRO 1895