Ano de 2019 para o mercado da soja é de imprevisibilidade

Ano de 2019 para o mercado da soja é de imprevisibilidade

Sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, palestrou no 30º Fórum Nacional da Soja

Cíntia Marchi

Na palestra, André Pessôa sugeriu que produtor comercialize grão em etapas

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O ano de 2019 para o mercado da soja é de imprevisibilidade. O sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, que palestrou nesta terça no 30º Fórum Nacional da Soja, na Expodireto Cotrijal, disse que fatores externos, como a guerra comercial entre China e Estados Unidos, e internos, como a tabela do frete, tornam o cenário desafiador e arriscado para aqueles que ainda não comercializaram a safra – no Rio Grande do Sul, apenas 15% da safra foi negociada até o momento. Para ele, é possível afirmar duas situações: o Brasil exportará menos soja neste ano – em 2018, foram 83,6 milhões de toneladas – e não repetirá prêmios tão elevados nos portos quanto os do ano passado, quando chegaram a 2,5 dólares por bushel.

Para Pessôa, a briga entre os americanos e chineses é um ponto chave para esta safra. Dependendo do desfecho, os sojicultores brasileiros poderão se beneficiar ou não. No entanto, o palestrante frisa que as vendas ao exterior, em qualquer cenário, serão menores já que a atual safra brasileira não superará a anterior – a Agroconsult projetou em 116,4 milhões de toneladas contra 119 milhões no ciclo passado – e os estoques estão baixos em função do escoamento acima do esperado no ano passado. Para ele, o pior dos cenários para os brasileiros ocorre se a China fechar acordo com os Estados Unidos e decidir compensar as compras que deixou de fazer naquele país no ano passado. “Só que em nenhum dos cenários se repetirá o nível de prêmio que se conseguiu em 2018”, avalia. Mencionou ainda que, outro ponto que pesa desfavorável ao Brasil é que ainda não está controlada a peste suína na China, o que tem impactado na redução do plantel de suínos naquele país e, por consequência, na demanda por soja para ração.

Já, em relação à rentabilidade, disse que há fatores internos que poderão comprometer significativamente o desempenho. Exemplificou que hoje a rentabilidade da soja no Rio Grande do Sul é de 17 sacos por hectare. No entanto, 0,8 saca é perdida com a oneração frete, depois do surgimento da tabela. Outras três sacas serão consumidas se ocorrer o fim da Lei Kandir e mais uma saca poderá ser comprometida se o governo do Estado não renovar, até o final de abril, o Convênio 100/97, que reduz o ICMS nas operações de compras interestaduais de insumos. Desta forma, a rentabilidade cairá para 12,2 sacas por ha.

Diante disso, Pessôa recomenda que os gaúchos dividam a comercialização da soja em vários momentos ao longo dos próximos meses. “Fazer quatro ou cinco vendas até o final do ano é melhor do que só uma ou duas, dadas às incertezas que se tem”.

Também no Fórum da Soja palestrou o agrônomo Elmar Luiz Floss que chamou atenção dos produtores para a importância de elevar a conservação dos solos e a nutrição das plantas. “Não são as benfeitorias, não são as máquinas, é o solo que é o maior patrimônio do produtor”, ressaltou. Alertou ainda que vem diminuindo o teor de proteína da soja brasileira, o que inclusive já motivou a China a pedir explicações ao Ministério da Agricultura. “Está chegando soja na China com 32% de nível de proteína, quando o ideal seria ter no mínimo 37%”, diz. “Temos que ter uma clareza sobre isso, que falta nutrientes e nitrogênio na planta”, acrescentou.

O fórum contou com as presenças do presidente do Cotrijal, Nei Mânica, do presidente da Fecoagro, Paulo Pires, e do presidente da CCGL, Caio Vianna. Em função dos 30 anos do fórum, foram entregues placas de homenagem a Odacir Klein e Rui Polidoro Pinto.


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