Cai volume de vendas de soja no mercado futuro

Cai volume de vendas de soja no mercado futuro

Contratos antecipados do grão fecharam em menos de 30% da safra, abaixo dos índices históricos

Correio do Povo

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Ao mesmo tempo em que começa a intensificar a colheita de mais uma safra recorde, o produtor gaúcho se vê diante de uma série de desafios relacionados à comercialização. Entre eles estão a valorização do real — que impactou no preço das commodities — e os históricos problemas de logística. Este foi o tema de mais uma edição do ciclo Debates Correio do Povo Rural, realizada na Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque.

Um dos fatores que marcaram a safra atual é a queda no volume de negócios no mercado futuro praticados pelos produtores de soja. A estimativa é de que o volume de produção vendido antes da colheita tenha ficado em menos de 30%, quando a média histórica varia de 35% a 40%. “O produtor ficou muito nessa incerteza e nessa euforia de buscar os R$ 100 (pela saca)”, disse o gerente de produção vegetal da Cotrijal, Juliano Recalcatti, numa referência ao preço que a soja chegou a ser comercializada, no porto, no último ano.

“A minha preocupação é se ele vai permanecer nessa euforia, se vai ficar observando todas essas incertezas e variáveis que estão influenciando o preço e, daqui a pouco, perder boas oportunidades por não ter a segurança de tomar a melhor decisão”, completou. O fundamental, segundo ele, é que o produtor pense, primeiro, em pagar os custos da lavoura, de modo a garantir a sua permanência na atividade.

Entre os mecanismos para que o produtor possa se precaver na hora de negociar sua colheita está a análise histórica dos preços. “Historicamente, as cotações mais elevadas estão nos meses de setembro, outubro e novembro”, alertou o professor Nilson Luiz Costa, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da UFSM de Palmeira das Missões. Embora o produtor esteja focado em aumentar a produtividade nos últimos anos, Costa ressalta que boa parte desses ganhos podem ir “pelo ralo” caso ele não tome a decisão correta sobre o momento da comercialização. Um fator positivo é que, conforme o professor, as cotações da Bolsa de Chicago estão em patamares acima da média. Hoje o preço está em torno dos 10,14 dólares o bushel.

Um dos fatores a serem comemorados no ciclo atual é o fato de os produtores gaúchos completarem cinco anos sem frustração de safra, o que reflete diretamente na capitalização deles. “O produtor tem condições, com isso, de ser menos dependente de vender porque está vencendo o contrato de crédito, e também pode vender o produto na hora em que efetivamente o mercado está se mostrando mais favorável”, observou o diretor executivo da Central Sicredi Sul, Gerson Seefeld.

Outro elemento importante é a capacidade de adquirir os insumos de forma antecipada, o que, conforme Seefeld, ajuda o produtor a melhorar a rentabilidade, reduzir os custos e se proteger da variação cambial. “Quanto mais disponível estiver o crédito para o produtor, para ele poder antecipar a compra do defensivo, da semente, tanto melhor ele compra”, destacou.

Para o professor Marco Antonio Montoya, da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contáveis da UPF, os produtores rurais são, em geral, bons negociadores. “Do contrário não teríamos essa acumulação de riqueza permanente. Ele sabe fazer negócio”, destacou. Um dos desafios que ele considera essenciais é quanto à agregação de valor na produção da oleaginosa. “Se abriu muito espaço para a exportação de soja em grão e se perdeu muito espaço para a industrialização”, observa.

O presidente da Fecoagro/RS e diretor secretário da Ocergs, Paulo Pires, acredita que o Rio Grande do Sul deverá colher mais de 17 milhões de toneladas de soja, projeção superior aos cálculos da Emater. A notícia, que é boa, chama a atenção para o déficit de armazenagem. “O grande desafio é onde colocar essa safra”, ressaltou. “O porto está no limite, e a soja é uma cultura extremamente voltada para a exportação. Então não vamos poder exportar isso num período tao curto”.
O ciclo de debates, promovido na Casa do Correio do Povo/Grupo Record RS na Cotrijal terá nesta quinta-feira a sua terceira edição na feira, com o tema da energia no campo.  

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