Via de mão dupla para aumentar participação brasileira no comércio mundial de alimentos

Via de mão dupla para aumentar participação brasileira no comércio mundial de alimentos

Brasil admite que, além de ampliar exportações, terá de ceder a algumas pressões e comprar mais produtos de seus parceiros

Danton Júnior e Cintia Marchi

Brasil admite que, além de ampliar exportações, terá de ceder a algumas pressões e comprar mais produtos de seus parceiros

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De olho no mercado internacional para ampliar a participação brasileira no comércio mundial de alimentos, dos atuais 6,9% para 10% nos próximos cinco anos, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, avisou, em sua passagem pela Expodireto Cotrijal, que tomará medidas para que o “mercado ande”.

Isto significa também que o Brasil deve fechar acordos que terão reflexo nas importações. Maggi destacou que os agricultores brasileiros evoluíram muito e ficaram muito mais produtivos. Mas advertiu que “temos que olhar o mercado como um todo porque não somos uma ilha” e prometeu “tomar atitudes para que o mercado flua”.

Em 2016, as exportações do agronegócio totalizaram 85 bilhões de dólares, enquanto que as importações somaram 13,6 bilhões de dólares, gerando um superávit de 71,4 bilhões de dólares. De acordo com o ministro, países como a Bélgica, Holanda e Rússia têm pressionado para vender mais para o Brasil. “Vendemos para a Europa 13 bilhões de euros por ano e importamos deles 1,2 bilhão de euros. Eles são um grande cliente. Temos que ouvi-los”, disse.

Citou ainda que a Rússia, um dos grandes compradoras da carne brasileira, demonstrou o interesse em embarcar trigo e bacalhau para o Brasil. “A Rússia me deu um ultimato para que se resolvesse logo essa questão, a custo de perdermos a exportação das nossas carnes”, contou. Maggi também revelou que tem feito tratativas na área do café. “Lá fora o preço do café está bem menor. Se a indústria que transforma o grão não conseguir preços mais baratos, vai quebrar e isso não é bom para o produtor”.

O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, diz que o ministro está correto ao olhar para o mercado internacional como uma via de mão dupla. “Somos um dos países mais fechados do mundo, sobretudo, para o recebimento de bens industriais. O agronegócio, no entanto, já é aberto”. Para o economista, as tratativas feitas pelo Mapa devem focar em setores como os de máquinas, fertilizantes e agroquímicos. “O fertilizante russo é dos mais baratos do mundo. O Brasil pode mandar carne suína para lá e receber de volta fertilizantes em vez de grãos”, diz.

Para o agrônomo Wagner Beskow, consultor em agropecuária, de Cruz Alta, o caminho do protecionismo não facilita a abertura de mercados lá fora. “Em vez de se preocupar em criar barreiras, o Brasil deve buscar ser mais competitivo”. Para isso, avalia, o governo teria que atacar dois pontos que colocam os brasileiros em condições desiguais: infraestrutura precária e taxação. “Ao falar em importação, o ministro está mexendo em um vespeiro. Muitas vezes, a importação traz sofrimento, mas isso tem que ser tratado com seriedade. No Brasil, achamos que temos que ficar olhando só para o nosso umbigo”, comenta. 

Efeito Trump

Nos negócios envolvendo países estrangeiros na Expodireto, um dos destaques foi o México. Em parte, devido ao estremecimento das relações daquele país com os Estados Unidos desde a posse do presidente norte-americano Donald Trump. “O México sempre foi um país muito fechado, que compra muita coisa dos Estados Unidos. Com essa mexida na política americana, eles estão olhando para nós”, disse o ministro Maggi.

Uma comitiva mexicana deve vir ao Brasil ainda em março, com interesse sobretudo na compra de soja e carnes. O embaixador do México no Brasil, Eleazar Velasco Navarro, reuniu-se durante o evento com representantes do Irga e da Federarroz e se comprometeu a encaminhar a reivindicação para abrir o mercado mexicano para o cereal brasileiro.

Neste ano, a feira contou com representante de 70 países, dos cinco continentes. A rodada do investidor, ocorrida pela primeira vez, apontou para a concretização de negócios ao longo do ano, segundo o coordenador da área internacional da Expodireto, Régis Mendes. O setor metal-mecânico mereceu atenção dos países africanos, como a Nigéria, tradicional visitante da feira, que demonstrou interesse em máquinas, equipamentos e energias renováveis, em parceria a longo prazo. “É o principal mercado do continente africano”, destacou Mendes.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895