Correio Rural Debates abordou efeitos da estiagem na produção primária

Correio Rural Debates abordou efeitos da estiagem na produção primária

Jornal promove série de encontros dentro da programação da Expointer Digital 2020

Danton Júnior

Na foto: Eduardo Condorelli, superintendente do Senar/RS, Telmo Flor, Diretor de Redação do Correio do Povo, e Paulo Pires, Presidente da Fecoagro/RS.

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O ano de 2020 tem sido desafiador para a produção primária. Em meio a uma pandemia que prejudica diversos segmentos, o setor agropecuário brasileiro registrou crescimento de 1,2% no segundo trimestre deste ano, enquanto a economia do país caiu 9,7%. O Rio Grande do Sul, porém, sofreu com uma severa estiagem no início do ano, o que contribui para que o PIB do Estado registrasse uma queda de 13,7% no mesmo período. O segundo semestre deste ano começou diferente, com a valorização de alguns dos principais produtos agropecuários, como a soja, o arroz, o milho, as carnes e o leite. A atuação do setor primário neste ano de 2020 foi o tema da primeira edição do ciclo de lives Debates Correio do Povo Rural, que foi transmitido nesta terça pelas redes sociais do jornal.

O superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural no Rio Grande do Sul (Senar/RS), Eduardo Condorelli, disse que o atual valor das commodities tem remunerado o produtor de maneira adequada. Isso inclui cadeias que acumularam prejuízos por décadas, como é o caso do arroz. O cenário, segundo ele, é influenciado pela pandemia e pela cotação das moedas internacionais, que estão acima dos valores praticados um ano atrás. "Essas commodities são todas negociadas no mercado internacional, e portanto o seu preço sofre o efeito destas moedas", detalhou.

Porém, de acordo com ele, os produtores têm a consciência de que esse ciclo de alta vai se encerrar em breve. "O que temos orientado é que o produtor deve aproveitar esse momento, mas que ele não conte que ele continue assim por muitos anos", observou. "Me preocupa o produtor se empolgar com esse momento e fazer compromissos que vão perdurar", disse, salientando que um investimento em máquinas, por exemplo, pode representar um compromisso superior a uma década. Sobre o impacto dos preços ao consumidor, Condorelli disse que gostaria que a melhora do setor agropecuária fosse vista como uma possibilidade de melhora de toda a sociedade, principalmente a urbana.

O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires, destacou que o movimento de alta nos preços já havia sido observado na safra de inverno, com a valorização do trigo, hoje cotado em cerca de R$ 58,00 a saca. Isso fez com que a entidade identificasse um aumento na intenção de plantio do cereal - embora o cultivo tenha sido prejudicado pela geada em agosto. Ao mesmo tempo, ele ressaltou que o setor vive um ano frustrante em termos de produção, com perdas de 30% nas lavouras de milho e 47% nas de soja. "Desde 2012 não tínhamos uma quebra tão expressiva", afirmou, ressaltando que a produtividade da oleaginosa caiu de 3 mil kg para cerca de 1,8 mil kg por hectare. "Infelizmente, não estamos conseguindo fazer essa equação de produtividade boa com preços bons", completou.

O diretor do Departamento de Políticas Agrícolas e Desenvolvimento Rural da Secretaria da Agricultura, Ivan Bonetti, demonstrou otimismo com relação aos preços. Segundo ele, o teto de valorização destes produtos vai se manter superior aos praticados em 2019 mesmo após o fim da pandemia. Ele afirmou que, por mais que o governo federal tente reduzir o preço do arroz, por meio do incentivo à importação, "a baliza vai subir", o que ele acredita que irá ocorrer também com outros cultivos.

Bonetti destacou ainda que, no início da Expointer Digital, a Secretaria da Agricultura lançou uma radiografia da produção primária no Rio Grande do Sul, que detalha a produção não apenas das grandes culturas, como a soja e o arroz, mas também de cultivos em ascensão, como a noz-pecã e a olivicultura. O valor bruto de produção alcançado foi de R$ 192 bilhões, mesmo com o impacto provocado pela estiagem, o que representa cerca de 40% do PIB gaúcho. "Mesmo num ano de estiagem, os preços bons puxaram um valor bastante expressivo no Estado", observou. Contabilizando apenas a receita das propriedades agropecuárias, o montante foi de R$ 67 bilhões. Bonetti também revelou que o governo do Estado trabalha na criação de um programa de irrigação "mais moderno e mais amplo", em parceria com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente.

O professor Argemiro Brum, da Unijuí, destacou que pela primeira vez na história alguns produtos agropecuários registraram não só os melhores preços nominais, mas também os melhores preços reais, como é o caso da soja, que há um ano estava cotada a R$ 75,00 e hoje vale R$ 136,00 a saca. Para o analista, o principal motivo do aumento é o câmbio, embora no caso da soja o produto também tenha apresentado uma valorização recente na Bolsa de Chicago, superando os 10 dólares o bushel - o que não se via desde junho de 2018. "É muito difícil que esses elementos que provocaram uma alta significativa dos preços dos produtos agrícolas fiquem reunidos já para o ano que vem", observou. Com relação à inflação dos preços ao consumidor, Brum acredita ser necessária uma maior distribuição de renda da sociedade. Um ponto positivo destacado pelo especialista foi a gestão das propriedades rurais. Neste aspecto, um ponto importante citado por ele é o fato de que cerca de 35% da safra a ser plantada foi comercializada de forma antecipada, enquanto que em anos anteriores esse patamar era de 12% para essa época do ano.


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