Impasse com a China pode reduzir os preços da carne

Impasse com a China pode reduzir os preços da carne

País asiático mantém embargo por mais tempo do que era previsto, o que eleva a disponibilidade do produto no mercado interno brasileiro

Patrícia Feiten

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A determinação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de que frigoríficos habilitados a exportar carne bovina para a China suspendam a produção destinada ao país asiático pegou o setor de surpresa e gerou expectativa de queda de preços no mercado interno. A China mantém o embargo ao produto brasileiro desde 4 de setembro, quando foram identificados dois casos de vaca louca em Minas Gerais e Mato Grosso. Na terça-feira, o Mapa orientou as empresas a armazenar a carne em contêineres refrigerados por até 60 dias, autorizando o redirecionamento do estoque ao mercado interno ou a outros países.

Para o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Ronei Lauxen, apesar não ter efeito prático na indústria, a determinação do Mapa traz preocupação. Ele explica que a participação do Rio Grande do Sul nas exportações para a China é pequena e, com a demora na retirada do embargo, os frigoríficos já haviam interrompido o processamento de carne para o país asiático. “A expectativa era de liberação o quanto antes e agora, com essa medida (do Mapa), não temos uma perspectiva de liberação rápida”, avalia Lauxen.

De acordo com o dirigente, o impasse com a China resultou em aumento da oferta de carne no mercado interno e tende a impactar ainda mais os preços. “No Rio Grande do Sul, nos últimos 30 dias, os valores pagos ao produtor e os praticados no frigorífico já baixaram 15%”, estima.

O coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NESPro), Júlio Barcellos, observa que o reflexo da determinação do Mapa no Rio Grande do Sul será pequeno, já que a maior parte da carne produzida no estado é destinada ao mercado interno. “Mas, no Brasil Central, os frigoríficos já começam a olhar novos cenários porque alocar toda essa carne em outros países é algo para médio e longo prazo”, avalia. 

Barcellos projeta redução dos preços pagos pelo boi gordo no Centro-Oeste, onde estão concentrados os exportadores que abasteciam o mercado chinês. Parte dessa produção deve ser destinada a outros estados. “Tudo o que vier para cá já ajuda a derrubar mais ainda o preço no Rio Grande do Sul”, observa.


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