Indústria moageira não teme falta de trigo

Indústria moageira não teme falta de trigo

País deve importar mais dos EUA, da Rússia e de países europeus para compensar redução da oferta da Argentina


Patrícia Feiten

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A quebra da safra argentina de trigo não representará problemas de abastecimento para a indústria moageira brasileira, que nos últimos anos importou do país vizinho 85% do trigo proveniente de mercados externos. Com a redução da oferta da Argentina, os moinhos devem aumentar as compras dos Estados Unidos, da Rússia e de fornecedores europeus, segundo o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa. Resultado de um compromisso assumido na Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil pode adquirir de países de fora do Mercosul até 750 mil toneladas do cereal por ano sem tarifas.

De acordo com as últimas projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra nacional de trigo deve atingir um recorde de 9,5 milhões de toneladas em 2022, superando em 23,7% a produção do ano passado. Esse volume, porém, ainda é insuficiente para atender à demanda interna dos moinhos, que consomem anualmente cerca de 12 milhões de toneladas – 60% do total vem do exterior. “O problema no mercado brasileiro é o preço. Desde a guerra (entre Rússia e Ucrânia), o trigo no mercado internacional tem oscilado por questões conjunturais. A cotação vai continuar elevada”, diz Barbosa, citando o ataque russo ao porto de Odessa em 11 de dezembro, que prejudicou o escoamento da safra ucraniana pelo Mar Negro.

Para o Rio Grande do Sul, a Federação das Cooperativas Agropecuárias (Fecoagro-RS) estima uma safra também recorde superior a 5 milhões de toneladas em 2022. A indústria gaúcha absorve cerca de 2 milhões de toneladas por ano e, tradicionalmente, precisa importar apenas 10% desse volume. “Talvez esse numero caia um pouco mais neste ciclo”, avalia o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado do Rio Grande do Sul (Sinditrigo-RS), Valdomiro Cunha.

Para o executivo, em razão da ampla oferta local, os moinhos gaúchos estão hoje em posição “mais competitiva que a indústria do Paraná, que responde por um terço de toda a atividade de moagem no Brasil. Os triticultores paranaenses enfrentaram chuvas ininterruptas, que acabaram comprometendo a qualidade do cereal destinado à indústria de panificação. “O Paraná tem de vir buscar aqui, o preço do frete está muito alto, e o trigo do Rio Grande do Sul sai com 12% de ICMS”, diz.

A quebra

A Argentina colheu mais de 22 milhões de toneladas de trigo na safra passada. Neste ano, a produção deve ficar em cerca de 15,5 milhões de toneladas, de acordo com dados da Conab. 


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