Influenza aviária favorece exportação de frangos do Rio Grande do Sul

Influenza aviária favorece exportação de frangos do Rio Grande do Sul

Região Sul teme, entretanto, ingresso do vírus no Brasil e já estuda pedir autonomia sanitária

Camila Pessôa

Doença trouxe aos Estados Unidos um prejuízo de cerca de 3 bilhões de dólares

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Em janeiro deste ano, o Brasil assistiu a um aumento significativo nas exportações de carne de frango, de 20,6% em relação ao mesmo mês de 2022, subindo de 349,1 mil toneladas para 420,9 mil toneladas. No Rio Grande do Sul, o crescimento foi de 24,4%, saindo de 51,5 mil toneladas para 64,2 mil toneladas, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Esse incremento ocorreu principalmente por conta do agravamento no número de casos de influenza aviária ao redor do mundo, o que oferece vantagem ao Brasil, até hoje livre da doença. Mas este mesmo aumento é também um fator de preocupação, o qual levou o setor a levantar, inclusive, a possibilidade de autonomia da região Sul em relação ao resto do país.

A influenza aviária (H5N1) vem causando surtos desde 2020 nos países da Europa, América do Norte e Ásia. Somente nos Estados Unidos, a doença já levou ao prejuízo de produtores e indústria de cerca de 3 bilhões de dólares. O vírus apareceu na América do Sul na segunda metade de 2022 e está presente na Colômbia, Peru, Equador, Bolívia, Uruguai e Paraguai. A situação levou o governo do Paraná a articular um bloco com outros estados do Sul do Brasil, região responsável por 70% da produção avícola nacional, para buscar a autonomia sanitária em relação ao resto do país. A estratégia foi sugerida pelo governador do Paraná, Carlos Massa Ratinha Junior, na semana passada, em encontro no Show Rural, em Cascavel, com o Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar). 


“Um bloco único e independente evita a perda do status sanitário do Paraná caso haja o ingresso da gripe aviária em qualquer outra parte do Brasil, que assim como o nosso estado nunca teve nenhum caso, mas está sob o risco que ronda a América do Sul neste momento”, disse o secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, em nota divulgada pelo governo paranaense. Ortigara usa como referência para propor a medida a declaração de área livre da Peste Suína Clássica para o Paraná isoladamente, feita em 2019 por meio de uma IN assinada pela ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina.

“O caso mais próximo de gripe aviária ocorreu na Bolívia, que está longe de nós, mas caso ocorra uma transmissão para o Amazonas, por exemplo, o Brasil inteiro perde o status sanitário, o que impactaria a economia do Paraná”, disse o diretor-presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (ADAPAR), Otamir Martins, também em publicação do governo paranaense. De acordo com Martins, a agência já iniciou um estudo técnico para avaliar a questão, a ser concluído em até 30 dia.

A proposta deve ser avaliada pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e pela Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) em reuniões internas previstas para os próximos dias. “Isso é um tema muito precoce, mas ainda é preciso uma discussão técnica. Vamos buscar o que é melhor para os estados do Sul”, acrescenta o presidente executivo Asgav, José Eduardo dos Santos.

“A Divisão de Defesa Sanitária Animal se mantém mobilizada e acompanhando atentamente todas as notificações de ocorrência na América do Sul. O Serviço Veterinário Oficial (SVO) atua permanentemente na vigilância para detecção de circulação viral através do atendimento e investigação de todas as notificações recebidas sobre aves,”, completa Fernando Groff, chefe da divisão da Seapi. Segundo ele, recentemente, também foi feita vigilância em granjas de avicultura industrial. 

Mercado fiel à produção gaúcha

O setor avícola do Rio Grande do Sul encara com otimismo o incremento de 24,4% nas exportações de carne de frango produzida no Estado em janeiro, de 51,5 mil toneladas para 64,2 mil toneladas, acima do índice de crescimento registrado no restante do Brasil. De acordo com o presidente executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, esse incremento ocorreu não só por conta do aumento dos casos de gripe aviária, mas também por esforços do Rio Grande do Sul em atender demandas de diferentes mercados, seja com o abate halal para os países muçulmanos ou com a produção de cortes específicos para alguns mercados asiáticos, por exemplo. “O Estado é dinâmico no atendimento para fidelizar esses mercados, e fidelizando a gente acaba se destacando”, comentou. 

Santos admitiu que esse incremento nas exportações pode causar um ajuste na oferta e, portanto, aumento nos preços internos, mas que isso vai contribuir para que os produtores se mantenham na atividade, uma vez que estão operando com custos de produção elevados. “Há possibilidade de ajustes de oferta e repasses gradativos, para que o produtor continue produzindo”, disse Santos, ao mesmo tempo que reafirmou o compromisso do segmento com o abastecimento do mercado nacional. 

 

 


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