Maior exportação de arroz da última década deve ocorrer neste ano, projeta entidade

Maior exportação de arroz da última década deve ocorrer neste ano, projeta entidade

Baseada em contratos já fechados, Associação Brasileira da Indústria do Arroz prevê 2 milhões de toneladas embarcadas

Camila Pessôa

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O volume de exportações brasileiras de arroz (base casca) esperado para 2022 é de 2 milhões de toneladas, maior volume dos últimos 10 anos, de acordo com projeção da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) divulgada nesta terça-feira. O volume esperado considera tanto o produto com casca quanto beneficiado e é 73,4% maior que o total exportado em 2021, de 1,15 milhão de toneladas. O aumento da exportação para o México foi um dos fatores para esse crescimento, de acordo com a diretora executiva da Abiarroz, Andressa Silva. Entre janeiro e outubro de 2022 os embarques acumulados para todos os países importadores totalizam 1,68 milhão de toneladas, mas, segundo Andressa, já há mais embarques programados, o que corrobora as expectativas. 

O aumento de exportações para o México, de 32 mil toneladas em 2021 para um valor projetado em 60 mil toneladas em 2022, ocorre devido à isenção temporária de tarifas para o arroz com casca, adotada pelo país como medida de combate à inflação. De acordo com o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, o aumento das exportações em geral também é um reflexo da redução de safra e consequente redirecionamento da produção dos Estados Unidos para outros mercados, com diminuição de oferta na América Central e no México; de um câmbio do dólar acima de R$ 5,00, o que trouxe competitividade para o arroz brasileiro; e uma qualidade de produção superior à americana. “Então é uma questão de preço, qualidade e procura”, resume. 

Esse movimento é observado não só para o arroz com casca, mas também para o beneficiado, com uma alta de cerca de 20% nas exportações, mesmo com barreiras tarifárias, segundo Andressa. De acordo com ela, isso ocorre devido à participação do Brasil em feiras internacionais do produto, à qualidade do arroz brasileiro - com características como ausência de odor e facilidade de cocção, qualidades valorizadas por mercados mais exigentes - e à capacidade do parque industrial do país. Isso é positivo porque, para a diretora, a exportação de arroz beneficiado é preferível à de arroz com casca, uma vez que não incentiva a industrialização de outros países, possíveis concorrentes. A isenção tarifária para o arroz com casca exportado ao México acaba em fevereiro de 2023, mas pode ser prorrogada até dezembro do mesmo ano.

Ao mesmo tempo, para Velho, mesmo se a isenção do México não for renovada, o mercado vai continuar aquecido, se o preço do arroz americano continuar alto. O Brasil também conta com expectativa de continuidade em exportações pelo menos para o primeiro semestre de 2023, uma vez que a maioria dos contratos com empresas de trading é de 2 anos, como afirma Velho. “Isso também certamente vai refletir a diminuição da safra americana em 8% a 10%, que está acontecendo agora”, complementa. 

Para o ano que vem, o setor também está trabalhando para incluir uma cota de 40 mil toneladas de arroz no acordo entre Mercosul e União Europeia e introduzir uma cota do produto no Acordo de Complementação Econômica (ACE) 53, com o México, para reduzir tarifas. Isso, segundo Andressa, seria uma medida mais duradoura que a isenção pontual do arroz com casca. Mas ela pondera que a concretização das perspectivas de inclusão do arroz no acordo com a União Europeia requer um esforço para mostrar que o arroz brasileiro é sustentável, já que Portugal e Espanha são países produtores e mostram resistência ao acordo. “A União Europeia tem uma pauta forte de sustentabilidade, e assim não vão ter desculpa para não importar”, considera. 

A diretora também comemora o reforço nas exportações para os Estados Unidos, Portugal e Espanha, mesmo com barreiras a resíduos que são permitidos no Brasil, como ao tebuconazol, por exemplo. “Apesar dessas barreiras, chegamos e ficamos”, afirma. O setor é ativo em discussões na Organização Mundial de Saúde para quebrar essas barreiras, já que, segundo Andressa, o arroz brasileiro é seguro e sustentável. Além disso, já há feiras internacionais programadas para 2023 e está prevista, a começar em fevereiro, a criação de uma rota da sustentabilidade do arroz, focada em comunicar o quão sustentável é o arroz brasileiro tanto para o mercado interno quanto externo.

“Somos o segundo maior produtor de arroz fora da Ásia e o país que emite menos metano na produção de arroz, porque temos rotação de culturas, drenagem do solo e aproveitamento da casca”, ressalta a diretora, ao reforçar que, em 10 anos, até a COP26, a produção de arroz brasileira reduziu em 37% suas emissões de metano.

A Abiarroz está trabalhando junto com a Universidade Federal de Pelotas e a Embrapa para mapear essas práticas e fazer esse trabalho de divulgação. O projeto vai começar com a comunicação dessa sustentabilidade para os próprios associados. A entidade também vai estar na COP27, apresentando projetos para a sustentabilidade no arroz, dentre eles a geração de energia e produção de tijolos a partir da casca do arroz. 


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