Novas relações de trabalho devem pautar colheita da safra da uva na Serra Gaúcha

Novas relações de trabalho devem pautar colheita da safra da uva na Serra Gaúcha

Medidas tomadas pela Cooperativa Vinícola Aurora em conjunto com seus associados trará transparência nas contratações e melhoras nas acomodações para os safristas

Itamar Pelizzaro

Família Gabardo adquiriu um bin, caixa de armazenamento que diminui penosidade na colheita da uva

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A colheita da safra de uva 2024, na Serra Gaúcha, vai contar com novas relações de trabalho nas propriedades dos agricultores familiares associados à Cooperativa Vinícola Aurora, de Bento Gonçalves. A contratação de safristas para as duas semanas de auge da colheita, previstas para ocorrer entre os meses de janeiro e fevereiro, será regida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), informa a vinícola. 

Os 1,1 mil associados que compõem as 650 propriedades cooperadas precisaram se adaptar, construindo e/ou melhorando alojamentos, além de aperfeiçoar práticas agrícolas. As ações foram implementadas após safristas terceirizados serem encontrados em condiçoes definidas pelas autoridades como análogas à escravidão, em fevereiro deste ano. Desde então, a cooperativa trabalha na melhoria dos processos que envolvem as boas práticas agrícolas (BPA), a gestão de terceiros e a sustentabilidade. 

Ao longo de 2023, a Aurora visitou associados e elaborou planos individuais para garantir a contratação de mão de obra para a safra. Com 150 propriedades em total conformidade de infraestrutura, a Aurora auxilia 450 famílias a fazer adaptações nas propriedades e a adotar práticas para garantir a sanidade das uvas. “Vamos sair mais fortalecidos. A cooperativa sempre teve preocupação com as pessoas, e esse episódio nos trouxe grande infelicidade”, disse o presidente da Aurora, Renê Tonello.

Estima-se que 40 mil pessoas sejam contratadas temporariamente para o período de safra, perfazendo 50% da mão de obra necessária para colher cerca de 70 milhões de quilos da fruta produzida em 11 municípios.

Cooperado desde 1984, o produtor Nei Gabardo vai contar com o pessoal do município de Redentora, que já prestou serviços em outras temporadas. No vinhedo de cinco hectares, na localidade de Santa Lúcia, no distrito de Faria Lemos, em Bento Gonçalves, a família investiu R$ 45 mil para construir o novo alojamento de alvenaria, que obedece às disposições da Norma Regulamentadora 31 (NR-31). “Vamos usá-lo durante 15 dias e deverá ficar fechado o resto do ano”, diz Diego Gabardo, que toca as atividades ao lado do pai, Nei, e da mãe, Solange. Além de investir na propriedade, os cooperados arcarão com os custos de contabilidade e encargos trabalhistas, o que vai elevar seus gastos em 40% com a contratação de temporários. Para as refeições, os funcionários dividirão a mesa com a família, em sua própria casa.

Os Gabardo investiram cerca de R$ 1,5 mil para adquirir um bin, uma caixa plástica com capacidade para coletar cerca de 500 quilos de uva, o que reduz a penosidade do trabalho. Para usar o bin, os agricultores precisam ainda investir R$ 50 mil em uma torre que, acoplada ao trator, sustenta a caixa até o caminhão que transportará a uva até a vinícola. Neste ano, o sistema deve estar presente em 85% das propriedades associadas à Aurora, que pretende chegar a 100% em três anos. O estímulo vem por meio de financiamentos, com juros e prazos semelhantes aos do Pronaf.

A safra 2024 começa ao final de dezembro e deve resultar em um volume inferior ao de 2023. “O inverno, com menos sol atrapalhou o início da brotação”, afirma o gerente agrícola da Aurora, Maurício Bonafé. Apesar do clima, os viticultores devem garantir frutas de boa qualidade e sanidade.

Os Gabardo construíram novo alojamento para os trabalhadores / Foto: Itamar Pelizzaro/Especial

E novo ambiente para a realização das refeições dos safristas contratados / Foto: Itamar Pelizzaro/Especial

Estima-se que 40 mil pessoas sejam contratadas temporariamente para duas semanas de safra, perfazendo 50% da mão de obra necessária para colher cerca de 70 milhões de quilos da fruta em 11 municípios onde a Aurora tem associados. Cada propriedade familiar contrata, em média, quatro pessoas. Cooperado desde 1984, Nei Gabardo vai contar com pessoal do município de Redentora que já prestou serviços em outras temporadas. Durante o ano, a Aurora acompanhou e auxiliou os agricultores para vencer os trâmites burocráticos de documentação. 

Na esteira das mudanças de relações de trabalho e práticas agrícolas, a resistência inicial de alguns produtores frente às exigências legais está dando espaço a uma nova dinâmica na região. “Está deixando de ser um desafio para virar uma realidade para todos”, diz o agrônomo Felipe Bremm, que coordenou as atividades lavorais no campo. O trabalho começou em abril, com capacitações, orientações e inspeções nas propriedades. Até março, haverá monitoramento para controle de processos e instalações das propriedades, que devem passar por auditorias externas de janeiro a março.

A safra 2024 de uva deve começar na última semana de dezembro e terá seu pico na primeira quinzena de fevereiro. A Aurora estima que o volume colhido neste ciclo será pouco abaixo da temporada anterior. “O inverno com menos horas de sol atrapalhou um pouco o início da brotação”, afirma o gerente agrícola da Aurora, Maurício Bonafé. Apesar do clima, os viticultores conseguiram realizar tratos culturais que devem garantir frutas de de boa qualidade e sanidade.

 

 

 


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