Oferta alta de soja pressiona para baixo as cotações da commodity

Oferta alta de soja pressiona para baixo as cotações da commodity

Saca da oleaginosa teve preço no final de abril R$ 60,00 menor que no mesmo período de 2022

Camila Pessôa

Produtores do Rio Grande do Sul sofrem mais com o impacto nos preços, já que amargam prejuízos de três anos de estiagem

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A alta oferta brasileira de soja contribuiu para uma queda nos preços da commodity. A saca de 60 quilos da soja encerrou o mês de abril cotada em R$ 136,88, valor R$ 60,00 menor do que o praticado em 28 de abril do ano do ano passado, de R$ 196,88, conforme a série histórica do Cepea/Esalq. “Hoje estamos falando de o Brasil colher uma safra de soja próxima a 158 milhões de toneladas. Isso trouxe uma recomposição significativa da oferta para o mercado não só nacional, mas em nível internacional de soja”, explica a consultora da StoneX Silvia Bampi. “E, apesar de uma quebra significativa ou até superior a 40% na safra argentina, o Brasil está colocando um adicional de 10 a 14 milhões de toneladas a mais no mercado mundial, compensando essas perdas”, acrescenta. 

A queda nos preços afeta principalmente os gaúchos, que, ao contrário de produtores de outras regiões do Brasil, passam pela terceira frustração de safra consecutiva devido à estiagem e precisam arcar com custos maiores de carregamento, como avalia o presidente da Aprosoja, Carlos Fauth. A situação fica ainda mais preocupante porque abril e maio costumam ser meses em que os produtores precisam pagar fornecedores. “A preocupação é muito grande, porque a média de produção do Rio Grande do Sul talvez não chegue a 35 sacos por hectare. Com esses preços, o produtor não tem como cumprir seus compromissos”, enfatiza. 

A situação se torna ainda mais difícil quando observado que a tendência, pelo menos nos próximos dois ou três meses, é de que os preços sigam em queda, influenciados pela perspectiva de safra cheia dos Estados Unidos, como avalia o consultor do Safras & Mercados Luiz Fernando Gutierrez Roque. “Até metade do ano, a gente deve ter pressão no preço brasileiro porque é muita soja disponível”, destaca.

A tendência de queda, de acordo com Gutierrez, faz com que o produtor precise estar atento às possíveis flutuações do mercado para que possa comercializar sua soja numa janela de melhores preços. “A gente sabe que esse é um mercado bastante volátil, então é importante o produtor ficar de olho na Bolsa de Chicago”, enfatiza.

“O movimento de recuo desses preços tem feito com que o produtor procure cooperativas, cerealistas, indústrias e busque vender a sua soja, porque ele não sabe qual vai ser o cenário que nós teremos pela frente”, destaca Silvia Bampi. Ela avalia que, para os próximos meses, a perspectiva é de não haver grande reação dos preços da soja. “O comprador e o mercado enxergam que vão ter uma oferta confortável”, diz. 


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