Perda de produtividade e qualidade nas lavouras de trigo preocupa produtores gaúchos

Perda de produtividade e qualidade nas lavouras de trigo preocupa produtores gaúchos

Governo liberou R$ 400 milhões para assegurar preço mínimo, mas setor avalia ser valor insuficiente

Itamar Pelizzaro

Cenário é de preocupação para produtores de todas as regiões

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Regado por chuvas e umidade persistentes, o pessimismo dos triticultores está se convertendo em prejuízo nos campos gaúchos. O cenário em todas as regiões é de perda de qualidade e produtividade, agravado pelo aumento de risco de doenças como a giberela, piorando um cenário que já conta a baixa cotação do cereal. Para minimizar os prejuízos dos triticultores brasileiros, portaria federal publicada nesta quarta-feira liberou R$ 400 milhões de subvenção por meio de pagamento de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural e/ou sua Cooperativa (Pepro) e do Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) ofertados em leilões públicos a serem realizados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os recursos para equalização de preços deve atender até 1,5 milhão de toneladas. 

A colheita do trigo tem avançado lentamente no Estado e chegava a 11% na semana passada, conforme a Emater/RS-Ascar. Neste ciclo, o Estado semeou trigo em 1,5 milhão de hectares e tinha expectativa de produzir 4,7 milhões de toneladas. Em diferentes regiões, a quebra na produção já é uma realidade, o que mobilizou cerca de 100 pessoas de entidades e representantes do setor em reunião virtual na terça-feira. “A situação é caótica praticamente em todo o Estado. Mesmo na região que planta mais tarde, que é os Campos de Cima de Serra, que poderia produzir trigo muito bom, está coincidindo o período de florescimento com essa situação sem sol e muita chuva”, afirmou o coordenador da Comissão do Trigo da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Hamilton Jardim. 

Na regional de Bagé da Emater, que compreende 167 mil hectares semeados, o extensionista Guilherme de Pietro Zorzi diz que a colheita está mais avançada em municípios da Fronteira Oeste como São Borja, com 70% colhidos em 30 mil hectares plantados, e Maçambará, com 40% em 28,5 mil hectares. Nesses municípios, a produtividade já é até 30% inferior. “A colheita está acontecendo, e a gente está tendo a noção dos danos. A perda de produtividade pode e provavelmente vai aumentar, porque todos esses cultivos estavam do meio para o fim da fase de enchimento dos grãos quando houve esse setembro chuvoso”, disse.

Preço mínimo

Com o mercado nervoso e o triticultor ainda sem saber a qualidade do cereal, as preocupações se ampliam com os prognósticos de mais chuva para o Estado. “Grande parte do trigo que está para ser colhido está sujeito às chuvas excessivas que estão acontecendo, que depreciam a produtividade e PH muito baixo, que é o que limita preço”, salientou Jardim. Segundo ele, produtores já estão solicitando Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e seguro agrícola.

Jardim trabalhou junto com o setor para construir a portaria publicada pelos ministérios da Agricultura, Fazenda, Planejamento e Desenvolvimento Agrário, e estima que o valor será insuficiente para cobrir as perdas. “O volume de R$ 400 milhões não condiz com a realidade. Pela defasagem de preço neste momento, isso talvez dê para socorrer 800 mil toneladas, o que é muito pouco, considerando que o Paraná e Santa Catarina também estão também estão com preço abaixo do mínimo”, afirmou Jardim, avaliando que o valor ideal deveria ser até três vezes maior. O preço mínimo estabelecido hoje é de R$ 88,77, e o mercado tem pago R$ 52,00. “Temos uma defasagem muito grande, de R$ 36 por saca de 60 quilos. O produtor já está ansioso porque vai ficar uma conta muito grande para pagar”, afirmou. O setor está solicitando mais recursos ao governo federal, embora reconheça que haja limitações de orçamento, e também aguarda definições de como serão os os editais de leilão da Conab.


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