Saúde

Dia Mundial da Psoríase: o que é e como se manifesta a doença

Complicação é caracterizada pela formação de manchas brancas ou rosadas recobertas por um processo de descamação esbranquiçado

Psoríase ainda é doença pouco conhecida
Psoríase ainda é doença pouco conhecida Foto : Psoríase Brasil / Divulgação / CP

A data de 29 de outubro é marcada pelo Dia Mundial da Psoríase, doença autoimune que ainda é desconhecida e alvo de estigmatização. Problema crônico e não contagioso, é caracterizada pela formação de manchas brancas ou rosadas recobertas por um processo de descamação esbranquiçado. A complicação ainda é cercada de mistérios, sendo multifatorial e sem causa exata definida. Apesar de ainda não haver uma cura, tratamentos permitem uma vida mais confortável aos pacientes.

Ainda que grande parte da população não conheça a doença, a psoríase está presente no dia a dia de muitas famílias brasileiras. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a enfermidade afeta cerca de 3% da população mundial, isto é, 125 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo cerca de 5 milhões apenas no Brasil.

Uma das pessoas que convive com a psoríase é a artista pop Beyoncé, uma das cantoras mais ouvidas do mundo, que revelou em 2024 que possui desde sua infância a condição, que nela afeta principalmente o couro cabeludo.

A psoríase é uma doença crônica e se manifesta por lesões vermelhas e descamativas na pele, mas também afeta outros órgãos e pode provocar restrições de movimento.

“As novas pesquisas mostram também que a psoríase não é uma doença só de pele. Ela está associada com acometimento em outros órgãos. A mais comum seria a artrite psoriática. A gente enxerga a pele, mas acaba descobrindo que o paciente tem acometimento articular, que pode, se não identificado, levar no futuro a restrições de movimento”, afirma Rodrigo Duquia, médico dermatologista e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

Duquia trabalha com psoríase há muitos anos e é coordenador do ambulatório de doenças imunomediadas da Santa Casa de Porto Alegre. “Mais recentemente se viu que a psoríase se associa com distúrbio metabólico, diabetes, hipertensão, com um aumento da mortalidade cardiovascular. Essas novas pesquisas que vieram com os novos medicamentos nos mostraram que a psoríase, às vezes, é a ponta do iceberg”, explica o médico.

Causa exata ainda é desconhecida

Para o melhor tratamento possível, é fundamental a identificação precoce da doença. Não há, contudo, um diagnóstico clínico. A enfermidade precisa ser identificada por um médico dermatologista e múltiplas condições podem levar a ela.

“A psoríase é de causa multifatorial. Tem uma parte genética, tem questões ambientais, às vezes fatores de medicação que levam o paciente até isso. Tem gente que tem predisposição genética e não vive com a doença, tem gente que teoricamente não tem predisposição genética nenhuma e acaba tendo a complicação”, afirma Duquia.

Maria da Graça Salles de Oliveira convive com a psoríase desde 1987. À época, a condição era ainda mais desconhecida.

“Tive muita dificuldade no início porque ninguém sabia o que era, nem os médicos. Em mim, desenvolveu após um estresse muito grande que tive quando soube que iria perder minha mãe por câncer", relata.

"A doença começou como se fosse uma espinha no meu braço. Era uma coisa seca, mas não tinha dor nem nada. Dali, começou a ficar maior. A partir da perda da minha mãe, começou a se alastrar, para o cotovelo, outro braço, articulações, tornozelo”, acrescenta.

Graça só foi identificada com a doença após seu médico viajar para um congresso no exterior e aprender sobre. O gatilho para ela, aparentemente, foi o estresse psicológico sofrido pela perda da mãe. E assim ela começou seu tratamento.

“Comecei meu tratamento com o psicólogo, comecei a controlar, e aquilo ali foi sumindo. Nas minhas pernas foi sumindo, diminuindo, e eu passando a pomada que tinham me indicado. E aí depois de alguns anos que começou a aparecer outros casos, que começou a ser divulgado, mas não muito”, conta.

“No primeiro momento eu meio que me desesperei porque não sabia com o que estava lidando. Mas depois desse tratamento com o psicólogo comecei a me conscientizar daquilo ali e aceitar. O momento que aceitei realmente foi muito melhor. Diminuiu bastante”, explica.

Há tratamento eficaz e acessível

Por mais que não haja uma cura para a psoríase, os pacientes conseguem ter uma vida saudável e mais confortável com a doença. Isto se deve principalmente pela evolução de pelo menos quatro décadas do tratamento.

“A psoríase ganhou muita importância nos últimos anos porque vieram novos medicamentos que antes não existiam. Muitas vezes a gente não conseguia melhorar o paciente o suficiente para ele ter uma vida normal”, conta Duquia.

“A psoríase não tem cura, mas, hoje, dificilmente algum paciente fica com a doença. Os medicamentos que a gente tem hoje, eles, na grande maioria das vezes, deixam o paciente sem lesão nenhuma. Então, a psoríase hoje tem sido tratada como a maioria das doenças, como hipertensão, diabetes, que podem ser controladas”, continua o dermatologista.

Maria da Graça já passou por diversos tratamentos ao longo da vida. Começou com medicamentos psicológicos e pomadas. Hoje toma dois remédios via oral. Outro fator que a ajudou foi a luz solar.

“Descobri também que, quando eu tirava férias e ia para praia, o sol ajudava bastante. Na época foi uma das coisas que depois o médico me disse também. Inclusive, fiz muitos banhos de luzes. Até de bronzeamento fiz na época, principalmente no inverno”, relata.

“Tem muitos altos e baixos até tu achar teu equilíbrio. No momento que achei meu equilíbrio emocional, consegui meio que controlar bastante. Inclusive surgiu na época que o tratamento indicado seria com corticoide, que era o único tratamento. Eu decidi por mim mesma não fazer o tratamento por meio oral, e ficar só com a pomada, pois o corticoide não é muito legal”, lembra.

Após décadas, Graça passou a fazer tratamento voltado para essa condição. “Hoje, sei que a psoríase causa problemas cardíacos e de obesidade, porque tem mais informações. Na realidade, tratamento específico para psoríase, eu estou fazendo só agora, no Hospital de Clínicas. São comprimidos de metotrexato de sódio e folifolin ácido fólico”.

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Rodrigo Duquia fala sobre as formas distintas de medicação. “Há vários tipos de tratamento. A gente define de acordo com a anamnese (entrevista estruturada realizada por um profissional de saúde) do paciente. Se a pessoa tem poucas lesões, não tem nenhum acometimento sistêmico e também não se importa muito com as lesões, a gente pode optar por uma terapêutica tópica, com cremes. Agora, se o paciente já tem mais lesões, ou fica muito incomodado com elas, aí geralmente a gente inicia com medicamentos sistêmicos”, afirma.

Além de eficazes atualmente, os medicamentos já são acessíveis. “Temos medicamentos sistêmicos baratos, e geralmente a gente inicia com eles, não só pelo preço, mas porque são fármacos antigos, que se usam desde 1980, e, portanto, sabemos que são seguros. Geralmente são o metotrexato ou o neotigason”, resgata o médico.