Especialistas alertam para crescimento de problemas ligados à depressão no trabalho
1º Fórum de Saúde Mental é realizado na Capital, no Teatro da PUCRS
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A preocupação com a saúde mental dos funcionários e o impacto na produtividade das empresas foram alguns dos temas abordados durante o 1º Fórum de Saúde Mental realizado nesta quinta-feira, na Capital, no Teatro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Por conta do novo ritmo de vida, como o uso excessivo de ferramentas tecnológicas e carga horária de trabalho intermitente, especialistas alertam para o crescimento de problemas ligados à ansiedade e à depressão.
Promovido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio Grande do Sul (ABRH-RS), o evento tratou do tema “O bem-estar na agenda estratégica das organizações”. Ao falar na abertura do fórum para um público composto por profissionais das áreas de desenvolvimento humano, gestores em geral, médicos do trabalho, técnicos de segurança do trabalho, engenheiros de segurança do trabalho e empresários, o presidente da ABRH-RS, Pedro Fagherazzi, afirma que entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) vem chamando atenção para o aumento dessas doenças.
“A gente escolheu o tema da saúde metal nesse primeiro fórum do ano porque é um tema que está preocupando muito as organizações, as empresas e a sociedade como um todo”, avalia. Conforme Fagherazzi, a pandemia acentuou os problemas, mas não é a causa principal do “crescimento vertiginoso” de doenças silenciosas, como a depressão, provocadas pelo excesso de trabalho e novas tecnologias. Mais do que lançar luz sobre o tema, Fagherazzi explica que o objetivo é apresentar dados e experiências de algumas empresas sobre o assunto e buscar alternativas para lidar com esses problemas.
“A preocupação do brasileiro com ansiedade e depressão já ultrapassou longamente a preocupação com câncer, por exemplo, que é uma doença que todo mundo se apavora, mas hoje o câncer está em torno de 30% de preocupação. E ligados a doenças mentais mais de 60%”, compara. Entre as causas de depressão, ele destaca o novo estilo de vida da sociedade, com as pessoas dormindo menos e permanecendo mais tempo no celular. A pessoa sai da empresa e continua recebendo mensagens, e-mails, e aí não desliga. Então isso tudo vai estressando. É uma doença silenciosa e quando a gente vê chega no Burnout (distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema)”, frisa.
De acordo com Fagherazzi, a OMS e a OIT estimam que são perdidos por ano no mundo 12 bilhões de horas de trabalho em função de problemas por afastamento de profissionais. “Em dinheiro, a estimativa dessas duas entidades internacionais é de perda em torno de 1 trilhão de dólares”, afirma. “Ouvi de um presidente de uma empresa na semana passada que pessoas com problemas financeiros, com dívidas, têm uma perda de produtividade de 15%”, completa. O consultor em segurança do trabalho Alexandre Eberle Alves, que tem experiência de 14 anos no setor de energia elétrica, tratou sobre “A saúde mental e os comportamentos de risco no trabalho”.
“Quando a gente fala de comportamento de risco, a gente tem que avaliar várias coisas. O que faz com que a gente se exponha ao risco? Esse é um dos pontos que a gente tem que trabalhar muito, porque a empresa muitas vezes nos coloca numa situação que a gente vai estar exposto a um risco elevado e depois nos cobra quando a gente se acidenta. Isso vem mudando muito, a gente olha como era a segurança no passado e como é a segurança hoje? O que a gente imagina de segurança para o futuro? Com certeza já demos muitos passos, avançamos muito, mas ainda temos muito por avançar”, reforça.
Para Alexandre, trabalhar a saúde mental das pessoas é fundamental. E lembra que é preciso também treinar e fortalecer as pessoas pra que elas se cuidem. “Quando eu começo a colocar essas pessoas numa situação de risco e quando ela se acidenta eu digo que faltou percepção de risco, o que estou fazendo é uma maldade, colocando no colo da vítima. A segurança do trabalho já melhorou muito nisso. A engenharia de segurança do trabalho moderno diz o seguinte: a minha ação como funcionário não deve ser a ação que vai causar ou evitar o acidente”, destaca.
Ele reforça que o exemplo de segurança deve ser um exemplo de liderança dentro da empresa. A partir dali ela começa a ser o espelho, a ser a referência, começa a dizer o que aceita e o que não é. A gente fala de cultura organizacional. A liderança é que traz isso para nós. A gente precisa trabalhar muitos os líderes para que eles possam começar a trazer isso para as pessoas”, completa.