Especialistas do RS debatem vigilância, assistência e diagnóstico da leptospirose durante enchentes

Especialistas do RS debatem vigilância, assistência e diagnóstico da leptospirose durante enchentes

Experiência do Rio Grande do Sul no enfrentamento à doença durante emergências climáticas deste ano foi o ponto de partida para o debate

Correio do Povo

O contato direto com água contaminada deve ser evitado ao máximo durante o alagamento e também na limpeza do ambiente

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As ações e orientações da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (SES) no enfrentamento à leptospirose durante emergências climáticas foram abordadas por especialistas e gestores de saúde das esferas federal, estadual e municipal, no Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), na última semana. Esse foi o primeiro de uma série de encontros que deverão ser realizados com o objetivo de preparar os serviços de saúde de todo o país diante de futuras inundações e alagamentos que possam ocorrer no país.

As datas para os próximos encontros serão definidas pelo Ministério da Saúde, promotor da iniciativa. “Esse processo de discussões tem a finalidade de formular um consenso nacional entre os órgãos públicos e a sociedade científica, para que possamos estar preparados para novas situações, com mais conhecimento, mais experiência e mais organização", afirmou a diretora do Cevs, Tani Ranieri.

“Quando tivermos acumulado todo o conhecimento, toda a experiência que Rio Grande do Sul e o município de Porto Alegre tiveram nas áreas da vigilância, assistência e diagnóstico da leptospirose, poderemos traçar um conjunto de ações que passarão a nortear as recomendações para a leptospirose, tanto em nível federal ou estadual quanto municipal”, frisou a diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis, da Secretaria de Vigilância, Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde, Alda Maria da Cruz. Ela também pontuou que a participação das sociedades científicas, tanto as sociedades de nefrologia quanto a de infectologia, também fortaleceram muito a discussão.

Participaram deste primeiro encontro, representantes de Departamentos do Ministério da Saúde, Força Nacional do SUS, da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre, da Organização Mundial da Saúde, do Conselho Estadual da Saúde, do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems/RS), infectologistas da Unicamp, PUC São Paulo, Universidade Federal do Ceará, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Hospital de Emílio Ribas, Hospital das Clínicas de São Paulo, Universidade Federal do Acre, Instituto Evandro Chagas, Instituto Adolfo Lutz, Fiocruz e Conselho Federal de Farmácia, além de outra instituições .

Impacto epidemiológico

Conforme a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Cevs, Roberta Lenhardt Vanacor, “as mudanças climáticas impactaram significativamente os casos de leptospirose no Estado, especialmente durante eventos extremos de chuvas e enchentes”. Roberta informou que em setembro de 2023, a calamidade provocada pelas enchentes na época levou a um aumento expressivo no número de notificações de casos suspeitos (2.206 em 2023, comparados aos 1.130 de 2022) e de casos confirmados (480 em 2023 contra 293 em 2022). Somente em setembro de 2023 foram notificados 468 casos, dos quais 86 foram confirmados, frente a 53 casos notificados e 10 casos confirmados em 2022 no mesmo período.

Em maio deste ano, a situação ficou mais grave. Segundo Roberta Vanacor “as chuvas intensas resultaram em um recorde de notificações, com 3.753 casos suspeitos apenas em um mês, enquanto o total anual chegou a 7.867, mais que o triplo do ano anterior. Os casos confirmados também subiram drasticamente, atingindo 1.256 em 2024, sendo 870 casos confirmados somente entre os meses de maio e junho, evidenciando como esses períodos de calamidade agravam a disseminação da doença, associada às condições insalubres geradas por enchentes”.

Transmissão e sintomas

A leptospirose é uma doença infecciosa febril aguda e transmitida a partir da exposição direta ou indireta à urina de animais (principalmente ratos) infectados, que pode vir a estar presente na água ou lama em locais com enchente. O contágio pode ocorrer a partir da pele com água contaminada, além de também por meio de mucosas.

Os principais sintomas da leptospirose são: febre, dor de cabeça, fraqueza, dores no corpo (em especial, na panturrilha) e calafrios. Eles surgem normalmente de cinco a 14 dias após a contaminação, podendo chegar a 30 dias.

Mediante os sintomas, a orientação é procurar um serviço de saúde imediatamente e relatar se teve contato com alagamentos.

Tratamento

Ao suspeitar da doença, a recomendação é procurar um serviço de saúde e relatar o contato com exposição de risco. O uso do antibiótico, conforme orientação médica, está indicado em qualquer período da doença, mas sua eficácia costuma ser maior na primeira semana do início dos sintomas.

Limpeza e Desinfecção

As enchentes podem trazer diversos riscos à saúde, especialmente pela contaminação das águas com esgoto, resíduos químicos e bactérias como a Leptospira, causadora da leptospirose. Para proteger sua saúde e de sua família, é fundamental realizar a limpeza e desinfecção correta dos ambientes atingidos.

São itens de proteção o uso de luvas, botas de borracha e, se possível, máscaras durante a limpeza. O contato direto com água contaminada deve ser evitado ao máximo. Também podem ser focos de contaminação, devendo por isso serem removidos, a lama, lixo e qualquer objeto que não possa ser limpo ou recuperado.

Pisos, paredes e superfícies devem ser limpas e lavadas com água limpa e sabão. Essa etapa remove a sujeira grossa e facilita a desinfecção posterior. A limpeza é essencial para evitar doenças como leptospirose, diarreias e outras infecções causadas pela contaminação.


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