Saúde

Fórum da Amrigs debate impactos das mudanças climáticas na saúde

Evento abordou reflexões sobre a enchente de maio de 2024 e temas tratados na recém lançada revista científica internacional Trends in Health Sciences

Painéis contaram com assuntos voltados aos efeitos das mudanças climáticas na saúde pública e no planeta
Painéis contaram com assuntos voltados aos efeitos das mudanças climáticas na saúde pública e no planeta Foto : Marcelo Matusiak / Divulgação / CP

O que ainda é preciso para mitigar os danos causados por fenômenos climáticos extremos, e como a Medicina e as políticas de saúde podem se adaptar e atuar de maneira mais eficaz na prevenção e no atendimento a vítimas de desastres dessa magnitude? Esses questionamentos foram levantados por especialistas, pesquisadores e profissionais da saúde no Fórum de Saúde Planetária: Emergência Climática e Saúde, promovido pela Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs). O evento debate na tarde desta sexta-feira, dia 25, os impactos das mudanças climáticas na saúde global, com foco nos efeitos ainda sentidos, aproveitando o período de um ano da tragédia climática de maio de 2024.

O evento trouxe pesquisadores que assinam artigos na nova edição da revista científica tradicional, que passa a se chamar Trends in Health Sciences, lançada nesta quinta-feira, dia 24, marcando uma nova fase editorial da publicação, que está com novo formato e com ampliação internacional. O periódico adotará o modelo de fluxo contínuo, que possibilita a divulgação mais ágil dos artigos e garante a atribuição de DOI.

Um dos pesquisadores foi Carlos Dora, que tratou do seu artigo publicado "A sustentabilidade é mais do que um objetivo grandioso: como a gestão urbana pode fortalecer a resiliência a desastres climáticos e simultaneamente melhorar a saúde e o bem-estar dos cidadãos a curto e a longo prazo".

Para ele, políticas públicas municipais existentes no período da enchente provaram que Porto Alegre não era uma cidade resiliente para o clima, e isso impactou os diversos setores. "Ao não pensar na resiliência, não pensar na saúde, nessas políticas urbanas, quem paga a conta é o cidadão. O cidadão acaba financiando atividades que vão prejudicá-lo a médio e longo prazo, prejudicar a sua saúde e vão não responder às questões de resiliência".

Os efeitos das mudanças climáticas na saúde pública e no planeta foi tratado por Airton Stein, médico de Família e Comunidade do Grupo Hospitalar Conceição e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). “Os países com maior responsabilidade histórica pelas mudanças climáticas provavelmente serão os menos afetados por suas consequências. Esse é o grande paradoxo que estamos enfrentando. Vemos eventos extremos não só aqui, mas em diversas partes do mundo, como os que ocorreram no ano passado na enchente e no Rio Grande do Sul, ficou claro que vivemos uma situação de iniquidade e injustiça climática, ou seja, desigualdades sociais e econômicas fizeram com que os grupos mais pobres e vulneráveis fossem os mais impactados”, afirmou.

Para ele, é importante relacionar a medicina com as políticas de saúde para pensar em prevenir e atender a população. "Essa é a ideia da saúde planetária, pensar a saúde da população que vive os os mudanças climáticas e pensar a saúde do planeta também", diz.

Nos dois primeiros anos, cada edição da revista será temática, sendo a primeira sobre saúde planetária. Serão três edições por ano, publicadas a cada quatro meses. Os números seguintes abordarão assuntos como dengue, cigarro eletrônico, inteligência artificial na saúde e bancos de dados para a saúde. Os demais contarão com artigos diversos sobre a área. A revista será internacional, com a presença de autores brasileiros. Na atual, conta com autores de Londres, Suíça, Inglaterra e Peru. Apenas essa edição será bilíngue.

A edição de estreia foi dedicada ao tema central do evento, Saúde Planetária, e trará contribuições de especialistas brasileiros e estrangeiros. A enchente foi tópico de alguns artigos, com relatos de experiência de profissionais da saúde que trataram com as questões da enchente, um da Universidade Federal de Ciências da Saúde

Flávio Milman Shansis, idealizador do evento e novo editor-chefe da revista científica da Amrigs, salientou que a ideia da organização do fórum foi conciliar o período, prestes a completar 1 ano da enchente, para trazer a contribuição da ciência para pensar os eventos climáticos extremos. “É uma contribuição da sessão médica, trazendo a ciência para pensar o que aconteceu, e o que do ponto de vista de ciência pode entender o que aconteceu em maio de 2024”, diz.

A médica oncologista Alice Zelmanowicz, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), abordou no painel "Rio Grande do Sul: lições aprendidas da enchente de 2024" a experiência que coordenou junto com docentes, servidores técnicos administrativos, alunos de graduação e pós graduação da UFCSPA da enchente junto ao Viaduto José Eduardo Utzig.

“Quando começou a notícia de que a gente teria um grande evento climático com com cheias, né, sem precedente de pelo menos nos últimos 50 anos, a gente começou a se mobilizar e se colocou à disposição da Secretaria Municipal de Saúde para somar forças, sobre a responsabilidade e a gerência deles”, disse. A ação auxiliou pessoas que necessitavam de oxigênio, de medicamentos de uso contínuo e pessoas traumatizadas emocionalmente quanto fisicamente. Também estiveram à frente da organização de um abrigo voltado apenas para mulheres e crianças.