Gestores de hospitais do RS apelam por intervenção do Estado na crise da saúde

Gestores de hospitais do RS apelam por intervenção do Estado na crise da saúde

Encontro, na Federasul, reuniu os representantes da Santa Casa de Porto Alegre, Hospital de Clínicas de Passo Fundo, Hospital São Lucas da PUCRS e Hospital de Clínicas de Carazinho

Paula Maia

Palestrantes afirmaram que a crise já era prevista e que é necessário uma intervenção urgente do Estado

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A crise na saúde ocupou o centro das discussões no evento "Tá na Mesa" da Federasul desta quarta-feira. Com o tema "Os desafios da saúde pública gaúcha: financiamento cruzado entre SUS e Planos de Saúde", líderes como Julio Flávio Dornelles de Matos, diretor-geral da Santa Casa de Porto Alegre, Luciney Bohrer, administrador do Hospital de Clínicas de Passo Fundo, Rogério Pontes Andrade, diretor administrativo-financeiro do Hospital São Lucas da PUCRS, e Jocélio Cunha, presidente do Hospital de Clínicas de Carazinho, destacaram as dificuldades e preocupações enfrentadas no setor.

Eles alertaram para uma crise já prevista na saúde do Rio Grande do Sul, ressaltando a necessidade urgente de intervenção do Estado, políticas públicas a longo prazo, reorganização nos repasses de valores e aumento da tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) para evitar uma escalada ainda maior da crise.

O coordenador do grupo de trabalho da saúde da Federasul, Luciano Zuffo, ressaltou a importância da discussão do trabalho dos hospitais filantrópicos no Estado e a situação crítica enfrentadas por eles. Zuffo apresentou uma pesquisa realizada pela federação em 173 empresas – 51% serviços 31% comércio 17% indústria – e que mostra que 63% das empresas não possuem plano de saúde para os funcionários e 72% não possuem medidas de promoção e prevenção da saúde.

Os dados apresentados mostraram que o financiamento do SUS no Brasil é de R$ 538,7 bilhões. Esse valor está dividido em 28,5% oriundos da União, 28,5 dos Estados e 43,1% dos municípios. Dos recursos do SUS vindos do Estado são R$ 13,6 bilhões, sendo que 49,6% é destinado a assistência hospitalar e ambulatorial, 37,8% para a atenção básica e 12,6% outros serviços. No Estado são 3,598 milhões de beneficiários de planos de saúde, sendo 27,2% do IPE, 17,3% da Unimed Porto Alegre, 24,3% da Unimed estadual, 24,3% da Unimed federação e 31,1% de outros planos.

Crise era esperada

O diretor-geral da Santa Casa, Julio de Matos, afirmou que a crise imposta é uma realidade prevista há anos e agravada recentemente pela situação do Instituto Cardiologia e, consequentemente, com a redução do atendimento nos hospitais da região Metropolitana. "As demandas não encontraram acesso e a sobrecarga veio para Porto Alegre", explica. De acordo com Matos, em 2023 a Santa Casa atendeu pacientes de 491 dos 497 municípios.
Matos afirmou que os hospitais estão no limite das suas estruturas assistenciais. E é necessário que se reveja a situação no entorno de Porto Alegre, que também está atendendo na sua capacidade máxima.

Ele ressaltou, ainda, que o hospital é a última instância e que as ações devem começar na base, na atenção primária e nas linhas de cuidados para o processo assistencial. Ele considera que há necessidade de uma intervenção do Estado e uma política pública a longo prazo. O diretor-geral da Santa Casa observa que desde o nascimento do SUS, há 30 anos, as políticas públicas são descontinuadas e “para dar certo é necessário um projeto de saúde de estado, não de governo”.

O presidente do Hospital de Clínicas de Carazinho, Jocélio Cunha considerou que o problema e as dificuldades são os mesmos em todos os hospitais. Ele pontuou que o atendimento SUS no município passou dos 80% e que o déficit gerado no ano passado foi de R$ 17 milhões. “Estamos indo para uma situação complexa e que se agrava com a situação do IPE Saúde”.

Financiamento em xeque

Para o administrador do Hospital de Clínicas de Passo Fundo, Luciney Bohrer, o grande agravante na crise da saúde é o autofinanciamento dos hospitais filantrópicos do Estado. Ele revelou que 127 hospitais filantrópicos do Rio Grande do Sul devem aos bancos o montante de R$ 1,6 bilhão e são responsáveis por mais de 80% dos atendimentos no Estado.

Bohrer considera que o agravamento da crise também é consequência do fechamento de mais de 80 hospitais nos últimos anos. O administrador ainda faz um alerta sobre o possível aumento da demanda no SUS devido a atual situação do IPE Saúde. “Precisamos nos preparar para as pessoas que vão deixar o IPE e ir para a fila do SUS”, destacou Bohrer.

Na conclusão de sua fala Bohrer fez um apelo aos agentes públicos e empresários para que a rede filantrópica do Estado seja preservada. “Esses são realmente quem estão na ponta salvando a população gaúcha”, afirmou.

O diretor administrativo-financeiro do Hospital São Lucas da PUCRS,Rogério Pontes Andrade destacou que o maior número de atendimento nas emergências da capital são de classificação grave e que o quadro epidemiológico e a situação atual de gestão da saúde pressionam para uma mudança urgente. Ele acredita que um dos grandes problemas dos hospitais filantrópicos é a busca por outras fontes de recursos para viabilizar o déficit do SUS.

Andrade lembrou que o atendimento na PUCRS é 60% SUS e 40% planos de saúde e que o atendimento na área de cardiologia praticamente dobrou, além dos atendimentos das doenças neurológicas e cardiovasculares.


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