Com emergências superlotadas, hospitais de Porto Alegre atendem somente pacientes com risco de morte

Com emergências superlotadas, hospitais de Porto Alegre atendem somente pacientes com risco de morte

São Lucas da PUC, Santa Casa e Clínicas de Porto Alegre registraram mais de 200% de lotação nesta quarta-feira

Paula Maia

Hospital de Clínicas de Porto Alegre enfrenta cenário de superlotação

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As emergências de Porto Alegre operam nesta quarta-feira mais uma vez superlotadas. O Hospital de Clínicas de Porto Alegre registrava pela manhã 251% de lotação. O Hospital Conceição 184%, São Lucas da PUC 210% e a Santa Casa 207%. Nas Unidades de Saúde a situação não era diferente. O Pronto de Atendimento da Cruzeiro do Sul chegou a registrar 300%, o Pronto de Atendimento da Bom Jesus 285% e a Unidade de Pronto Atendimento Moacyr Scliar, 270%.

Patricia Alves, de 37 anos e grávida de sete meses, contou que procurou atendimento clínico no Pronto de Atendimento da Bom Jesus devido a um inchaço na perna na noite de ontem e quando chegou tinha cerca de 45 pessoas na sua frente. Ela resolveu voltar para casa e retornou às 5h ao posto, quando já tinham 80 pessoas aguardando para serem atendidas.

Leila Lopes, de 51 anos, procurou atendimento para uma crise de tosse. Ela chegou no Pronto de Atendimento da Bom Jesus às 22h e afirmou que recebeu a informação de que seria atendida às 10h do outro dia. Ela contou que voltou para casa e retornou as 9h para a Unidade de Saúde e esperou mais de três horas para ser atendida. “Dormi, acordei e voltei. É um descaso. A médica afirmou que tem quatro clínicos geral e dois pediatras”, contou a aposentada por invalidez que também faz tratamento para o coração e tem 18 pinos na coluna.

O Hospital de Clínicas tem uma capacidade de 56 leitos. Nesta quarta-feira, 140 pacientes estavam internados e apenas casos de risco de morte eram atendidos.

Demanda reprimida

O chefe da emergência do Hospital de Clínicas, Daniel Pedrollo, disse que houve um aumento da demanda na última semana, mas que o crescimento de atendimento vem ocorrendo nos últimos dois anos. Ele revelou que em 2022 foram cerca de 20 mil atendimentos e em 2023 o número chegou a 24 mil atendimentos. “Ainda tinha uma demanda muito reprimida da pandemia. E uma certa dificuldade de reestabelecimento dos serviços depois do fim da pandemia”, considerou.

Pedrollo explicou que as demandas das emergenciais são multifatoriais e não destacou nenhuma causa específica no aumento da demanda, mas diz que a redução de atendimento na região Metropolitana acaba refletindo na Capital. Ele também mencionou a importância da triagem rigorosa e do possível encaminhamento de pacientes para outras unidades de saúde, a fim de priorizar os casos mais graves e evitar uma maior sobrecarga.

O chefe da emergência reconheceu que frequentemente os profissionais da saúde lidam com um volume de pacientes além do ideal, mas enfatizou que, apesar das restrições de recursos, a equipe se esforça para não negar atendimento, priorizando casos de maior gravidade.

A espera para atendimento na manhã desta quarta-feira no Clínicas chegava a três horas. Pedrollo reconheceu os atrasos, mas assegurou que os pacientes são monitorados e reavaliados enquanto aguardam atendimento.

O médico destacou a complexidade da situação, com muitos pacientes aguardando internação na emergência e enfrentando dificuldades de acesso aos leitos. Ele ressaltou a necessidade de encontrar soluções para dar vazão a essa demanda crescente, especialmente considerando o envelhecimento da população e o surgimento de patologias relacionadas à idade.

"A gente precisa trabalhar junto com as secretarias, município, e Estado para tentar organizar um pouco essa demanda que existe. E que a gente consiga outros locais para absorver essas internações. Não só em Porto Alegre, mas também na região metropolitana. Temos pacientes que precisam de internação e que muitas vezes essa internação não necessariamente precisa ser feita em hospitais de alta complexidade”, considerou.

O Hospital São Lucas da Puc também estava com restrição de atendimento na emergência devido à superlotação. De acordo com o coordenador médico da emergência, Osmar Mazetti, a medida tem o objetivo de preservar a segurança dos pacientes e a manutenção do cuidado e da qualidade do atendimento. "A superlotação é a realidade de todo sistema público de saúde e a quantidade de leitos disponíveis no HSL é menor em relação às outras instituições, o que ocasiona uma superlotação mais crítica em nosso hospital", explicou.

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