GHC pede apoio da rede hospitalar de Porto Alegre para combater superlotação

GHC pede apoio da rede hospitalar de Porto Alegre para combater superlotação

Presidente do Grupo Hospitalar Conceição destaca que o número de atendimentos é próximo do período agudo da Covid-19

Felipe Faleiro

A proximidade do inverno traz aumento da preocupação aos gestores de unidades de saúde e hospitais de Porto Alegre

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A proximidade do inverno traz aumento da preocupação aos gestores de unidades de saúde e hospitais de Porto Alegre. O aumento visível da procura de pacientes pelos locais de referência causa, diariamente, superlotação nas emergências e atendimento nem sempre no momento desejado. Ainda que a Prefeitura tenha ampliado para 16 o número de postos de saúde abertos até às 22h, o que reduz o problema, a sensação é que tal medida não está sendo suficiente.

“Estamos com números de atendimentos próximos aos do período agudo da Covid-19”, afirma o presidente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Gilberto Barichello. O GHC, maior rede 100% SUS do Sul do Brasil, está investindo R$ 29 milhões em um novo Centro de Oncologia, ao lado do Hospital Conceição, após anúncio feito em Porto Alegre pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, no começo deste mês. Nesta quarta-feira, Barichello foi a Brasília solicitar a liberação célere dos recursos ao ministério.

Tal questão se coloca como um plano de fundo aos pacientes da unidade, que necessitam aguardar horas na fila por um procedimento clínico. Tanto quanto a rede precisa de recursos para a importante obra, necessita também para o atendimento básico. O gestor atribui o problema a uma série de fatores, que passam principalmente pelo poder público. “Entre eles, nos últimos seis anos, houve um processo de desmonte do SUS no Brasil, o teto de gastos causou corte de recursos para a saúde, e houve uma migração de pacientes dos planos privados para o sistema público”, pontua ele.

Não é apenas isto. Hoje, o Conceição é referência para cerca de 500 mil pessoas de Porto Alegre e municípios de todo o Estado, provado pelo trânsito de veículos de prefeituras a todo momento na porta da emergência principal da unidade. Junto a ela, um aviso em letras grandes informa que não há espaço para mais ninguém. Mesmo assim, sem ter a quem recorrer, eles continuam chegando. Levantamento interno do GHC aponta que, no começo da manhã de ontem, o espaço estava com lotação 272% acima de sua capacidade, ou 90 pessoas internadas e outras 39 em observação, para um total de 59 leitos.

“A situação tende a se agravar”, projeta um temeroso Barichello. Na UPA Moacyr Scliar, bairro Parque São Sebastião, na zona Norte, a lotação da emergência alcançou inimagináveis 1285% na última terça-feira. A unidade dispõe de 12 leitos, mas tinha 54 internados e 100 pessoas em observação, também conforme o GHC. Diante de uma tragédia iminente, a direção resolveu agir, agendando uma reunião com o secretário municipal de Saúde, Fernando Ritter, para propor não apenas um plano de contingência, mas um apoio dos demais hospitais de referência em suas áreas.

Por exemplo, na área de traumatologia, apenas o Cristo Redentor e o Hospital de Pronto Socorro são referência para fraturas expostas, por exemplo. A SMS contesta a informação e inclui ainda o Hospital Independência, da Rede Divina, na listagem. A demanda da rede pública foi agravada com a crise no IPE Saúde, entidade à qual o Estado busca uma reestruturação, porém há cerca desconfiança por parte da classe médica, que manteve, nesta semana, a paralisação dos serviços conveniados por tempo indeterminado.

O Programa Assistir, da Secretaria Estadual de Saúde (SES), também causa incertezas e preocupações, já que, nas palavras da gestão do GHC, retira recursos de hospitais da Região Metropolitana e Capital, mesmo com o constante fluxo de pessoas necessitando de atendimento a partir destes municípios. Ou seja, os hospitais de Porto Alegre que recebem estes recursos precisam fazer mais com menos.

Outra questão latente é a procura de pacientes diretamente pelos hospitais para demandas que eventualmente poderiam ser resolvidas nas unidades de pronto atendimento. “Caso mais postos abrissem aos finais de semana, por exemplo, poderia desafogar nossa estrutura”, comenta o presidente do GHC. Ontem, a Santa Casa de Misericórdia tinha 67 pessoas em observação e internados, e cinco aguardando atendimento, para 24 leitos, ou 279% de lotação.

No Pronto Atendimento da Bom Jesus, a capacidade estava excedida em 442%, ou sete leitos para 31 em observação e dois esperando atendimento. Na média dos sete hospitais e quatro UPAs, 201,5% de lotação em emergências para adultos. Há algumas esperanças, porém. Além da abertura dos postos, que visa desafogar os atendimentos em um primeiro momento conforme a demanda, segundo a SMS, a Prefeitura abriu, nesta semana, processo seletivo para contratar 111 profissionais temporários na área da Saúde.

A Saúde do município reconhece que há grande pressão em toda a rede assistencial da Capital, e explica que ouvirá as demandas do GHC na reunião de sexta. Afirma também que duas unidades de saúde que haviam sido fechadas foram reabertas nos últimos anos. A SMS informa ainda que a rede de atenção primária está montada com 80% de cobertura, a maior da região Sul, à frente de capitais como Florianópolis e Curitiba.

 

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