Saúde

Metanol: crise completa um mês com alerta para falsificação de bebidas

Já foram confirmados 58 casos e 15 mortes por intoxicação com o produto

Contaminação atingiu principalmente São Paulo
Contaminação atingiu principalmente São Paulo Foto : Divulgação Polícia civil/RJ

Trinta dias após a divulgação dos primeiros nove casos suspeitos de intoxicação por metanol em bebidas, em 26 de setembro, uma série de medidas coordenadas por órgãos públicos e de saúde foram implementadas para combater a crise. A contaminação, que atingiu principalmente São Paulo, foi rastreada até a falsificação de bebidas alcoólicas que utilizavam álcool combustível adulterado com metanol.

O último boletim, divulgado na sexta-feira (24), confirmou 58 casos de intoxicação e 15 mortes. Os óbitos confirmados se distribuem por São Paulo (9), Paraná (6) e Pernambuco (6). Outras 50 notificações de casos e nove óbitos (em Pernambuco, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e São Paulo) seguem em investigação, embora 635 notificações e 32 óbitos já tenham sido descartados.

Resposta imediata e consolidação da investigação

Os Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox), a primeira rede de alerta, assumiram a frente na detecção. O Ciatox de Campinas (SP) emitiu o alerta inicial em 26 de setembro, atribuindo os casos à ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas, fora do padrão de notificações anteriores.

Mobilização e Comitê Federal: Apesar do alerta inicial, o consumo só foi afetado de forma mais ampla na semana seguinte, quando estados mobilizaram suas vigilâncias sanitárias e polícias. As ações foram formalmente integradas em 07 de outubro, com a criação de um comitê do governo federal. Na mesma data, foi anunciada a aquisição e remessa de etanol farmacêutico e do antídoto fomepizol aos hospitais polo (que foram organizados mesmo em regiões sem confirmação de casos, como Norte e Centro-Oeste).

Confirmação da Adulteração: Em 08 de outubro, o Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo confirmou que a alta concentração de metanol nas garrafas contaminadas examinadas era anormal e havia sido adicionada.

Fechamento do Primeiro Ciclo: Vinte e um dias após o primeiro alerta (17 de outubro), a Polícia Civil de São Paulo localizou os dois postos de combustíveis de onde saiu o álcool adulterado e a distribuidora de bebidas onde os produtos falsos eram envasados. "O primeiro ciclo foi fechado. Vamos continuar as diligências para identificar a origem de todas as bebidas adulteradas no estado”, disse o delegado-geral da Polícia Civil, Artur Dian.

Avanço tecnológico e impacto no comércio

A crise impulsionou o desenvolvimento de soluções tecnológicas e aprimoramento de protocolos:

Novo Protocolo de Análise: A Polícia Técnico-Científica de São Paulo iniciou em 09 de outubro a adoção de um novo protocolo de identificação de bebidas adulteradas, diminuindo o tempo de análise. O estado conta com centros de excelência como o Ciatox de Campinas e o Laboratório de Toxicologia Analítica Forense (Latof) da USP, em Ribeirão Preto.

"Nariz Eletrônico": Pesquisadores do Centro de Informática da UFPE desenvolveram um "nariz eletrônico" que identifica a presença de metanol em bebidas alcoólicas a partir de uma única gota. O professor Leandro Almeida explicou que o equipamento transforma aromas em dados para uma inteligência artificial reconhecer a "assinatura do cheiro" da amostra.

A atuação integrada permitiu respostas mais rápidas, mas o setor de bares e restaurantes (Abrasel) registrou uma diminuição de até 5% do consumo somente em setembro.

Ações legislativas

O tema também chegou ao Legislativo. Na capital paulista, uma CPI iniciará os trabalhos amanhã, ouvindo autoridades estaduais sobre os esforços de combate à falsificação. Na Câmara dos Deputados, o PL 2307/07, que torna crime hediondo a adulteração de alimentos e bebidas, pode ser votado nesta semana.

Veja Também