Esta quarta-feira é marcada pelo Dia Mundial da Psoríase, doença que não é contagiosa, mas devido ao desconhecimento da população acerca da condição, é por vezes tratada como se fosse. Pacientes com a enfermidade autoimune convivem com todos os tipos de estigmas e precisam se adaptar novamente ao convívio social por conta da reação negativa e ao preconceito.
Caracterizada pela formação de manchas brancas ou rosadas recobertas por um processo de descamação esbranquiçado, a psoríase é um mal crônico. Diversos tratamentos, contudo, permitem mais conforto para quem tem a doença.
As manchas, que podem aparecer em qualquer lugar do corpo, causam estranheza a desconhecidos. Médicos e pacientes relatam a estigmatização em torno da psoríase.
“É uma doença muito estigmatizante. O paciente se restringe a usar uma roupa mais aberta. São pessoas que muitas vezes no verão usam blusas de manga comprida, não vão à praia. Esse bem-estar social é muito acometido”, relata o médico dermatologista Rodrigo Duquia, professor na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e coordenador do ambulatório de doenças imunomediadas da Santa Casa da Capital.
Preconceito em diferentes momentos
Maria da Graça Salles de Oliveira convive com esse tipo de situação desde 1987, quando passou a observar as primeiras manchas na pele. “No primeiro momento, eu me afastei da minha família porque não sabia o que era. Tinha todos os cuidados em relação a passar para alguém”, conta
“Sofri muitos preconceitos quando pegava ônibus para o trabalho. Quando ficava com uma área exposta, por exemplo, uma manga curta, as pessoas viam no meu cotovelo aquilo bem forte. Elas olhavam e eu dizia que não tem problema. Levei na ‘galhofa’, dizia que não tem problema, que não vai pegar em ninguém, não é contagioso”, relata ela.
Mesmo assim, Graça nunca deixou se abater. Ela sempre foi assim, diz. Brincalhona, buscando ver o melhor da vida. E assim buscou levar a psoríase. “Nunca fiquei mal por causa disso, sabe? Quando me conscientizei do que era e resolvi aceitá-la, eu digo, tenho que mudar, não posso ter vergonha. E agora tem momentos na minha vida que nem penso que eu tenha psoríase. Mas tem pessoas que ainda passam por constrangimentos, sim”.
Mas nem sempre é fácil. Graça relata uma situação desconfortável, quando passou por um constrangimento. "Eu sempre doei sangue. Nunca tive problema quanto a isso. Até que vi um senhor muito mal próximo ao hemocentro. Disse que precisava de sangue do fator Rh positivo para sua esposa. Me disponibilizei. Quando fomos lá, a médica disse que eu não podia doar”, conta.
"Para mim foi novidade. Ela insistiu, foi até meio indelicada, rígida. Até que o senhor disse que preferia que sua mulher corresse esse risco do que morresse. E eu doei”, acrescenta. Depois desse episódio, não passou a ser mais doadora.
Escala em que pessoas podem ser afetadas
Pelo que relata, Graça lidou bem com esses casos ao longo de sua vida. Mas nem todo mundo é afetado da mesma maneira. “Hoje em dia, a gente tem uma demanda de redes sociais, de fotos das pessoas cultuarem o corpo. Daqui a pouco faz muita atividade física, tem um corpo bonito, mas ela tem uma mancha que se sente mal. Isso está muito associado com a psoríase, com depressão, ansiedade”, afirma Duquia.
“Têm vários estudos mostrando que as pessoas com psoríase deixam de namorar, de se relacionar com outras pessoas porque têm vergonha. Eu já vi na parte clínica paciente dizer que perdeu o emprego, ou que negaram a oportunidade por causa da pele dele. Isso aparece muito nas pesquisas”, lamenta ainda o médico.
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Tratamento da psoríase
“A psoríase não tem cura, mas, hoje, dificilmente algum paciente fica com a doença. Os medicamentos que a gente tem hoje, eles, na grande maioria das vezes, deixam o paciente sem lesão nenhuma. Então, a psoríase hoje tem sido tratada como a maioria das doenças, como hipertensão, diabetes, que podem ser controladas”, continua o dermatologista.
Rodrigo Duquia fala sobre as formas distintas de medicação. “Há vários tipos de tratamento. A gente define de acordo com a anamnese (entrevista estruturada realizada por um profissional de saúde) do paciente. Se a pessoa tem poucas lesões, não tem nenhum acometimento sistêmico e também não se importa muito com as lesões, a gente pode optar por uma terapêutica tópica, com cremes. Agora, se o paciente já tem mais lesões, ou fica muito incomodado com elas, aí geralmente a gente inicia com medicamentos sistêmicos”, afirma.
Além de eficazes atualmente, os medicamentos já são acessíveis. “Temos medicamentos sistêmicos baratos, e geralmente a gente inicia com eles, não só pelo preço, mas porque são fármacos antigos, que se usam desde 1980, e, portanto, sabemos que são seguros. Geralmente são o metotrexato ou o neotigason”, resgata o médico.