Prestadora de serviços médicos encerra contratos nas três UPAs de Canoas por atraso de pagamentos
Ao menos 100 médicos poderão ficar sem postos de trabalho e o problema também afeta atendimentos em quatro Centros de Atendimento Psicossocial
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Cerca de 100 médicos que atuam nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) na cidade de Canoas correm o risco de perder seus postos de trabalho, deixando as unidades desassistidas sem profissionais para atender a população que busca atendimentos de saúde nestes locais. De acordo com o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), a empresa responsável pelos serviços médicos decidiu rescindir o contrato com o Instituto Brasileiro de Saúde, Ensino, Pesquisa e Extensão para o Desenvolvimento Humano (Ibsaúde), que administra essas unidades.
O motivo é o constante atraso nos repasses de recursos para que a empresa possa quitar as remunerações dos profissionais e a falta de previsibilidade para regularizar a situação. O mesmo cenário se repete nos quatro Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do município. "A falta de repasses já acendeu o sinal vermelho na saúde de Canoas, a exemplo do que vem acontecendo nos hospitais da cidade. Agora é a vez dos médicos das UPAs serem afetados e isso reflete, diretamente, na assistência à população. Vamos reunir os médicos em assembleia para que eles possam deliberar sobre o que poderá ser feito", afirma o presidente do Simers, Marcos Rovinski.
Ainda no início da noite de segunda-feira, a diarista de 38 anos (que não quis se identificar) esteve na UPA Niterói com fortes sintomas de dor no corpo e febre, mas saiu do local sem receber atendimento. "Informaram que não tinha médico e me orientaram a procurar uma unidade de saúde do bairro no dia seguinte. Achei até que era brincadeira, mas depois percebi que muita gente estava no local reclamando da mesma situação."
O Simers se reuniu com médicos das UPAs na semana passada, que relataram terem recebido em agosto a última remuneração integral. O Sindicato garante que cobrar um calendário para a quitação dos repasses. Um ofício será encaminhado ao Conselho Regional de Medicina (Cremers), Ministério Público e Prefeitura Municipal informando sobre a atual situação.
No Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC), desde a semana passada os médicos dão continuidade a uma mobilização, como forma de protesto, com suspensão dos atendimentos por cinco minutos a cada hora trabalhada devido ao atraso nos pagamentos. A mobilização não afeta o atendimento dos casos de urgência e emergência.
A prefeitura informou que Canoas é uma cidade referência em pronto atendimento no Rio Grande do Sul, com cinco UPAs, o maior número do estado. A situação que ocorre neste momento é pontual e se deve a questões envolvendo uma empresa terceirizada contratada pelo IB Saúde, entidade responsável pela gestão de quatro unidades de pronto atendimento na cidade. A administração esclarece que já notificou o IB Saúde para que seja encontrada uma solução para a complementação dos profissionais. A situação, segundo a entidade, deverá ser normalizada nesta quarta-feira, dia 20.
A prefeitura alerta que entrará com medidas jurídicas diante da interferência indevida de instituições de fora da cidade, que estão prejudicando a contratação de médicos, um ato considerado ilegal, já que existem decisões judiciais que garantem o pleno atendimento médico-hospitalar na cidade. Reforça, ainda, que vem realizando os pagamentos em dia ao IB Saúde desde abril, inclusive com aumento do repasse mensal. A pendência existente no momento, no valor de R$ 4.238.070,52, deve-se a repasses menores realizados entre os meses de janeiro a março deste ano.
Esse valor equivale a quase um mês do pagamento mensal feito à entidade. Valores pagos ao IB Saúde nos últimos meses: R$ 4.213.027,18 (agosto), R$ 4.164.816,30 (setembro) e R$ 4.574.150,77 (outubro). Neste momento, todas as UPAs estão com cobertura clínica. Em relação aos atendimentos pediátricos, que hoje só estão ocorrendo na UPA Caçapava, os casos mais graves são encaminhados à retaguarda pediátrica do Hospital Universitário, até que a situação seja normalizada.