O Ministério da Saúde já iniciou estudos para incluir a vacina contra herpes zoster, vírus que é manifestado na pele, no Plano Nacional de Imunização (PNI), o que poderá permitir sua oferta gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, ainda não há uma previsão de quando ela será incorporada gratuitamente a toda a população brasileira. Hoje, o imunizante está disponível apenas na rede privada. Em farmácias, o custo varia entre R$ 700 e 900, e as duas doses podem custar até R$ 2 mil.
O Ministério da Saúde informou, em nota, que solicitou avaliação técnico-científica da vacina contra o vírus à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), que realiza análises de custo-efetividade para subsidiar a decisão sobre incorporação ou não no calendário vacinal do SUS. A Conitec avalia a eficácia e a segurança do imunizante para a população, buscando determinar se a incorporação ao sistema é viável. Ao mesmo tempo, é feita também uma análise econômica, verificando a implementação da vacina nos recursos existentes do SUS, envolvendo custo de aquisição, aplicação e logística. A reportagem questionou a pasta por quanto tempo essa avaliação fica em análise e qual é o prazo, e aguarda posicionamento.
O ministério chegou a abrir uma consulta pública para discutir a incorporação da vacina contra herpes zóster no Programa Nacional de Imunização para idosos com mais de 80 anos e pessoas imunocomprometidas maiores de 18 anos, que ficou disponível até o dia 6 de outubro. As contribuições serão analisadas pela comissão técnica, que decidirá sobre a incorporação da vacina.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, já destacou a inclusão como uma prioridade da pasta. Em vídeo nas redes sociais, chegou a reconhecer a dificuldade de acesso à vacina e afirmou ser uma prioridade no ministério para integrá-la ao Sistema Único de Saúde, após a deputada federal Adriana Accorsi (PT-GO) ter passado pela doença.
💉 Vitória: vacina contra Herpes Zoster será disponibilizada no SUS!
— Delegada Adriana Accorsi (@Adriana_Accorsi) April 23, 2025
Na luta pela inclusão da vacina contra Herpes Zoster no SUS, fui recebida com muito carinho e atenção pelo Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que se solidarizou e assumiu o compromisso de disponibilizar a… pic.twitter.com/dk1n6JtvVz
O que é
Herpes zoster é uma reativação da do vírus da varicela zoster, o mesmo causador da catapora. Ou seja, todos que tiveram a catapora previamente têm chances de ter o vírus reativado. “Esse vírus fica adormecido com o passar dos anos e, principalmente por causa da queda da imunidade, pode acabar reativando”, explica Rafaela Mafaciolli, infectologista da Santa Casa de Porto Alegre.
Diferentemente da catapora, que as feridas podem ser encontradas em várias partes do corpo, a manifestação da herpes zoster é vista, geralmente, em um feixe nervoso ao lado do corpo, começando pela coluna e indo até o tronco. A ferida também fica concentrada em apenas um lado do corpo. O local mais comum, explica a infectologista, é na região do flanco, nas costas.
Sintomas
Os sintomas mais comuns apresentados são dor forte no local da infecção, associadas a mau jeito muscular, e sensação de queimação. "Tem pessoas que falam que parece dor de cálculo renal", exemplifica Mafaciolli. Passados alguns dias, as bolhas começam a aparecer, semelhante à herpes comum, manifestada na boca. Além da dor, a região apresenta sensibilidade e coceira. Algumas podem estourar, outras evoluem até a crosta.
“Esse vírus transmite enquanto tem a fase de bolhas, que nem a catapora, principalmente em quem não teve contato ou pessoas que têm a imunidade muito baixa”, pontua. Em alguns casos, os pacientes também podem apresentar febre e mal-estar. Geralmente, o quadro dura em torno de duas a quatro semanas, mas pode evoluir com o passar do tempo.
Complicações
Manifestados os sintomas por esse tempo, a dor pode persistir, às vezes estar presente ao longo da vida – fenômeno chamado de neuralgia pós-herpética. “Ou seja, esse feixe nervoso que foi acometido continua apresentando dor e sensibilidade, perda da sensibilidade e um formigamento”, explica a infectologista.
Outras complicações, em que o vírus pode acometer a região dos olhos, em casos mais graves, levando à perda visual. Outras complicações podem envolver o sistema nervoso central, levando à meningite e encefalite. Pessoas que têm imunidade muito baixa podem apresentar disseminação cutânea ou visceral, considerados casos com maior gravidade.
Tratamento
Dependendo da situação do caso, o paciente infectado pelo vírus tem indicação de internação para fazer o tratamento, que envolve uso de antivirais. Manifestados os sintomas, o paciente deve procurar atendimento médico preferencialmente nas primeiras 72 horas após o aparecimento das lesões. “A gente sabe que o vírus tem um ciclo, porém os antivirais podem conseguem diminuir esse ciclo, diminui o tempo de duração da doença e, consequentemente, também o risco das complicações. Quanto antes for tratado, melhor é”, diz.
Vacina
A vacina para herpes zoster é composta por duas doses, com intervalo de dois a seis meses em cada aplicação. A mais conhecida é a vacina Shingrix, que pode apresentar eficácia de 82% em 30 dias após a segunda dose. A imunização é indicada para pessoas a partir de 50 anos ou imunossupressores, como pacientes transplantados, oncológicos e com HIV. “Estando no SUS, ela teria uma medida de grande impacto na saúde pública, sem dúvida nenhuma, reduzindo complicações e custo indireto com esses tratamentos prolongados de dor, que os pacientes usam, às vezes, a vida inteira”, afirma a infectologista.
"Provavelmente ainda estão estudando a questão dos anticorpos, por exemplo, quanto tempo o anticorpo vai ficar no nosso corpo. Às vezes ele baixa e, entrando em contato com a doença, ele reativa", completa.