Sem clube, ginasta treina no CETE mirando vaga olímpica

Sem clube, ginasta treina no CETE mirando vaga olímpica

De olho nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Tomas Florêncio participa de avaliações que definirão os atletas que representarão o Brasil no Pan-Americano de Ginástica Artística, no Rio de Janeiro

Carlos Corrêa

Ricardo Giusti

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Tomas Florêncio é ginasta, mas não seria de todo um exagero afirmar que desde o início da pandemia da Covid-19, o paulista de 21 anos tem enfrentado uma corrida com obstáculos. Ao longo dos próximos dias, ele participa da última bateria de avaliações que define quem serão os atletas brasileiros que irão representar o país no Campeonato Pan-Americano de Ginástica Artística, Rítmica e de Trampolim, no Rio de Janeiro, em junho. Mas mais do que um lugar no pódio na competição continental, o que está em jogo é a chance de garantir um lugar nos Jogos Olímpicos de Tóquio, que, salvo surpresas, acontece entre julho e agosto.

Ocorre que os desafios que, em geral já são complicados em uma disputa desse nível, se tornaram um pouco mais difíceis desde que o mundo foi tomado pelo coronavírus, no ano passado. Tomas havia se mudado para Porto Alegre em 2017, para acompanhar o técnico Robson Caballero e ambos passaram a integrar o rol de atletas da Sogipa. Os treinos e as participações em torneios nacionais e internacionais vinham acontecendo da melhor forma, só que a primeira onda de demissões causadas pela pandemia atingiu Caballero, que acabou desligado do clube gaúcho. Tomas não titubeou e saiu junto. “Pedi para sair por causa dele. Vim por causa dele, tenho toda a minha base com o Robson, não tinha razão para deixar na mão”, justifica o ginasta.

Começou um período de incertezas. No primeiro momento em que tudo fechou, antes mesmo da saída da Sogipa, a saída foi treinar em casa, com os técnicos acompanhando pela tela do computador. Depois, já sem clube, foi preciso uma autorização especial para treinar no Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete). “Éramos só nós dois. O Robson então combinou que ele limpava o lugar e eu treinava. Isso é o tipo de coisa que me motivou, o cara se colocando à disposição, sem clube, sem salário”, elogia Tomas. Depois, o ginasta integrou uma delegação de atletas que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) mandou para Portugal, onde as atividades estavam liberadas. Por lá, foram dois meses de trabalho, até o retorno, em agosto de 2020. Na volta, como não havia nova autorização para treinar no Cete, a saída foi ir para São Paulo, treinar no Centro Olímpico. Só em janeiro, Tomas pôde voltar a trabalhar no Cete, mas foi por pouco tempo, porque logo em seguida foi ao Rio de Janeiro para treinos com a seleção e, no retorno, com o crescimento da Covid-19 no Estado, o Cete fechou de novo e a capital paulista foi, mais uma vez a saída. Isso sem contar que neste meio tempo, Caballero contraiu a doença e não pôde acompanhar de perto os treinamentos. Mais três semanas e foi dada uma nova autorização para treinarem sozinhos no Centro Esportivo, em Porto Alegre.

A estrutura do Cete não deixa nada a desejar para outros locais, já que os aparelhos estão em boas condições. O que não significa que não existem preocupações. “Fico com um pouco de medo porque somos só nós dois. Tenho medo de lesão, porque não tem médico, não tem fisioterapeuta, a gente conversa muito sobre como dosar os exercícios”, revela Tomas. Além disso, com ambos sem clube, algumas limitações vieram junto. O ginasta, por exemplo, recebe apenas a ajuda de custo da Confederação Brasileira. Como mora na zona norte, tem alternado o caminho até o Cete: um dia de ônibus, um dia de bicicleta. A ideia era usar o mínimo possível o transporte público pelo receio de contrair Covid-19 a tão pouco tempo de um período decisivo. Mas sem alternativas, foi o que restou.

Sobre as chances de conseguir a vaga em Tóquio, Caballero revela que a possibilidade veio antes do que se esperava. “Ele tem 10 anos de treino, para um ginasta ainda é cedo, tanto que estávamos trabalhando ele para os Jogos de Paris-24, mas como chegou a possibilidade de Tóquio, ótimo”, conta o treinador, observando que o adiamento em um ano da Olimpíada acabou aumentando as chances de Tomas. Não que seja uma tarefa fácil. O Brasil já tem vaga garantida na disputa por equipes, quando irão quatro atletas. Arthur Nory, campeão mundial na barra fixa em 2019, e Arthur Zanetti, ouro olímpico em 2012 e prata em 2016 nas argolas, são nomes praticamente certos. Restam duas vagas e uma série de caminhos, nenhum fácil. As avaliações desta semana, por exemplo, definem quem vai para o Pan do Rio. A competição, por sua vez, dará duas vagas para os melhores de toda a América, incluindo competidores dos EUA, Cuba e Canadá. Ainda há a chance de ir pela definição da própria seleção, mas a concorrência não é menos acirrada. “Estamos correndo atrás do sonho olímpico”, conta Caballero.


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