Senegaleses comemoram vitória sobre a Polônia em Porto Alegre

Senegaleses comemoram vitória sobre a Polônia em Porto Alegre

Gritos, pulos e dança típica aproximaram grupo de amigos do país de origem

Raphaela Suzin

Gritos, pulos e dança típica aproximaram grupo de amigos do país de origem

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Um grupo de senegaleses transformou um apartamento no centro histórico de Porto Alegre num pedacinho do Senegal nesta terça-feira. Eles vibraram, gritaram, pularam e dançaram para comemorar a vitória da seleção do país sobre a Polônia por 2 a 1, partida que marcou a estreia da seleção na Copa do Mundo da Rússia. A distância de mais de 6 mil quilômetros da terra natal não foi suficiente para desanimar esses oito senegaleses que hoje moram em Porto Alegre, onde vieram em busca de melhores condições de vida. "Estou sentindo que estou no Senegal. Hoje é um dia muito especial para nós", comemorou Assane Sarr, 29 anos. Ele está há dois anos em Porto Alegre e trabalha como vendedor. 



O clima na rua Riachuelo, bem no coração de Porto Alegre, era de muita confiança e animação. Antes da partida começar, o vice-presidente da Associação dos Senegaleses de Porto Alegre, Omar Diongue, 27 anos, apostava em 5 a 0. Já Assane acreditava em 2 a 1 e foi quem acertou o placar.

Maimouna Ndaw, 32 anos, não quis apostar em um resultado, mas era a mais animada para o jogo e pintou o rosto de todos eles com as cores do Senegal. Em Khadija Ceesay, 30 anos, ela fez uma bandeira no lado direito da bochecha, além de colorir a boca com o verde, amarelo e vermelho. "Eu sou assim, bem alegre. Gosto muito de futebol, principalmente se o Senegal jogar", disse Mai, como é chamada pelos amigos. Ela mora no apartamento onde o grupo se reuniu com outros três senegaleses. "Sou irmã deles", disse com um sorriso no rosto.

Olhos grudados na televisão

Com o início do primeiro tempo, o grupo se dividia entre momentos de tensão e gritos de empolgação, todos no dialeto Wolof, o mais usado por eles, apesar de a língua oficial do Senegal ser o francês. Aos 12 minutos da etapa inicial, a marcação de uma falta a favor do Senegal provocou animação. Mas a cobrança foi longe do gol. Os momentos de apreensão vinham quando Lewandowski, da Polônia, tocava na bola.



Grupo se dividia entre momentos de tensão e gritos de empolgação | Foto: Alina Souza 


Mas aos 37 minutos, o ambiente de alegria tomou conta do apartamento de sala ampla e dois quartos: gol de Gueye, que chutou da entrada da área. A bola desviou no polonês Cionek e entrou. Muitos gritos e abraços. A comemoração teve direito a dança típica "noy moyto sa nonn", que significa "como fazer para afastar os inimigos". Fim do primeiro tempo, e o Senegal estava na frente: 1 a 0.

No intervalo, eles fizeram uma oração. Posicionados em direção a Meca, eles realizaram os ritos religiosos das 13h no tapete que fica no meio da sala. Neste momento, as mulheres não participaram, já que não realizam todas as rezas do mês.

O segundo tempo começou e uma falta foi marcada para a seleção do continente africano aos 3 minutos. "Att thia, Senegal", gritaram no dialeto nativo, que significa "Vamos Senegal". A falta não foi convertida em gol, mas a vitória já estava se consolidando. Os senegaleses seguiam, um pouco mais calmos, mas sempre confiantes, quando o placar foi ampliado. Niang disparou sozinho e, antes dele chutar a bola, Maimouma, em Porto Alegre, gritou: "É goool". Segundos depois, a bola entrou e nova dança e muita comemoração na capital gaúcha. 

"Estou muito feliz", disse um deles durante a partida. "Me sinto perto do Senegal, junto dos meus parentes", complementou Omar.

Aos 40 minutos, a Polônia descontou. Em campo, muita reclamação por parte dos senegaleses e, no apartamento na capital gaúcha, indignação. Apesar do sufoco nos minutos finais, o Senegal venceu por 2 a 1 na estreia da Copa do Mundo. Com a vitória, até o nome do país foi adaptado para "Senegol". "O sentimento é só felicidade. Estou sem palavras", resumiu Khalifa Kebe, 30 anos.

Saudade

Todos eles deixaram Senegal em busca de melhores condições de vida. Encontraram em Porto Alegre uma chance de recomeçar, apesar dos percalços. "O mais difícil é a língua. Depois que aprendi, ficou mais fácil conseguir emprego e também se inserir na comunidade", disse Omar, que é vendedor.

Além das dificuldades, eles também têm um sentimento em comum: a saudade. Tiveram que vir sem a família, que permaneceu no outro lado do oceano. "O que eu mais sinto falta é da minha filha, de quatro anos. Ela ficou em Dakar (capital do Senegal) com a mãe dela e a minha mãe", disse Assar. Hoje ele tem dois empregos. De manhã, trabalha como vendedor e, nos turnos da tarde e noite, em uma pizzaria.

Com o tempo, as barreiras vão sendo superadas. Eles começam a se tornar um pouco portoalegrenses e a capital dos gaúchos também os abraça. Khalifa é um dos que está há mais tempo no Rio Grande do Sul, faz quatro anos, e até um novo time de futebol do coração ele já tem: o Internacional. "Já perdi até as contas de quantas camisetas do Inter eu tenho", falou, brincando. O colorado acompanha o time em todos os jogos disputados no Beira-Rio e encontrou, nos outros torcedores, novas amizades.

Contudo, a cidade que os acolheu, foi também a que ensinou a eles o que é o preconceito. O vice-presidente da Associação dos Senegaleses de Porto Alegre disse que no Senegal esse sentimento não existe. "Na Associação, a gente tenta fazer a integração entre Senegal e Brasil. Aprendi muita coisa aqui e faço palestras para ensinar aos brasileiros sobre meu país. Mas se tem uma coisa que existe aqui e não na África é o preconceito. No Senegal não tem preconceito. Isso eu conheci aqui", revelou.

Ele é um do fundadores da Associação, que trabalha para acolher os senegaleses que estão na Capital. Todos os que estavam no apartamento da  Riachuelo participam do grupo, alguns se conheceram em Porto Alegre, enquanto outros já eram amigos no país africano. "O conselho que recebi antes de sair do Senegal foi de me aproximar de quem era do mesmo país que eu e compartilhar. São os meus parentes e foi assim que nasceu a Associação", contou.

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