Excursões proporcionam felicidade para quem só pode ir ao litoral no fim de semana

Excursões proporcionam felicidade para quem só pode ir ao litoral no fim de semana

Correio do Povo foi a área em Tramandaí que reúne os ônibus oriundos de todo o RS para conhecer histórias

Chico Izidro

Galera da excursão de Porto Alegre

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Muitas pessoas gostam de curtir uma praia, mas infelizmente não possuem condições financeiras ideais para passar temporadas inteiras. Uma solução que existe há décadas são as excursões de ônibus, que ficam em média apenas um dia no litoral, geralmente aos domingos, e que trazem famílias inteiras, e suas caixas de isopor com muita comida, bebidas, garrafas térmicas com café. No último domingo, a reportagem do Correio do Povo esteve no local em Tramandaí, numa área reservada para estas viagens e encontrou turistas muito felizes, por estarem aproveitando momentos raros em suas vidas, longe dos problemas do cotidiano.

Uma das excursões era da cidade de Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre, organizada pela agente de turismo Jaqueline Gonçalves. “Organizo estas viagens há 9 anos. E depois da praia, também faço excursões para cidades turísticas do interior”, garantiu. “Chamo estas viagens de passeios familiares. E quero que as pessoas se divirtam e aproveitem este momento”, continuou.

Ela conta que o ônibus com 46 passageiros saiu de Viamão no sábado à noite, por volta das 20h, e chegou em Tramandaí à meia-noite, Jaqueline diz que durante todo o passeio, “fica cuidando dos passos da jornada. Dou as coordenadas, qual o horário que cada um deve retornar para o ônibus, as regras que devem ser seguidas, como por exemplo, não ingerir álcool dentro do veículo”.

A agente de turismo conclui, que no final de semana, por causa do tempo nublado, a maioria de seus clientes preferiu ir ao centro de Tramandaí passear, olhar as lojas e fazer compras. “Eu, apesar de toda a responsabilidade, consigo me divertir um pouco. Quando dá uma brecha, vou ao mar dar uma relaxada”, finaliza.

Uma de suas passageiras, a cozinheira Marta Souza, moradora de Viamão, elogia o trabalho. “São muito boas estas excursões. Eu venho sempre nas viagens organizadas pela Jaque. Este ano só deu para vir esta vez, porque a grana está curta. Vim com meu marido, João Jaime”, disse. “Quando chegamos, fomos para um barzinho, depois voltei e fui dormir. Até reclamaram que eu estava roncando”, diverte-se. “Sim, o pessoal falou que alguém estava roncando. Fui ver quem era e a Marta estava lá, no maior sono”, contou Jaqueline. “De manhã, quando acordei, apesar deste tempo, fui mergulhar. Afinal, vim de Viamão e não vou passar o dia no ônibus. Mesmo com esta água marrom, fui nadar”, garantiu.

Amauri Souza Almeida organizou excursão com moradores do bairro Mathias Velho - Foto: Alina Souza

Ao lado do ônibus de Viamão, estava um de uma excursão de Porto Alegre. O motorista do veículo, Sérgio Padilha, conta que chegou em Tramandaí com 48 passageiros. “São famílias inteiras, todas com nome na lista, tudo organizado”. Ele conta que o tempo no final de semana estragou um pouco a viagem. “Fico triste pelas pessoas. Eu, muitas vezes nem entro na água. Mas o pessoal se programou, e chega aqui e é esta tristeza”, lamentou.

“Alguns até se arriscam a entrar no mar, mesmo com bandeira preta. Eles pensam, pô, meu único final de semana podendo ir à praia, já estou aqui. Vou me banhar”, relatou. “Mas a maioria ficou escondida dentro do ônibus, para se esconder do frio e do vento. Alguns tomam uma bebidinha para passar o tempo, já que a volta é apenas às sete da noite”, seguiu.

Em seu ônibus viajou a camareira Cinara Silva, moradora da Lomba do Pinheiro, que estava com toda a família, um total de 14 pessoas. “Fazemos esta excursão geralmente uma vez por ano. A gente junta uma graninha. Desta vez, infelizmente, o tempo não ajudou, nada de mar hoje, mas então vamos partir para o plano B, que é um churrasquinho. Já as minhas filhas aproveitam bastante, curtem muito, dentro da barraquinha delas”, garantiu. “Já ajuda vir para cá, saímos da rotina, uma coisa diferente daquela loucurada de Porto Alegre”, resignou-se.

O céu nublado, o vento, a água marrom, nada disso foi também empecilho para que o canoense Amauri Souza Almeida, que organizou excursão com moradores do bairro Mathias Velho, se divertisse. Com ele, vieram para o litoral mais 45 pessoas. A maioria em volta de uma mesa preparando uma churrascada, comandada por sua esposa Rose. Os turistas chegaram na sexta-feira à noite, e iriam ficar até às sete horas de domingo.

“Ainda conseguimos pegar uma manhã de sol e mar legal no sábado pela manhã. Depois foi aquele temporal, mas nada disso me desanima. É tudo festa”, soltou ele, enquanto segurava uma garrafa de caipirinha. “A gente faz estas excursões três vezes por ano. E se não dá para entrar no mar, o jeito é ficar bebendo e preparar um churrasco. Enfim, não perder o humor”, ensinou.

Amauri disse que em uma excursão deste tipo, com dois dias de duração, muitos viajantes dormem mesmo dentro do ônibus, já outros alugam quartinhos em casas de moradores das redondezas, e outros ficam em barracas. O aluguel do ônibus custa R$ 2 mil. “Aí a gente racha o valor entre os 46 passageiros”, revelou. “E desta vez demos azar na vinda, pois um pneu do ônibus estourou. Tivemos de chamar o guincho, que levou o ônibus para o mecânico. Ele será devolvido às cinco horas e as sete a gente vai embora. Então o jeito é ficar aqui fora mesmo”, disse.

Amauri garante que não gosta de ficar em casa. Por isso organiza estas viagens. E a esposa Rose é muito parceira. “Ela topa qualquer programa”, elogiou. Amauri lembrou que a manhã de sábado estava sensacional. “Eu estava naquela água azul, me banhando. Depois o tempo virou, mas aí já havia aproveitado. Agora estamos preparando um churrasquinho para a galera, com direito a muita ceva e caipirinha, e esperar o domingo passar e voltar para a correria do dia”, completou.

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