Número de “hermanos” despenca 80% no Litoral

Número de “hermanos” despenca 80% no Litoral

Câmbio desfavorável freia viagens de turistas argentinos e uruguaios às praias gaúchas

Eduardo Amaral

Número de turistas estrangeiros despencou no litoral gaúcho

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Cena comum em outros anos no Litoral gaúcho, as placas pretas que identificam veículos vindos da Argentina se tornaram mais escassas em 2019. A tradicional invasão dos hermanos, que ocorria especialmente nas praias de Torres e Capão da Canoa, não aconteceu nesta temporada.

Entre os fatores para essa situação está o câmbio enfraquecido. Mesmo que a crise no país vizinho seja uma realidade de algum tempo, este é um dos momentos mais delicados em matéria de valorização do peso. Com baixo poder aquisitivo, as famílias argentinas escolheram opções mais baratas e caseiras para aproveitar as férias.

Dessa forma, ficou mais comum ver algumas poucas excursões do país vizinho, trazendo turistas que compram pacotes, ao invés das famílias que lotavam as praias do Litoral Norte. Este foi o caso das amigas Jolanda Perez, 73 anos, e Marta Perez, 72. “Somos avós, já criamos nossos filhos e netos, podemos nos dar ao luxo de gastar um pouco mais”, conta Marta, ao explicar os motivos que fizeram com que elas viesse ao Brasil, mesmo com as dificuldades financeiras. Hospedadas em Capão da Canoa, elas sentem na pele as dificuldades de compra devido à mudança cambial. “O peso (moeda argentina) não ajuda. Um real é equivalente a 11 pesos. Então tudo fica muito caro para nós”, reclama Jolanda.

A ausência de argentinos não pegou comerciantes e rede hoteleira de surpresa. É o que garante a presidente do Sindicato dos Hotéis da região, Ivone Ferraz. “Desde outubro do ano passado, nós já sabíamos que eles viriam menos.” De acordo com Ivone, a queda no número de turistas do país vizinho foi de 80%. Segundo ela, uma melhora nesse ponto deve ser vista na próxima semana. “Há muitos argentinos se organizando para vir no Carnaval, o que é atípico da parte deles”, explica.

Mas os argentinos não foram os únicos vizinhos que diminuíram a frequência nas praias brasileiras. Mesmo em uma situação econômica mais estável, os uruguaios também têm sofrido com os problemas de câmbio. Heber Acuna, 77 anos, organiza excursões de turistas vindos da banda oriental há mais de 10 anos e percebe que o movimento tem diminuído visivelmente. “Antes vinham dois ônibus por semana com cerca 40 pessoas, agora a gente traz um ônibus com 18.” 

Uma das alternativas para atrair turistas, segundo Ivone, seria mudar o foco. “Os paraguaios estão vivendo um bom momento, têm dinheiro e querem gastar, porém deveríamos ter feito este investimento antes, perdemos a oportunidade.” De acordo com ela, os turistas paraguaios preferem Florianópolis e o Rio de Janeiro como destino para as férias. 


Grupo de uruguaios optou pela calmaria da hospedagem em um hotel fazenda em Mariluz - Foto: Mauro Schaefer

Descanso e lazer

Não é apenas em busca de mar e areia que turistas visitam o Litoral Norte do RS. Uma das opções é a hospedagem em um hotel fazenda e tirar uns dias para descanso. Esse foi o caso da família Rodriguez, que, vinda do Uruguai, preferiu a calmaria e as atividades do hotel ao mar agitado. “Fomos à praia apenas uma vez, queríamos mesmo era ficar mais em família”, explica a analista de sistemas Sandra, 45, que veio acompanhada do marido, o empresário Guilhermo, 38 e dos filhos Benjamin, 6, e Ivan Inácio, 10. O destino escolhido por eles foi Mariluz, balneário que pertence a Imbé e está longe de ser uma cidade agitada.

Segundo Guilhermo, a escolha por ficar afastado da beira-mar. “Nós sempre vamos à praia e desta vez queríamos algo diferente”, detalha ele, ao falar de atividades como passeios a cavalo e pescaria, o que foi possível ser feito no hotel. Ao falar do Brasil, a família demonstra o encantamento com o país. “Nos encanta o Brasil. Gostamos da natureza, da mistura que tem aqui, é um país incrível”, diz Sandra.

De acordo com eles, esse interesse maior não é uma exclusividade da família, mas algo comum no país vizinho. “Tem muita gente lá que vem pro Brasil, é algo muito comum”, destaca Guilhermo. Ele acredita que o fato de as pessoas serem “muito amigáveis” seja um dos fatores mais atraentes aos visitantes.

O carinho dos Rodriguez pelo Brasil que até hoje eles não conhecem as águas de Punta Delegado Diablo, nem Punta Del Este, tradicionais balneários uruguaios. Para a família, praias só no Brasil, país que já visitaram três vezes.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895