Principal porta de entrada do país, RS deve receber 700 mil argentinos neste verão

Principal porta de entrada do país, RS deve receber 700 mil argentinos neste verão

Mesmo com moeda desvalorizada e economia em crise, turistas vizinhos aproveitam para ingressar em peso no RS

Felipe Faleiro

Família Gómez encarou 24 horas de estrada para chegar a Capão da Canoa

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A jovem Agostina Gómez, 18 anos de idade, acompanhada de sua irmã, Daniela, a tia Adriana e o pai Marcos, saíram de Salta, na Argentina, em uma viagem de 24 horas e quase dois mil quilômetros até a orla de Capão da Canoa, no litoral norte gaúcho. Assim como fizeram eles, outros turistas argentinos aproveitam o calor do litoral do Rio Grande do Sul e fazem este movimento rumo a terras brasileiras ser algo relativamente corriqueiro no verão.

“É minha primeira vez em Capão da Canoa, e já havia estado no Rio de Janeiro. Originalmente, estávamos em Tramandaí, porém viemos para cá em busca de uma casa de câmbio de pesos argentinos para reais. Queríamos conhecer as praias daqui”, comentou ela na tarde desta quinta-feira.

Com a troca de governo para o presidente Javier Milei, a situação do país vizinho está um pouco mais desfavorável economicamente, segundo ela, mas a família Gómez não chegou a sentir o baque, pois a mãe de Agostina trabalha como autônoma. A turista conta que o povo do RS é “muito respeitoso”, e que isto os motiva a querer estar aqui.

A presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Litoral Norte (SHRBS), Ivone Ferraz, afirma que a expectativa é de um fluxo de turistas argentinos 20% superior ao ano passado, embora, no passado, o movimento fosse ainda maior deste público.

“Há 20 anos, nossa economia era baseada praticamente a partir dos turistas argentinos, representando quase 80% do total. Depois, a economia deles passou a ter dificuldades, com altas taxas de cartão de crédito e desvalorização da moeda”, afirma ela.

Ivone prossegue, dizendo que isto fez com que houvesse perda deste público, algo que pode estar sendo revertido a partir de Milei, opina a presidente. “Ele está dando uma força para a moeda deles. Vejo até que está havendo um número surpreendente de argentinos, ainda que não superando as duas décadas atrás”, comenta ela.

Conforme o controle migratório da Polícia Federal (PF) em Uruguaiana, na fronteira oeste, somente nos últimos dias 1º e 2 de janeiro, 8.388 argentinos entraram ou saíram pelo local. No entanto, considerando todas as pessoas, foram 9.713 nos dois primeiros dias do ano e 17.029 no mesmo período de 2023.

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Ivone comenta ainda acreditar que, a médio prazo, esta tendência de movimento crescente não deva se manter, até porque “não houve tempo para os turistas se programarem” em relação às medidas econômicas, radicalmente diferentes com Milei, ultraliberal convicto, do que havia no governo anterior, do peronista Alberto Fernández.

A Secretaria Estadual do Turismo (Setur) afirma estar atenta a este movimento. No ano passado, segundo o Observatório do Turismo da Setur, citando dados da PF, 83% dos turistas internacionais que passaram pelo Rio Grande do Sul em janeiro, fevereiro e março foram argentinos, a grande maioria famílias, e nisto não deve ser diferente em 2024, período em que cerca de 700 mil portenhos devem chegar ao RS.

Outros destinos buscados por eles são Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. A Setur diz ainda ter participado, em outubro de 2023, da Feria Internacional de Turismo de América Latina, ou FIT Buenos Aires, considerada a maior feira de turismo da América Latina, além de ter feito press trips com jornalistas argentinos dos maiores veículos do país e road shows em Córdoba e Assunção, no Paraguai no ano passado.

“Sabemos que o RS é a principal porta de entrada deste público no Brasil. E a nossa intenção é fazê-los conhecer mais destinos regionais, que os façam permanecer por mais tempo no território gaúcho”, afirmou o secretário estadual de Turismo em exercício, Luiz Fernando Rodriguez Júnior.


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