Verão

Simpatia e novidades são estratégias dos vendedores de beira de estrada

Para atrair clientes, comerciantes do Litoral Norte apostam em variedade e bom atendimento

Kombi é o outdoor da banca da Aline (D) e da Ana Carolina Francisco
Kombi é o outdoor da banca da Aline (D) e da Ana Carolina Francisco Foto : Pedro Piegas

Produtos novos, febres do momento, pagamento facilitado e sorriso no rosto estão entre os atrativos lançados pelos comerciantes que ganham a vida nas margens das rodovias e principais avenidas do Litoral Norte. Literalmente vale tudo para conquistar os clientes.

Na margem da ERS 407, quase no entroncamento com a BR 101, em Maquiné, uma kombi da década de 1980 é meio de transporte, depósito e outdoor da família da Aline da Silva Costa, 18 anos. O automóvel, branco, é posicionado de modo a chamar atenção dos motoristas. Em uma de suas laterais, escritos a mão em letras coloridas, os preços da lenha, do carvão, do morango, da uva, do milho, do melão e do carro-chefe, a melancia. Em destaque, a opção de pagamento via pix.

“Tem de R$ 30,00 a R$ 35,00, depende do tamanho É muito boa, quem prova leva”, garante, enquanto exibe um sorriso de vendedora.

É o primeiro ano na beira da ERS 407, antes ela ficava em Capão da Canoa, mas garante que o novo ponto lhe rende bom público. “Estou morando para estes lados agora, faz mais sentido ficar perto de casa”, entende.

Não falta simpatia na beira da estrada. E nem só de alimentos vivem os comerciantes. Na ERS 030, em Osório, próximo do acesso à ERS 389 (Estrada do Mar), as vendas são de outro planeta. Estatuetas de pássaros, bancos de jardim, fontes e vasos de cimento disputam espaço com extraterrestres. São figurinhas tão caricatas quanto populares e invadem até mesmo a seara do futebol.

Tem alto, baixo, gordinho, magrinho, verde, branco e, claro, os vestidos com as camisas de Grêmio e Internacional. Os preços começam em R$ 90,00 e passam dos R$ 200,00 dependendo do tamanho.

“Os de times são os que tem saído mais agora. O pessoal gosta de deixar no pátio da casa da praia”, conta o ambulante Pedro Giakosvinski.

O vendedor afirma que compra as peças de uma fábrica no município e as revende. Garante que dá para tirar um lucro razoável, que lhe assegura o sustento no verão. “Bom negócio, mas só rende na temporada”, lamenta.

Do butiá ao suco “free refil”

A tradição é o cartão de visitas da Tenda do Pelé, localizada na Estrada do Mar, em Torres, mas a busca por novidades é o que mantêm clientes antigos e forma novos consumidores. Há 33 anos na atividade, o proprietário José Fernando Monteiro, 57, assegura conhecer bem a clientela.

“Quando comecei, só tinha butiá, era na BR 101, depois que vim para cá. E o cliente vai ensinando a gente. Pediam banana? A gente colocava banana, depois bergamota, depois abóbora, eles iam pedindo e a gente ia colocando”, detalha.

Fernando tem 33 anos de experiência com vendas na beira da estrada | Foto: Pedro Piegas

Das traves que sustentavam as frutas na BR 101 ao prédio com capacidade para receber 200 clientes na Estrada do Mar, a Tenda do Pelé virou parada obrigatória no caminho da praia. De fruteira a lancheria, o comércio está sempre se adaptando ao gosto dos visitantes. Assim, o queridinho das últimas temporadas é o caldo de cana “free refil”.

Por R$ 16, o cliente bebe o quanto quiser, servido direto nas mesas e sempre gelado. A modalidade ao no estilo fast food vale também para outros sucos naturais como abacaxi e suco de laranja.

“Muitas pessoas gostam de beber um pouco mais, e isso também é muito da nossa ideia de atender bem”, garante.

Seja aguardando um pastel feito na hora ou entre as outras opções do cardápio, quem visita a Tenda precisa saber que toda vez que um copo for esvaziado, haverá um garçom pronto para a recarga. Sem exagero, é necessário pedir para parar.

Não sobra dúvida sobre o atendimento, mas a curiosidade a respeito da casa e do seu dono são frequentes. Volta e meia, duas perguntas ao menos ressurgem e arrancam sorrisos dos mais de 15 pessoas que trabalham no local e de clientes antigos da casa. A primeira questão é a fruteira “sem frutas”, o que não chega a ser verdade, já que os famosos sucos são todos naturais. A outra busca descobrir quem é o Pelé.

“Eu acho que eu tinha um sete anos, meu pai chamava de Fernando, aí eu dizia: sou o Pelé! Isso só porque eu fazia uns balõezinhos com a bola”, revela.

Brincadeiras à parte, a pretensa comparação com o Rei do Futebol hoje ajuda Fernando com uma clientela bem específica: a dos turistas argentinos, em boa parte, fanáticos pelo esporte. “Rende uma puxada de assunto”, admite.