Boa relação médico-paciente é fundamental para evolução positiva do tratamento da Doença de Parkinson

Boa relação médico-paciente é fundamental para evolução positiva do tratamento da Doença de Parkinson

Neurologista afirma que médicos devem incentivar a independência do paciente para aumentar sua autoestima e evitar depressão e desânimo

Ketchum / Fernanda Tintori

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A psicopedagoga Carmen Silvia Galluzzi tinha 46 anos quando começou a sofrer com os sintomas da Doença de Parkinson, em 2008. Porém, seu diagnóstico só foi definido três anos mais tarde, quando ela procurou um novo médico após várias tentativas frustradas. “Ele investigou e acertou a doença logo. Além de cuidar do meu tratamento, me orienta na busca por outras terapias, como fisioterapia, fonoaudiologia e ainda me acalma, passando confiança”, afirma.


O relacionamento médico-paciente é muito importante, sobretudo nas situações que envolvem doenças crônicas, que vão acompanhar a pessoa durante a vida toda. No caso da Doença de Parkinson, esse envolvimento é mais delicado, porque o médico muitas vezes exerce o papel de conselheiro, confidente e amigo. E isso acontece tanto com o paciente quanto com o resto da família, que também é afetada pelo Parkinson, na medida em que a pessoa vai gradativamente tendo os seus movimentos limitados e fica dependente de parentes e cuidadores.

“O médico que trata a Doença de Parkinson “casa” com o paciente. Nós o acompanhamos pelo resto de sua vida. Por ser uma doença progressiva, neurodegenerativa, criamos um vínculo muito forte”, explica Renata Ramina Pessoa, neurologista da Associação Paranaense dos Portadores de Parkinsonismo.

A especialista esclarece que a Doença de Parkinson, conhecida pelos tremores e pela rigidez dos músculos, também provoca outros sintomas, como depressão e alteração de humor, redução do olfato e constipação, por isso é fundamental que o médico fique próximo e esteja atento ao paciente. “Precisamos olhar cada pessoa diagnosticada de maneira personalizada, analisando todos os aspectos. Os sintomas motores são mais visíveis e por isso recebem atenção imediata, mas existem outros que incomodam tanto quanto eles”, ressalta a neurologista.

Para ela, é fundamental que o médico converse com o paciente para investigar esses sintomas. “É preciso perguntar sobre o sono, porque um dos sintomas mais comuns da Doença de Parkinson é o distúrbio do sono. Mas também deve-se saber sobre o funcionamento intestinal e, sobretudo, perceber se há traços de desânimo e outras manifestações não motoras da enfermidade que perturbam o Parkinsoniano”.

Segundo a médica, o principal desafio da pessoa com Parkinson é aceitar a doença. “No início, é importante deixar claro que, apesar de não haver cura, é possível controlar bem os sintomas”. Nesse sentido, Renata gosta de explicar ao paciente que o diagnóstico é individualizado, para que ele não se compare com outros casos que podem ter tido uma má evolução. “Temos que incentivar a independência dessa pessoa e assim evitar que fique desanimada ou tenha a autoestima diminuída”, alerta.

Hoje com 57 anos, Carmen diz que o relacionamento com seu neurologista a deixa mais confiante. “Ele trata os sintomas que mais me incomodam naquele momento, um de cada vez. Faz elogios sobre a minha evolução e é sempre verdadeiro sobre cada fase que estou atravessando. Graças a ele costumo dizer que não tenho mais a Doença de Parkinson que me apavora, apenas a que eu trato”, afirma a psicopedagoga, agora aposentada.

Para a neurologista, é uma relação de cumplicidade também com a família. “Precisamos entender a posição dos parentes e apoiá-los. Muitas vezes, as pessoas mais próximas se tornam cuidadoras e ficam exaustas, já que não dormem bem para ajudar o paciente que não consegue se mover na cama ou está muito agitado durante a noite”. Segundo Renata, essa situação gera estresse e impaciência, por isso é imprescindível estar aberto para ouvi-lo e orientá-lo sempre que necessário.

“É meu dever, enquanto médica estar atenta ao paciente, estudando-o em 360 graus, além de estar acessível a ele e sua família. Mas acredito que seja ainda mais importante ter empatia e estar próximo, oferecendo apoio, conforto e esperança para todos”, conclui Renata.


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