Arte & Agenda

Armandinho: do reggae no Turá à paternidade recente

Com apresentação no Festival Turá no sábado, 25, o músico gaúcho conversou com o Correio do Povo sobre festivais, Porto Alegre e o RS, sobre a carreira e também a paternidade recente, da filha Celeste, com 9 meses de idade

Armandinho e sua banda tocaram no Festival Turá, no ano de 2024, em São Paulo
Armandinho e sua banda tocaram no Festival Turá, no ano de 2024, em São Paulo Foto : Camila Cara / Divulgação / CP

Neste sábado e domingo, nos dias 25 e 26 de outubro, no Anfiteatro Pôr do Sol, ocorre a 2ª edição do festival Turá em Porto Alegre. Entre as atrações do sábado, estará o cantor e compositor Armandinho, gaúcho de Porto Alegre, com 55 anos de idade, que se transformou em um dos artistas de maior sucesso no país, com sua coleção de hits. O poeta, como é carinhosamente chamado pelos fãs prepara um show especial com hits de sua carreira, sem setlist definido. No repertório estarão canções que o público ama, como “Desenho de Deus”, “Outra Vida”, “Casinha“ e “Ana Lua”, além de recentes em disco, como “Joia Rara” e “O Mar é Bipolar”. O artista, que foi uma das atrações mais elogiadas da edição do Turá em São Paulo em 2024, trará de volta à Capital, a sua mistura de pop com reggae, rock, surf rock e pitadas de romantismo. No show, Armandinho (voz, violão e guitarra) está acompanhado por sua banda, formada por João Coiote (voz e violão), Lucio Dorfman (teclados), Pedro Porto (baixo), Vini Bondan (bateria), Luciano Granja (guitarra) e Renato Batista (trompete).

Além dos grandes sucessos de suas mais de duas décadas de carreira, reunidos em cinco álbuns de estúdio e em dois DVDs, Armandinho trará ao público do Turá algumas das suas novidades. Em fevereiro, ele lançou a coletânea Se o Tempo Passa, reunindo 15 músicas lançadas nos últimos 10 anos e que estavam “soltas”, sem um álbum para chamar de seu, além de três inéditas. Em dois dias, o Turá reunirá mais de 20 atrações. No dia 25, além de Armandinho, também se apresentam o grupo BaianaSystem, a cantora Alcione, as bandas Fresno, Os Garotin e Ultramen e bloco de Carnaval Não Mexe Comigo. No dia 26, o festival vai receber shows de nomes como Ney Matogrosso, Nando Reis, Mano Brown, Silva, Cachorro Grande, Dingo e Bloco Turucutá. Nos intervalos entre os shows, DJs representantes de algumas das festas mais tradicionais de Porto Alegre vão embalar o público. As entradas para o evento estão à venda no site oficial do evento.

Em entrevista ao Correio do Povo, Armandinho fala sobre o festival Turá, sobre Porto Alegre e o RS, a carreira, e até sobre a paternidade recente, da filha Celeste, com 9 meses de idade.

CP - Armandinho, tu és um cara que funciona muito bem em festivais. Queria que tu nos dissesse como vai ser a tua participação no Festival Turá.

Armandinho – Em primeiro lugar, quero dizer que o Anfiteatro Pôr do Sul é um lugar sagrado, um lugar que fica na Orla, é um dos locais mais lindos de Porto Alegre, tem um pôr do sol lindo e poder voltar a este local, na minha cidade natal, é uma honra. Esse festival foi criado para misturar vários estilos musicais. É um desafio tocar para uma galera que não é o nosso público e que está ali pra assistir o show de outros artistas, é uma conquista, é um jogo de sedução que a gente tem que ganhar e contagiar uma galera que tá lá pra ver a Alcione, a Fresno, Baiana System e tantas outras atrações que estão no nosso dia, sábado. É muito legal estar com a Fresno, que é uma banda da minha cidade. O festival é enorme, é gigante, com muitos estilos, muitas essências, para estar junto à natureza, com uma vibe gigante, uma vibe lá em cima, só pensamento bom.

CP - Em algumas entrevistas, tu sempre fala do reggae como uma coisa de paixão, que faz pulsar o coração. O que significa o movimento do reggae como um todo para ti. O que foi até então na tua vida e o que representa o reggae para ti?

Armandinho - Na realidade, o público do reggae é muito discriminado, porque é um público que não consome tanta bebida alcoólica, assim. A galera vai lá, curte o show, não vai tanto à copa. Na verdade, não se fatura tanto na copa como se fatura em shows de outros gêneros musicais. O público do reggae é um público que fica na paz, fica na onda dele, então, assim, é um pouco discriminado. A gente sabe que a maconha tá associada ao reggae, eu acho que a maconha tá em todos os gêneros, em todos os estilos, acho que uma prova do que é mais pesado, o álcool ou a maconha, é a quantidade de brigas que tem num show onde a bebida alcoólica é usada. Tem um pouco desse preconceito pela mídia também, das bandas de reggae serem de maconheiros. Eu acho que o reggae é feito por uma galera que tem a mente mais aberta, é uma mente muito mais engajada nas questões ambientais, é uma galera que entende da essência do reggae africano, da rebeldia do reggae, da luta que o reggae tem até hoje. Essa resistência que a gente tem nos meios de comunicação eu não entendo. É um gênero musical que é contra qualquer tipo de discriminação racial, é uma galera do bem e que, infelizmente, a mídia não dá todo esse espaço. Às vezes surge uma banda pop tocando nas rádios, aí bomba uma época, depois some de novo, mas o reggae em raiz, a essência tá sempre presente, mesmo estando fora do mainstream. Então, eu acho que a gente, quando tem uma oportunidade dessas, não importa o estilo do reggae, de levar este som, participar de festivais grandes, como é o Turá, acho que é uma dádiva, uma oportunidade muito grande para a gente mostrar a nossa força. A gente sabe que o meu gênero de reggae é um gênero que é mais pop, que engloba MPB, rock e o reggae também. Acabei criando um estilo próprio, né? Vejo muita gente dizendo assim ‘toca um reggae estilo Armandinho’. Então, a gente fica feliz de fazer parte desse contexto todo e viver junto nessa luta com a galera de todos os gêneros de reggae que existem não só no Brasil, mas no mundo todo.

CP – Algo legal da gente falar é a causa do reggae pegar tanto no coração, na essência da pessoa. Tu poderias dizer qual é o caminho deste gênero em ti e nas pessoas?

Armandinho – O bumbo do reggae é o contrário, então ele proporciona uma marcação da guitarra, eu acho que o primordial do reggae, na verdade, são as linhas de baixo que costuram e as linhas de baixo cantam a melodia junto com o cantor e a guitarra junto com a bateria faz essa marcação que é no contra, táctum, táctum, táctum, táctum, veja o bumbo, táctum, táctum, táctum, táctum, táctum. Então é um ritmo que é genuíno, jamaicano e na verdade é muito bacana porque eu acho que o contrabaixo que é o que faz o grave, que passa o grave para a galera, que aí bate no coração, é o principal desse ritmo que é o reggae music.

CP – E seria impossível fazer um som estilo Armandinho sem uma cozinha de caras de confiança, gente cujo entendimento vem por um gesto, um olhar, uma percepção. Me fale um pouco dos músicos que tocam contigo?

Armandinho - Cara, eu acho que quem já trabalhou comigo sabe o clima que é a nossa gig, né, que é o clima que é a nossa família. Eu, na verdade, mudei só uma vez de formação da banda, que foi no ano de 2010, e escolhi a dedo os músicos, o Luciano Granja e o Lúcio Dorfman que eram do Engenheiros do Hawaii, o Pedro Porto da Ultramen; o Vini Bondan, que era da Reação em Cadeia; o Renatinho no trompete, da Produto Nacional; eu procurei formar uma banda com uma galera de Porto Alegre, porque eu me sinto mais em casa, a gente tem uma forma mais fácil de se comunicar e a gente é uma família linda. Cada um trouxe o seu jeito das bandas que eles participaram. O Luciano Granja foi do Engenheiros e foi guitarrista da Pitty também. É é uma banda que para mim é um tapete para eu poder cantar com os caras mandando a vibe que vem lá de trás. É uma coisa tremenda, uma vibe que vem de trás e toma conta da frente. Acertei os músicos, a minha equipe técnica também e todos estão trabalhando comigo há muitos anos. Todo mundo se sente em casa, é uma família, eu acho que isso aí se reverte na performance de palco. Eu não trabalho com setlist, eu vou chamando as músicas como um DJ e deixo eles atentos, que é uma marca que a gente tem, então isso não transforma o show naquela mesmice de fazer sempre o mesmo show, no tempo automático. A gente inventa no meio do show, a gente muda as músicas, às vezes eu chamo uma música que não tá no repertório e eles improvisam. Eles são livres para poder improvisar em qualquer momento do show. A gente faz o som a liberdade de poder criar, de poder improvisar no meio do show.

CP - O ano de 2025 foi de colocar no mundo dois grandes projetos da tua vida, a coletânea “Se o Tempo Passa”, que tem músicas inéditas, e também a tua terceira filha, a primeira com a Carla (Nicolait), a Celeste, que está com nove meses de idade. Tu podias falar sobre estes dois projetos de 2025?

Armandinho – As músicas do novo álbum ainda não tinham uma casa. Eram músicas soltas e eu resolvi juntá-las e fazer uma compilação e poder lançar e dar o nome a um álbum para essas músicas que mereciam estar em disco. Músicas que foram sucessos e tocaram bastante na rádio, com músicas inéditas também, músicas que eu simplesmente larguei no YouTube e músicas interessantes, porque algumas delas fizeram parte de outros álbuns e na hora de eu selecioná-las ficaram de fora, por eu achar que talvez não tinham a cara do álbum que eu tava fazendo, acho que no álbum “Sol Loiro”, houve várias canções de “Se o Tempo Passa” que são daquela época que eu não lancei e são músicas também, como “O Mar é Bipolar”, que mostra o meu outro lado, que eu não sou só Good Vibes, tenho problemas também como todo mundo e muitas vezes eu não quis mostrar isso naquela época. Foram músicas que eu deixei de fora para não querer mostrar esse outro lado do Armando, por preferir mostrar apenas o Armandinho que é o melhor que eu trago dentro de mim.

CP - E sobre a Celeste?

Armandinho - Cara, eu tive um primeiro casamento numa fase muito conturbada da minha vida, muitas viagens, muita loucura, uma época em que eu ainda estava indo por um caminho que não era muito legal para mim. Tive um problema com cocaína, depois tive um problema com o álcool, que foi o que acabou com o meu primeiro casamento, e desse primeiro casamento eu tive duas filhas (Antônia e Marcela). Então eu me considero um pai ausente na criação dessas duas meninas, principalmente por estar sempre viajando nos finais de semana e a gente sabe que o fim de semana delas é onde acontecem as coisas, as festinhas, e eu quase nunca estava numa festa de aniversário das minhas filhas. Eu acho que com o nascimento da Celeste, em uma nova fase da minha vida, uma fase mais madura, uma fase em que eu já larguei todas as minhas dependências, em que hoje eu não bebo álcool. Não sou contra quem usa, eu não posso usar, entendeu. Eu acho que estou na fase muito mais madura para poder dar para a Celeste as coisas que eu infelizmente eu sinto que eu não consegui dar para minhas duas filhas, que é essa presença contínua de um pai mais caseiro, um pai que fica mais em casa, um pai que já não surfa tanto quanto antes, que tem mais tempo para poder ficar em casa. Antes eu ia pegar onda, passava o dia inteiro fora e no final de semana eu tava viajando com shows, então tinha essa forma meio adolescente de viver e hoje não, eu assumi essa paternidade como um pai, tô muito mais presente em casa, sou uma pessoa muito mais lúcida, muito mais ciente das coisas que são boas para passar para um filho e eu acho que é a hora de eu mostrar o quanto eu também posso ter esse talento de criar um ser tão lindo quanto é a Celeste.

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