Diretores canadenses lançam em Porto Alegre filme com trama que Alfred Hitchcock não conseguiu levar para o cinema

Diretores canadenses lançam em Porto Alegre filme com trama que Alfred Hitchcock não conseguiu levar para o cinema

"A Ilha entre as Marés" teve lançamento internacional na Capital dentro da programação do Fantaspoa e é inspirado em peça do mesmo autor de Peter Pan

Carlos Correa

Trama acompanha a personagem que se perde em uma ilha na qual o tempo não se comporta como esperado

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Em 1920, o escritor escocês J.M. Barrie já havia criado há alguns anos o seu personagem mais famoso, Peter Pan. Naquele ano, contudo, o dramaturgo estreava nos palcos londrinos sua mais nova peça: "Mary Rose". Na plateia do espetáculo, estava um jovem de 21 anos completamente fascinado pela trama de uma garota que se perdia em uma ilha e voltava afetada pelo tempo: enquanto para ela o retorno havia se dado apenas algumas horas depois, para os demais havia se passado três semanas. O fascínio pela história foi imediato para o rapaz, que a propósito se chamava Alfred Hitchcock e anos depois seria considerado o mestre do suspense no cinema. Por muitos anos, o diretor tentou levar a produção para as telas, mas nunca recebeu o sinal verde do estúdio Universal, que acreditava não ser do interesse do público uma trama com elementos sobrenaturais. Muito tempo desde então se passou e muita gente famosa - como Melaine Griffith e Antonio Banderas - tentou emplacar o projeto, sempre sem sucesso.

Até que coube a dois diretores canadenses a façanha de finalmente vencer todos os obstáculos e lançar um filme inspirado na peça de Barrie. Em março deste ano, foi lançado "A Ilha entre as Marés", assinado por Austin Andrews e Andrew Holmes. Os dois estão em Porto Alegre para o lançamento internacional do filme, dentro da programação do Fantaspoa, e conversaram com o Correio do Povo sobre o processo de criação da obra. Além de uma concorrida sessão no sábado, o filme terá mais uma, nesta terça-feira, às 13h, na Cinemateca Capitólio. A história, que mais se inspira do que recria propriamente a peça de Barrie, mostra o que acontece quando a personagem, já adulta, volta anos depois à mesma ilha. Contar mais do que isso é estragar a surpresa.

Andrews havia lido a peça há muito tempo, mas por mais que tivesse sido marcado por ela, nunca pensara em adaptá-la para as telas. Até que em meados de 2018 foi lembrado por conhecidos que o texto estava entrando em domínio público. O primeiro passo foi se cercar de que, juridicamente, era viável. Quando veio a confirmação que uma adaptação estava liberada no Canadá, Estados Unidos e, principalmente, Reino Unido, enfim o processo poderia começar. No entanto, Holmes e Andrews ainda estavam em uma fase bem precoce de pré-produção quando estourou a pandemia da Covid-19, em 2020. E aí tudo teve que parar. "Pode soar horrível dizer isso, não me entendam mal, mas para o projeto foi bom porque tivemos mais tempo para definir nosso foco e como iríamos fazer tudo aquilo", diz Holmes.

Austin Andrews (E) e Andrew Holmes (D) são os diretores de "A Ilha entre as Marés" | Foto: Divulgação / CP

De fato, definições essenciais como a escolha das locações e dos atores levaram bem mais tempo do que os econômicos 24 dias de filmagens. A começar pela ilha propriamente, ela por si só um personagem decisivo para o filme. Holmes conta que foram avaliadas várias ilhas em um processo que começou no Google Maps mesmo, até que a lista ficasse restrita a três ilhas, todas no norte do Canadá, próximas ao Golfo do Alasca. Ele e Andrews não abriam mão de alguns critérios. O local deveria refletir a ideia de que de fato era remoto e isolado da civilização. "Ao mesmo tempo, precisava ser crível a ideia de que uma criança chegaria a essa ilha por conta própria", conta Holmes.

Mais difícil, só mesmo a definição do papel principal. Por se tratar de uma adaptação, os diretores optaram por transformar Mary Rose em uma personagem secundária, focando a história na relação mãe e filho de Lily e Jared. Para o garoto, o escolhido foi David Mazouz, que vive o jovem Bruce Wayne na série de TV Gotham. O problema maior foi Lily. "Foi um extenso processo de seleção de elenco. Testamos muitas atrizes. Do Canadá, dos Estados Unidos, da Inglaterra. Eu já estava achando que não ia mais acontecer. Foi quando encontramos a Paloma (Kwiatkowski), que é de Vancouver. No final das contas, ela estava ali perto esse tempo todo", revela a produtora Morgana Wyllie, que também veio à Capital para o lançamento do filme. Havia outro nome que os diretores também queriam para o elenco e que faria uma ligação direta com aquele rapaz da plateia de 1920. Tippi Hedren, a atriz protagonista do clássico "Os Pássaros", de Hitchcock, era a escolha do icônico diretor para o papel de Mary Rose no projeto que nunca viu a luz do dia. Na versão de Andrews e Holmes, é claro, não poderia lhe faltar lugar. No entanto, aos 94 anos, ela gentilmente recusou o convite alegando que já estava aposentada das telas.

"Percebi algumas pessoas emocionadas (na sessão) em alguns momentos. Que bom. Não queríamos um filme com sustos, porque no final das contas é a história do drama de uma família”, diz Austin Andrews

Animados pela sessão lotada no sábado, os diretores comentam que acompanhar as reações do público é sempre algo tenso, ainda mais em festivais de gênero, como é o caso do Fantaspoa, onde o público é mais exigente. "Se eles não gostam, eles dizem mesmo", conta Holmes. O resultado, no entanto, foi ainda melhor do que o esperado. "Eu percebi algumas pessoas emocionadas em alguns momentos. Que bom. Não queríamos um filme com sustos, porque no final das contas é a história do drama de uma família", observa Andrews.

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