No ano em que Erico Verissimo completaria 120 anos e que lamentamos 50 anos de sua morte, o Rio Grande do Sul debruça-se em homenagear um dos grandes expoentes da literatura do estado. Na Feira do Livro de Porto Alegre não poderia ser diferente. A 71ª edição do evento que celebra os livros começou nesta sexta-feira, dia 31, e recebe uma programação que celebra a obra do autor de “O Tempo e o Vento”. Entre elas está a exposição “Erico", sediada no 3º andar do Espaço Força e Luz (EFL) (Andradas, 1223).
A curadoria da exposição é da artista visual Graça Craidy e da escritora Marô Barbieri. O texto de apresentação é assinado pelo professor de Literatura Sergius Gonzaga. “O que temos aqui é uma exposição que conta histórias. Ele [Erico Verissimo] se dizia um contador de histórias e nós estamos contando as histórias das histórias dele”, explica Graça.
Após a solicitação da Academia Rio-grandense de Letras para que Graça produzisse uma pintura do busto de Verissimo, a ideia da exposição que abrangesse a vida e obra do escritor surgiu. Porém, a artista não conseguiria preencher uma galeria em tão pouco tempo, assim chamou amigos e desconhecidos, “que acabam por virar conhecidos”, como diz Graça, para colaborar e criar a mostra que agora ocupa a Galeria Incidente do EFL.
Os 47 artistas convidados, entre eles Zoravia Bettiol, Clara Pechansky, Bea Balen Susin, Erico Santos, Magna Sperb, Lucas Strey, Claudia Stern, Liana Timm, Leandro Machado e Umbelina Barreto, mergulharam em 25 livros do autor, reinterpretando figuras icônicas como Ana Terra, Bibiana e Capitão Rodrigo Cambará, de “O Tempo e o Vento”, em diferentes linguagens e materiais: pintura a óleo, em acrílica, nanquim, desenhos a carvão, esculturas em aço corten oxidado e bronze, cerâmica, bordado, colagem, instalação têxtil, pastel oleoso, pastel seco, litografia, xilogravura, arte digital e livro de artista em serigrafia. Essa diversidade traduz a amplitude do universo verissiniano, que abrange o realismo social, o humor, o lirismo e a crítica política.
“O Tempo e o Vento”, obra mais famosa do escritor por seus desdobramentos no mundo das telas, tem uma parede inteira com dez quadros e esculturas, entre eles há representações de Pedro Missioneiro, Bibiana, Ana Terra e Capitão Rodrigo.
Lucas Strey mostra, a partir de uma escultura, outras facetas do romancista: um fato pouco conhecido é que na juventude, em Cruz Alta, sua terra natal, Erico sonhava com um futuro em meio a telas, pincéis e tintas. “Me lembro que naquele tempo eu ainda pensava que podia ser pintor”, recordou ele, em entrevista a Clarice Lispector publicada na revista Manchete, em 1967. Strey explora esse fato transformando um desenho intitulado “Floriano”. Para Graça, a obra “é a consagração do Erico como artista. Porque o Erico deu uma entrevista para a Clarice Lispector, dizendo que o sonho dele era ser artista, ele tinha tintas, papéis e telas. Ele sempre desenhava os personagens que ele ia compor no livro. E esse escultor pegou esse desenho do Erico e transformou numa escultura. Então, nós podemos dizer que o Erico finalmente virou artista”, diz a curadora.
Zoravia apresenta em quatro xilogravuras de 1959 - e impressas especialmente para a mostra - a história da Salamanca do Jarau, lenda gaúcha registrada por João Simões Lopes Neto que inspirou Erico Verissimo a escrever “A Teiniaguá”, parte de seu romance famoso "O Tempo e o Vento". A obra narra a história de uma princesa moura que fugiu da Espanha e se transformou em uma salamandra para escapar.
A literatura infantil de Erico também ganha destaque. "As Aventuras do Avião Vermelho", "Os Três Porquinhos Pobres", "A Vida do Elefante Basílio" e "A Vida de Joana d'Arc" são algumas das obras representadas em quadros.
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