Prince, Warhol e a arte moderna ficam no centro de uma decisão da Suprema Corte dos EUA

Prince, Warhol e a arte moderna ficam no centro de uma decisão da Suprema Corte dos EUA

O caso surge a partir de uma fotografia de Prince, tirada pela fotógrafa Lynn Goldsmith, que mais tarde foi utilizada por Warhol para produzir uma serigrafia

AFP

Suprema Corte do EUA analisa caso de uma obra de arte de Warhol feita a partir de uma fotografia de Prince, tirado por Lynn Goldsmith

publicidade

Os nove juízes da Suprema Corte dos Estados Unidos assumiram o papel de críticos de arte nesta quarta-feira (12), quando debateram se uma fotógrafa deveria ser compensada por uma foto que tirou de Prince e que Andy Warhol usou em um de seus trabalhos.

Em um tom mais leve do que a maioria dos casos que chegam ao tribunal, os argumentos estiveram repletos de referências à cultura pop, que foram do seriado de sucesso "Mork & Mindy" ao filme de terror "O Iluminado", de Stanley Kubrick

O caso, Fundação Andy Warhol para Artes Visuais vs. Goldsmith, pode ter consequências de longo prazo para a lei de direitos autorais dos Estados Unidos e para o mundo da arte em geral. "Há muito em jogo para a expressão artística neste caso", disse Román Martínez, advogado da Fundação, criada após a morte de Warhol em 1987. "Isso tornaria ilegal para artistas, museus, galerias e colecionadores mostrar, lucrar, e talvez até possuir, uma quantidade significativa de obras", disse Martinez. "Isso também esfriaria a criação de nova arte."

O caso surge a partir de uma fotografia em preto e branco de Prince, tirada em 1981 pela fotógrafa de celebridades Lynn Goldsmith. Em 1984, quando o álbum "Purple Rain" estava se tornando um sucesso, Warhol foi convidado pela Vanity Fair para criar uma imagem para acompanhar um artigo sobre o músico na revista. Warhol usou uma das fotos de Goldsmith para produzir uma imagem serigrafada de Prince com um rosto roxo, no estilo de cores vivas que o artista tornou famoso em seus retratos de Marilyn Monroe.

Goldsmith recebeu o crédito e recebeu US$ 400 pelos direitos de uso único. Depois que Prince morreu em 2016, a Fundação licenciou outra imagem do músico feita por Warhol a partir da mesma foto para a editora da Vanity Fair, Conde Nast.

A Conde Nast pagou à Fundação uma taxa de licença de US$ 10.250. Goldsmith não recebeu nada e alega que seus direitos autorais sobre a foto original foram infringidos.

"À mercê de imitadores" 

A Fundação argumentou no tribunal que o trabalho de Warhol foi "transformador" - uma peça original infundida com um novo significado ou mensagem - e foi permitido sob o que é conhecido como a doutrina do "uso justo" na lei de direitos autorais. Lisa Blatt, advogada de Goldsmith, discordou: "Warhol conseguiu a foto em 1984 porque Goldsmith foi paga e creditada".

A Fundação, ela acrescentou, afirma que "Warhol é um gênio criativo que imbuiu a arte de outras pessoas com seu próprio estilo distinto. Mas (Steven) Spielberg fez o mesmo para filmes e Jimi Hendrix para música", disse Blatt. "E esses gigantes precisavam de licenças". Blatt também disse que a Fundação argumenta que “adicionar um novo significado é uma boa razão para copiar de graça". "Mas essa prova iria dizimar a arte da fotografia, destruindo o incentivo para criar a arte em primeiro lugar. Os direitos autorais ficariam à mercê de imitadores."

Vários juízes ficaram desconfortáveis ao serem escalados para o papel de críticos de arte. "Como um tribunal vai determinar o propósito, a mensagem ou o significado de obras de arte como uma fotografia ou uma pintura?", perguntou o juiz Samuel Alito. 

A Suprema Corte ouviu o caso depois que dois tribunais inferiores emitiram decisões divididas, uma a favor da Fundação e outra a favor de Goldsmith. Os juízes emitirão sua decisão antes de 30 de junho.


Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta deste domingo, dia 28 de abril de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895