Medicamento nem sempre é solução para insônia, adverte especialista

Medicamento nem sempre é solução para insônia, adverte especialista

Outras alternativas, como a terapia cognitivo-comportamental, podem contribuir para melhorar o padrão de sono

Correio do Povo

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O Estudo Epidemiológico do Sono de São Paulo, conduzido pelo Instituto do Sono, apontou que 45% das pessoas se queixam de insônia ou dificuldade para dormir na cidade. A mesma pesquisa revelou que 15% dos paulistanos sofrem de insônia crônica. Para vencer a dificuldade de dormir, muitas pessoas tomam substâncias fitoterápicas por conta própria ou mesmo medicamentos de venda livre, como antialérgicos e antieméticos. Contudo, a médica Luciane Mello, do instituto, adverte que essa prática é perigosa porque, além de não tratar o distúrbio de sono, retarda o acesso à terapia adequada.

“O ideal é identificar a causa da insônia. Verificar se o problema foi desencadeado por uma situação difícil - como a perda de um emprego, uma separação ou um luto - ou é resultado de um processo antigo”, explica. “No consultório, avaliamos se o paciente tem uma doença de base ou um transtorno mental”, complementa. Só a partir desta análise, o especialista prescreve o tratamento para cada caso.

Esse problema tem grande impacto sobre a vida das pessoas, porque provoca sonolência diurna excessiva, irritabilidade, agressividade, desatenção, falta de memória, fadiga, baixa produtividade profissional e rendimento escolar. Ela se caracteriza pela dificuldade de iniciar ou manter o sono ou acordar de maneira precoce pela manhã. É considerada crônica quando ocorre pelo menos três dias por semana ou por mais de três meses. 

A insônia é um sintoma de uma enfermidade. É o caso da depressão, da ansiedade e da distimia. Mais de 30% das pessoas com transtornos mentais apresentam esse problema. Nesses casos, o distúrbio de sono e o transtorno mental devem ser tratados simultaneamente por um especialista em sono e um psiquiatra.

Medicamentos 

A médica Luciane Mello afirma que existem medicamentos seguros para tratar a insônia, desde que sejam tomados de forma racional com acompanhamento médico. Dentre as terapias existentes, os especialistas em Medicina do Sono evitam prescrever as medicações pertencentes à classe das benzodiazepinas, que interferem no ciclo vigília-sono, reduzindo o sono profundo.

Ela lamenta que muitas pessoas tomam por anos medicações receitadas por médicos diferentes. Entre esses medicamentos destaca-se o zolpidem, indicado para insônia de curta duração. À medida que a dose inicial perde o efeito, os pacientes vão aumentando a dosagem por conta própria. “Às vezes, chegam a tomar 5 comprimidos por noite ou mais”, comenta a médica.

Terapia cognitivo-comportamental

Um tratamento para a insônia considerado de primeira linha é a terapia cognitivo-comportamental, uma técnica realizada por profissionais especializados em reeducar os pacientes de modo que consigam reaprender a dormir. A terapia tem como base a higiene do sono, um conjunto de práticas que preparam o organismo para dormir.

Os especialistas orientam os pacientes a sair da cama, quando despertam no meio da noite, ficam ruminando ideias e não conseguem dormir. Em outro ambiente, devem se dedicar a uma atividade relaxante (leitura de um livro, meditação ou realizar técnicas de respiração) para que mudem o pensamento e consigam adormecer. “Assim, o cérebro vai associar a cama ao sono e não à insônia”, ressalta Luciane. Ela também dá algumas dicas, baseadas na higiene do sono, para dormir melhor. Confira: 

  • Mantenha uma rotina: estabeleça horários para o sono, alimentação, exercícios físicos, lazer, trabalho e atividades com a família;
  • Não leve o notebook ou celular para cama: o excesso de interatividade e a luz das telas desses aparelhos atrapalham o sono.
  • Desacelere antes de dormir: pelo menos 1 hora antes de deitar, faça uma atividade relaxante - tome banho, leia, ouça música ou faça meditação;
  • Evite alimentos pesados e bebidas com cafeína: faça refeições leves até 2 horas antes de deitar. Não tome café, energéticos e chá preto e outras infusões que contêm cafeína à noite;
  • Atividade física tem hora: pratique exercícios com regularidade, respeitando uma janela de pelo menos 4 horas antes do horário de ir dormir.

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