Tudo que você precisa saber sobre a tendência sportcore

Tudo que você precisa saber sobre a tendência sportcore

Estética que mistura camisas de time com peças clássicas ganha força no Brasil e no mundo

Brenda da Rosa* e Camila Souza

Essência da estética sportcore está na mistura de estilos e tecidos

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As quadras, as pistas e os campos têm inspirado novos atletas nos últimos anos. Com eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas, a força dos esportes reverbera entre atletas e torcida. Mas não é só o próprio meio que é impactado pelo sucesso dessa potência cultural: a moda urbana também se beneficia. Por isso, quando você começar a ver pelas ruas looks que fazem referência aos mais diversos esportes, saiba que esse movimento já ganhou um nome: sportcore.

Ele une roupas no estilo streewear e streetyle, incluindo um item principal: a camiseta de time. Essa peça é importante na composição do visual e não segue uma regra: vale de futebol, basquete e até futebol americano. Até mesmo peças que não são de time algum, mas que lembram a estética dos esportes, como a gola em V, a polo, o modelo oversized e as linhas verticais em duas cores, ganham espaço.

Diferentemente da estética barbiecore, por exemplo, que teve seu auge durante o lançamento do filme “Barbie” e perdeu força rapidamente, o sportcore deve ter um prazo de validade um pouco maior. Isso porque ele chega influenciado por tendências comportamentais.

Segundo a jornalista e especialista em moda Marcella Lorenzon, há um impulso causado pelas Olimpíadas, mas as motivações para o avanço da estética vão além. “De uns anos para cá, temos um movimento muito grande de trazer para o dia a dia peças que a gente considerava mais de prática de esporte”, explica.

A Renner, um dos principais nomes do segmento de lojas de departamento, incluiu o sportcore na coleção de Preview Primavera Verão. Entre as novidades está uma camisa do Kansas City Chiefs, um dos principais times da NFL, a liga de futebol americano dos EUA.

A diretora de estilo da Renner, Juliana Frasca, aponta um fenômeno social que busca pelo bem-estar e saúde física e mental, o que faz com que práticas esportivas, como a corrida, ganhem força. “A moda está sempre atenta a todos esses movimentos, pois ela é um reflexo de como a sociedade está se comportando”, explica.

Um exemplo são os looks de academia que há algum tempo saíram dos espaços de treino e se misturaram a itens clássicos, como camisaria e trench coats. “Agora, vemos essa tendência como algo confirmado através de itens esportivos sendo usados em looks do dia a dia. Entendendo que esses movimentos se confirmaram para a próxima estação, ela entra como uma das nossas apostas para a nova temporada”, ressalta a diretora de estilo.

Marcella Lorenzon complementa, destacando todos os processos e análises envolvidos em uma tendência até que ela chegue nas lojas de departamento. “Para estar na Renner, com toda a hierarquia que a moda tem, significa que já estamos falando para um público muito mais geral. Já passou pelos ‘early adopters’, que viram isso lá no começo e começaram a brincar com uma camiseta de time.”

A jornalista lembra de um fenômeno inusitado que aconteceu em 2023, quando cantoras de K-pop publicaram fotos usando camisas retrô do Guarani. Depois de viralizar, o clube de Campinas lançou, em junho deste ano, uma linha de camisas de edição limitada com referências ao gênero musical asiático. Isso mostra que o sportcore já começou a ganhar força antes mesmo de receber esse nome.

Cantora Rio, integrante da banda japonesa Niziu, com a camisa do Guarani | Foto: Instagram / Reprodução / CP

Apesar de ganhar mais espaço no guarda-roupa da Geração Z, a tendência tem tudo para alcançar outros públicos, que podem aderir de uma forma mais discreta. “Conversa também com os Millennials, de forma mais leve, menos inteira, que não adere tanto assim como uma ‘core’ lá do TikTok, por exemplo”, diz Marcela.

Mas, ainda que saia da “bolha da idade”, o visual ainda deve ficar concentrado em públicos que têm relação com moda ou com criatividade, como nas áreas de design, da música, da arquitetura e da publicidade. “É difícil ver alguém gostar da tendência não tendo nenhuma relação com a moda. Então, o sportcore rompe barreiras de idade, mas ainda é um nicho.”

Sportcore no Brasil e no mundo

O sportcore começou a ser popularizado em 2018, na Coreia do Sul. Na época, ele seguia outra premissa, com o objetivo de ser uma opção de estilo mais casual e despreocupado, sendo, inclusive, nomeado de normcore (coisa de pessoas normais, do inglês). Naquele momento, quem aderia à estética vestia looks vintage com itens dos anos 90 e roupas unissex, com toque retrô e essência esportiva.

Depois, passou a ter semelhanças com o blokecore, que faz referência ao que o “homem inglês comum” costuma vestir: camisa de time, calças largas e tênis esportivos desgastados. Essa microtendência, assim como o sportcore, pretende subverter lógicas de gênero e coloca as mulheres usando roupas socialmente entendidas como masculinas.

Já em 2022, também serviu de referência ao Athleisure (união de “athlete”, atleta em inglês, e “pleasure”, prazer), tendência que diz respeito aos itens de vestuário de quem preza por esportes e conforto no dia a dia, com uso de tops, bonés e tênis esportivos.

No contexto brasileiro, Marcella acredita que o boom das camisetas de time tem raízes passionais. “Temos uma leitura muito forte do esporte no nosso cotidiano, porque somos um país que se envolve muito, principalmente em esportes coletivos. Tem isso da torcida brasileira ser forte, então, a gente ‘veste a camiseta’, ‘veste o manto’ dos nossos times”, analisa.

Por ser uma estética que valoriza peças mais largas, também tem relação com o período de pandemia causado pela Covid-19, quando aumentou a procura por roupas mais confortáveis. “Acho que isso é uma resposta. Apesar de termos uma leva de ultrafeminilidade voltando, tem o outro lado que conversa com o utilitário, como as calças largas, o jeans largo, as modelagens maiores que vieram muito pós-pandemia.”

A presença dos esportes no cotidiano dos brasileiros faz com que a tendência seja mais aceita no país, mas outros lugares também abraçam o conceito. “Outros países falam mais sobre a tendência em si, como a Dinamarca e a França. A Semana de Moda de Copenhagen, por exemplo, apresentou nas passarelas diversos itens que fazem relação com o sportcore, como chuteiras, camisetas oversized e sapatilhas ornadas com camisas polo”, destaca.

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Afinal, como montar um look sportcore?

Tendo a camisa de time como a peça principal para o look, a essência do sportcore está na mistura de estilos e tecidos. Por isso, itens como camisas polo, regata canelada, moletom, saia balonê e sapatilhas podem compor essa estética. “Sportcore é tirar do óbvio. Não é um item só, é fazer esse jogo, misturar a camiseta de time com uma calça de alfaiataria e até um saltão”, diz Marcella.

Veja inspirações:

*Sob supervisão de Camila Souza


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