Gravidez avançada: entenda riscos e alternativas para a maternidade após os 35 anos

Gravidez avançada: entenda riscos e alternativas para a maternidade após os 35 anos

Assunto ganhou repercussão nas redes sociais após o anúncio de gravidez de famosas como Gisele Bündchen e Sabrina Sato

Brenda da Rosa*
Gisele Bündchen e Sabrina Sato são alguns nomes famosos de mulheres que maternaram na casa dos 40 anos

Gisele Bündchen e Sabrina Sato são alguns nomes famosos de mulheres que maternaram na casa dos 40 anos

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Gisele Bündchen, Sabrina Sato, Claudia Raia e Ivete Sangalo são alguns nomes famosos de mulheres que maternaram na casa dos quarenta anos, seja de forma natural ou via métodos de tratamento reprodutivos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de mães entre 30 e 39 anos de nascidos vivos aumentou de 26,1% em 2010 para 34,5% no ano de 2022. Por outro lado, o número de nascimentos registrados em 2022 entre mães com menos de 20 anos diminuiu de 18,5% do percentual em 2010 para 12,1%.

A medicina considera como gravidez tardia toda gestação que ocorre após os 35 anos. Essa nomenclatura é um termo médico para caracterizar um extremo da vida reprodutiva e que tem algumas particularidades de risco, complicações e situações que requerem cuidados maiores.

Apesar da fragilidade do momento biológico, a maternidade para essas mulheres nunca foi tão popular. Segundo o Ministério da Saúde, de 2012 a 2022, o número de nascidos vivos de mulheres com mais de 40 anos aumentou em 55,7%. Neste espaço de dez anos, a estatística saltou de 68.411 para 106.529 mil nascimentos.

A médica ginecologista Simone Mattiello, especialista em reprodução humana na clínica Nilo Frantz, acredita que essa é uma tendência por conta da mudança no perfil social de mulheres no Brasil. “As mulheres têm hoje inúmeros projetos de vida. Querem se formar e ter uma profissão, se estabelecer profissionalmente, viajar e adquirir bens materiais. A gestação continua sendo um projeto, mas foi ficando para depois”, opina.

Ela explica as possibilidades da gravidez tardia, os cuidados e implicações de viver a maternidade em idade avançada. Confira:

Preocupações

“A grande preocupação da gravidez em idade avançada é não conseguir tê-la ou tê-la com algum risco”, diz a médica. Ela explica que a gestação depende dos gametas, ou seja, da junção do óvulo com o espermatozoide, e que as mulheres têm uma limitação biológica caracterizada justamente pelo estoque limitado de óvulos.

Na medida que a idade avança, as mulheres ficam mais perto do fim da reserva. Além da perda do número de óvulos, também há a perda da qualidade deles, o que coloca em risco a possibilidade da paciente engravidar. Em segundo caso, há um aumento do perigo de conceber, mas perder a gravidez ou até mesmo gestar um bebê com alguma síndrome genética.

“Uma gestação nos extremos [precoce ou avançada], aumenta o risco de complicações clínicas como diabetes gestacional, hipertensão e risco de pré câncer, por exemplo”, pontua. Para Simone, a mulher precisa estar ciente que seu relógio biológico tem um prazo.

Congelamento de ovos

O congelamento de óvulos é uma alternativa para quem deseja postergar a gravidez, mas não quer deixar o desejo de maternidade para trás ou correr risco na realização deste projeto de vida. O método acontece quando há o amadurecimento de um grupo de óvulos no ciclo menstrual da mulher através de estímulo hormonal.

Após esse processo, esse grupo é recolhido e fica guardado como uma reserva, que mantém o potencial e a qualidade da idade da coleta. Apesar disso, o congelamento de óvulos não é a garantia de uma gravidez.

“Se eu congelo óvulos com menos de 35 anos de idade, vou ter uma chance maior de ter um bebê em casa. Uma mulher que congela dez óvulos antes dos 35 anos, por exemplo, tem uma expectativa de engravidar em torno de 70%. Agora, se eu congelar dez óvulos aos 39 anos de idade, a chance cai para 30%. Se eu congelar o mesmo número aos 42, a chance cai para 18%. O número de óvulos é o mesmo, o que muda e determina tudo é a idade.”

A ginecologista explica que a cada ciclo menstrual o ovário recruta um grupo de óvulos e esse recrutamento é feito pelos próprios hormônios da mulher. O tamanho do grupo depende do tamanho do estoque, que por sua vez depende da idade da paciente.

“O ideal é amadurecer, em todo ciclo, de cinco a 15 óvulos. Ou seja, para o congelamento, quanto mais óvulos forem amadurecidos, melhor”,

Fertilização in vitro

A fertilização in vitro (FIV) é um procedimento semelhante ao congelamento de óvulos. Neste método, há a chamada “estimulação ovariana”, que ocorre por meio de estímulo hormonal no período menstrual da mulher.

No procedimento, um grupo de óvulos é coletado e fertilizado em laboratório através da junção com espermatozoides. Esse embrião é colocado sob observação por alguns dias, até que seja fecundado na paciente.

A diferença da fertilização em vitro para o congelamento dos óvulos fica em pequenos detalhes durante o tratamento. “Com a FIV podemos fazer uma análise genética do embrião para minimizar o risco de abortamento ou de o bebê ter algum problema de saúde”, destaca.

Fertilização com óvulo doado

Como uma forma de tentar a gravidez em idade avançada, Mattiello sugere uma possibilidade ainda pouco explorada pelas pacientes como um método reprodutivo: a doação de óvulos, que pode ser feita por vias anônimas ou não.

Este método acontece quando todas as outras possibilidades foram frustradas. “Quando nada deu certo, a mulher pode receber um embrião doado. Isso acontece quando a clínica seleciona essa doadora baseado em características físicas da paciente. Buscamos alguém que tenha similaridades físicas com essa mulher, mandamos o perfil e ela aprova ou não.”

Se a paciente tem um parceiro, os óvulos são combinados com o sêmen, para então os embriões serem transferidos para o útero da paciente. Segundo ela, essa é uma opção para pacientes já na menopausa.

Fertilização com embrião doado

A outra possibilidade é a doação de embriões que resultam de ciclos de fertilização in vitro, de casais que tiveram embriões excedentes e que não vão mais utilizá-los, então deram como destino a doação.

Dentro deste método, ainda existe a possibilidade de doação intrafamiliar, em que a paciente pode receber óvulos de alguma familiar em até quarto grau: prima, irmã, sobrinha. É a única forma em que a doação não é anônima.

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Acesso aos tratamentos

Escolher gestar mais tarde implica em um planejamento financeiro para investir em tratamentos reprodutivos. Para Simone, este ainda é um impeditivo expressivo no acesso aos procedimentos para gravidez em idade avançada.

“As técnicas de reprodução assistida são muito caras, assim como a estrutura e os equipamentos também são caros. Ainda é um custo elevado e isso limita o processo de uma boa parcela da população“, reflete.

Tanto o Sistema Único de Saúde (SUS) quanto os convênios particulares não cobrem o tratamento. Ambos só custeiam os exames iniciais, mas não o método em si. “Já existe tratamento pelo SUS aqui em Porto Alegre, mas chegar lá ainda é difícil. Tem que passar pelo posto de saúde, sendo referendado por ele para então chegar no hospital e entrar dentro do processo. É possível, mas dá trabalho e gera limitação.”

Para ela, será um caminho custoso até que esses recursos sejam considerados uma preocupação na saúde pública. “Eu trabalhei em um hospital público em Porto Alegre e ajudei a montar o serviço de reprodução da instituição. É uma batalha, os recursos são limitados e disputamos espaço com a oncologia, UTI, outros tratamentos Provar que isso é importante para a sociedade e para as famílias é uma batalha diária”, observa.

Ela lembra que muitos países na Europa custeiam e incentivam as mulheres a fazerem os tratamentos, mas admite que não consegue projetar um cenário similar para o Brasil.

Recomendações e cuidados necessários

A ginecologista pontua que apesar de cada experiência ser individual e precisar ser assistida com cuidado, algumas recomendações perpassam toda e qualquer gestação, sendo ela de forma espontânea ou via métodos de tratamento reprodutivo.

Para ela, planejamento financeiro, bons hábitos alimentares e um pré-natal de qualidade são cuidados básicos para a mulher que deseja gestar e também para o desenvolvimento do feto.

“Por meio desses cuidados, podemos estar atentos e identificar precocemente possíveis riscos e intervir para minimizá-los durante a gestação“, diz.

Considerando o prazo da saúde reprodutiva, ela recomenda o diálogo frequente com o ginecologista para além dos exames de rotina. “Falar não só de anticoncepção, é preciso falar sobre planejamento reprodutivo e encaixar dentre os projetos de vida, para não chegar no momento de tirar o desejo do papel e se deparar com falta ou qualidade dos óvulos e que isso resulte numa gestação não saudável”, finaliza.

*Sob supervisão de Camila Souza


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